Um sombrero sob medida

O México tem tudo para o transformador brasileiro descobrir a internacionalização
O México tem tudo para o transformador brasileiro descobrir a internacionalização

Trecho de reportagem na edição de 1/7 do Valor Econômico – “Um número crescente de empresas brasileiras tem investido no México, como forma de estar mais perto do mercado americano. Na semana passada, a Frasle Mobility anunciou a compra da Kuo Refacciones, fabricante mexicana de autopeças por R$2,1 bilhões (…). Outras empresas, como Gerdau e Weg, também têm apostado nessa aproximação. Esse movimento é conhecido como ‘nearshoring’, que consiste na realocação de operações industriais para países vizinhos. Considerando apenas os anúncios mais recentes, serão mais US$ 900 milhões em investimentos brasileiros (este ano) no México”.

Até o fechamento desta edição, este montante estimado não acusava um centavo sequer vindo de transformador brasileiro de plástico (médio ou grande, óbvio). No plano geral da categoria, o histórico demonstra a aversão desse empresariado à ideia de internacionalizar atividades para além de suas restritas exportações à vizinhança sul-americana. Uma viseira explicada pela fixação no consumo interno, mesmo com crônico baixo crescimento e alta instabilidade, ou então, por formação cultural da qual a internacionalização do negócio não faz parte – exceto quanto a importar matérias-primas e equipamentos.

Mas a referência do México sublinha que a página desse perfil, tão amarelada e enrugada pelo correr do tempo, urge ser virada e o transformador brasileiro depara dessa vez com um país latino em arrancada linear e bem similar ao nosso em hábitos, costumes e língua Direto ao ponto: há pouco mais de dois anos o México divide com a Índia o estrelato no planeta como ímã para indústrias do setor plástico empenhadas em acertar o passo com um ajuste-chave na globalização: em lugar de operar num local competitivo para atender a demanda mundial, caso da China entre 1993 e 2021, voltar a produzir no país de origem (reshoring), como os EUA, ou transferir linhas de produção, em especial da Ásia e Europa, para perto de grandes mercados (nearshoring).

A proximidade da América do Norte, acordos de livre comércio, mercado aberto e regras estáveis têm catapultado a economia mexicana. Como a demanda por plásticos é um refletor da melhoria da qualidade de vida empoleirada nesse horizonte azul, estão hoje em erupção no México as fábricas de transformadores e seu consumo aparente de resinas (na faixa de 7 milhões de t/a) já se equipara ao do Brasil e, pelo andar da carruagem, periga superá-lo a curto prazo. Outros charmes: no ano passado, o México tirou da China a liderança na exportação de manufaturados aos EUA e, em abril último, correu mundo a previsão de que o país está prestes a virar o nº3 do planeta em autopeças. Não é à toa que, numa extensão dessa grandeza para o setor plástico, o México venha recebendo fábricas de astros em injetoras, como Haitian e Engel, e de sistemistas da nata das peças plásticas, tipo Faurecia e Mega.

O país tem pontos fracos: suprimento precário de água, energia e pessoal qualificado; alta criminalidade, compadrio e recaídas do governo no populismo etc. Mas os investidores passam por cima desse senões diante da oportunidade de atender com facilidade o cliente ideal, o mercado norte-americano, à sombra dos custos de produção competitivos, abertura econômica e da solidez da regulamentação e do cumprimento dos acordos de livre comércio. Daí o desembarque no México de US$ 1.997 bilhão de investimentos diretos externos em 2023.

No pano de fundo do atual eldorado mexicano, o pulo do gato é a construção de um ambiente para negócios confiável e estável, sem jabutis, penduricalhos, protecionismos, regras e leis mutantes, dólar assustadiço e nós cegos tributários. Ao partir para internacionalizar sua operação pelo México de hoje em dia, o transformador brasileiro vai decerto desfrutar tudo o que o Brasil poderia ser – se realmente quisesse. •

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