“A geopolítica volta a fragmentar a economia global que, por sua vez, deixou de ser a mola mestra das decisões. Desse modo, a indústria química e seus investidores precisam focar os riscos geopolíticos pela frente”. Com este alerta, Paul Hodges, CEO da consultoria New Normal clama em seu blog no portal Icis pela aposentadoria do posicionamento adotado pelo setor dos anos 1990 a 2021, quando China e EUA resumiam o andar do mercado.
Um sinal da premência com que a indústria química precisa captar as mudanças em andamento, insere Hodges, são as surpresas que vieram à tona no as principais regiões do mercado mundial neste primeiro semestre. “Em regra, a metade inicial do ano é um período aquecido para o setor porque as companhias desovam estoques antes do Natal e precisam renová-los após a parada geral de fim de ano para coexistir com o pico da demanda tão logo o tempo melhore com o fim do inverno no Hemisfério Norte e setores como construção e automotivo tornem a deslanchar, tal como ocorre com a demanda asiática após o Ano Novo Lunar (entre janeiro e fevereiro)”.
No entanto, ao contrário do que diz a marchinha de carnaval, este ano não vai ser igual aquele que passou. Hodges retoma o fio assinalando que, sob o prisma da demanda aparente, o mercado tem estado robusto neste primeiro semestre. Os preços do petróleo subiram e usuários, setor químico incluso, formaram suprimentos por precaução, convictos de que seus preços acompanhariam a subida do barril. Mas o período marcou por senões inusitados: ataques dos houthis atrasaram importações europeias ao fechar a rota do Mar Vermelho; b) problemas de operação no Canal do Panamá e c) compradores de petróleo fizeram estoques preventivos, na expectativa de que os preços dos químicos evoluiriam à sombra do barril. Hodges corta o panorama reiterando, com base em dados globais da consultoria Icis, que a demanda real não cresceu no primeiro semestre e os preços internacionais do petróleo mostram-se neste período, 22% abaixo do pico aferido em 2022. “Os preços do Nordeste da Ásia estão 19% inferiores, enquanto os da União Europeia e dos do Golfo dos EUA, andam, respectivamente, 24% e 31% abaixo do nível máximo de três anos atrás”.
Hodges pressente pela frente um tenso nevoeiro de incertezas e um ponto-chave das incógnitas atende por China. “O país sofre com a grande desaceleração e precisa se reestruturar para reerguer o consumo interno, mas busca essa reação tentando incrementar as exportações para criar empregos, elevando assim o risco de guerra comercial mundial”, adverte o consultor, sublinhando o atual descolamento das economias chinesa e ocidental.
Esse fogareiro de interrogações leva Hodges a crer que o mercado retornou aos tempos cinzentos da Guerra Fria, de antes da queda do Muro de Berlim, em 1989. Nesse quadro, ele antevê a inflação pender para piorar, na garupa dos gastos militares da Europa/EUA contra Rússia e aliados no conflito na Ucrânia (à parte o risco de piora das convulsões no Oriente Médio), penalizando assim os recursos disponíveis para gastos primordiais, como saúde pública. No arremate, Hodges antevê a proliferação internacional de barreiras tarifárias e a constituição de blocos regionais para disputa numa guerra comercial geral.