Excedente global de PE e PP: reações dúbias das petroquímicas

Mercado presencia cortes e expansões simultâneos das capacidades
Excedente global de PE e PP: reações dúbias das petroquímicas.

A julgar por seu comportamento diante do mega excedente global de PP e PE, a indústria petroquímica quer reescrever a lei da oferta e da procura. O estopim dessa pretensão foi aceso em 2021, quando aquela página dos PIBs de dois dígitos da China, maior importador mundial de matérias-primas, foi virada por projeções de crescimento anual de 1-3% doravante, por conta da economia deteriorada pelo colapso imobiliário, desarranjo nas contas públicas, desemprego e perda de renda de uma população dominada por idosos. Tem mais: nesse ínterim, a China ganhou autossuficiência na produção de PP, passando a exportador constante do termoplástico – tal como deve acontecer em breve em PE –, piorando portanto a super sobra de poliolefinas no planeta.

Uma ala da petroquímica global parte então para cortar capacidades, em prol do reequilíbrio entre oferta e demanda. Com esse espírito, medalhões como Sabic, LyondellBasell e ExxonMobil miram a Europa, fragilizada desde a guerra na Ucrânia, por abrigar crackers de eteno e fábricas de PP e PE antigas, defasadas em escala e tecnologia e dependentes de matéria-prima (nafta) e energia (gás natural liquefeito) a custos impraticáveis na conjuntura atual. Mas a lógica desse movimento de racionalização periga escorrer para o ralo, pois o tamanho dos cortes realizados ou em vista perde para o das expansões em poliolefinas engatilhadas, em particular, na Ásia.

Jorge Bühler-Vidal, diretor da empresa Polyolefins Consulting, desvenda em seu relatório de maio um viveiro de licenciamentos de tecnologias para produção asiática de PP e PE. Uma referência é a carteira de recentes acordos ali firmados pela LyondellBasell, justo uma das petroquímicas que mais buzinam a intenção de fechar unidades de poliolefinas suas (na Europa) consideradas sem chance de sobrevida no convívio com o excedente global.

No Oriente Médio, a Lyondell informa que a petroquímica saudita Alujain National Industrial Corporation selecionou sua tecnologia Spherizone para futura planta de 500.000 t/a de PP. Na Índia, a mesma licenciadora teve seu sistema Hostalen Advanced Cascade Process (ACP) aprovado para projetada fábrica de 200.000 t/a da companhia Indian Oil Corporation. Na China, a LyondellBasell teve sua tecnologia Luptech T escolhida para futura unidade de 200.000 t/a de EVA da Jhiangsu Fenghai High-Tech Materials. Por seu turno, a petroquímica chinesa Dongming Shenghai Co. tornou-se licenciada da LyondelllBasell para a tecnologia Sheripol de futura planta de 350.000 t/a de PP, para a tecnologia Hostalen ACP de idealizada unidade de 400.000 t/a de PEAD e para o sistema Lupotech T para planta projetada de 200.000 t/a de EVA. Já a Inner Mongolia Rongxin elegeu as tecnologias Sheripol e Hostalen ACP para rodar futuras fábricas de 500.000 t/a de PP e 400.000 t/a de PEAD. Essas mesmas tecnologias licenciarão as duas programadas unidades de 300.000 t/a cada uma, para PP e PEAD da China Coal Shaanxi Yulin Energy, que também aprovou o sistema Lupotech T para o funcionamento de agendada planta de 250.000 t/a de EVA. A fieira de acordos tecnológicos chineses da Lyondell Basell fecha, no relatório da Polyolefins Consulting, com os licenciamentos firmados com a PetroChina Jilin Petrochemical Company para a tecnologia Lupotech T em dois futuros trens de PEBD/EVA, totalizando 400.000 t/a, e para o processo Hostalen ACP turbinar uma projetada capacidade de 400.000 t/a de PEAD.

O levantamento do consultor Vidal também menciona que a China contemplou a norte-americana W.R. Grace com o licenciamento de sua tecnologia Unipol PP para o desenvolvimento de um reator de 400.000 t/a que a PetroChina Guanxi pretende ativar em 2026. Unipol PP também foi o processo preferido pela China Coal Shaanxi Energy & Chemical para dobrar para 600.000 t/a sua capacidade da resina em 2025.

Fora do cercado da China, o estudo distingue o recente licenciamento, pela texana Univation Technologies, de seu processo Unipol PE para quatro trens de duas petroquímicas. Na Coreia do Sul, a tecnologia será a alma de três linhas, cada uma de 400.000 t/a, da S-Oil Corporation. No Cazaquistão, a companhia Seleno LLP aderiu ao esquadrão de licenciados de Unipol PE para acionar futuro reator de 625.000 t/a de PEAD (graus bimodais filme e sopro) e PEBDL, finaliza o rastreio da Polyolefins Consulting.

John Richardson, analista blogueiro da consultoria Icis, ruminou em pensata recente sobre o resultado, no negócio das poliolefinas superofertadas, da conjunção de três meteoros: as tendências das tensões comerciais, da sustentabilidade (repressora para descartáveis plásticos) e da substituição da política global de suprimentos com base na China por dois modelos: nearshoring, de unidades próximas dos grandes mercados (caso do México atendendo América do Norte), e reshoring, retorno de operações no exterior aos países de origem, caso da volta aos EUA de unidades de indústrias americanas seduzidas pelas facilidades e incentivos fiscais homologados por Joe Biden. Richardson saca nesses sinais que os mercados petroquímicos caminham para se tornar cada vez mais regionais. “Por causa disso”, ele arremata, “alguns dos novos e grandes projetos petroquímicos desenhados para se impor como exportadores podem vir a ser questionados”.

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