No ano passado, o consumo per capital de plásticos na Argentina, projetado em 43,5 quilos, ficou furos abaixo dos 46,3 quilos em 2011. Nessa queda livre, no sumiço dos investidores, e no recuo da ordem de 8,2% no consumo aparente anual de resinas em 2014, calculado em 1.605.950 toneladas, afloram as sequelas na cadeia do plástico infligidas por uma economia feita em cacos, tratada como pária pelo mercado internacional, em oito anos de Cristina Kirchner na Casa Rosada. Na entrevista a seguir, escorada nos indicadores dos materiais em 2014 a cargo da Cámara Argentina de la Industria Plastica (CAIP), o analista argentino Jorge Bühler Vidal, presidente da consultoria Polyolefins Consulting, esquadrinha o drama no país vizinho e torce pela virada no jogo com as eleições presidenciais em outubro.
PR – Qual a justificativa para o consumo aparente de todas as resinas em 2014, fixado em 1.605.950 toneladas, ter sido o pior em cinco anos na Argentina?
Vidal – Nos últimos três anos, o crescimento da economia argentina tem sido muito baixo. Em 2014, em particular, o PIB ficou abaixo do aferido em 2011 e, aliás, se projeta situação idêntica para o exercício de 2015 (ver quadro ao lado). O próprio PIB per capita atual perde para o registrado quatro anos atrás.
PR – Qual o impacto da insuficiência de energia e gás no país sobre o índice de ocupação da capacidade instalada de resinas em 2014?
Vidal – Efetuados há vários anos os cortes de gás natural para uso industrial converteram-se em evento habitual nos períodos mais frios do inverno e mais quentes do verão. Como esta dificuldade tornou-se previsível, as paradas de manutenção das plantas de resinas acabaram determinadas para tais ocasiões, estratagema pelo qual se minimiza a perda de produção.
PR – A Dow divulgou a intenção de expandir seu complexo de polietilenos (PE) em Bahia Blanca com base no aumento da oferta de gás natural por ser extraído das reservas de Vaca Muerta. Qual a viabilidade econômica dessa ampliação diante do esperado crescimento das vendas na América no Sul, nos próximos anos, de PE obtido nos EUA da rota do shale gas a preços competitivos?
Vidal – Há vários anos a Dow planeja expandir sua capacidade em Bahia Blanca, mas até a situação assegurar que haverá um fornecimento abundante e contínuo de gás natural, este aumento não sai, nem com novas fábricas nem por meio de incremento da estrutura existente. Pode-se especular que um futuro aumento de capacidade poderia incluir uma expansão no cracker de eteno existente e novas linhas de produção em Bahia Blanca.
PR – Desse modo, tudo fica como está até segunda ordem?
Vidal – Ao longo de 18 meses a partir deste ano, a a Dow pretende ampliar sua capacidade e melhorar as tecnologias e equipamentos em suas quatro linhas de produção de PE em Bahia Blanca: PEBD pelo processo tubular Arco; PEAD pelo processo em suspensão Hostalen; PEBDL/PEAD pelo processo fase gas Unipol e PEBDL/PEAD pelo processo em solução Dowlex. Segundo a empresa, esses investimentos, orçados em cerca de US$ 33-35 milhões, a permitirão produzir resinas de alto rendimento para embalagens flexíveis e rígidas e satisfazer a demanda crescente por elas na América Latina. Trata-se de um aporte respeitável, mas insuficiente para incrementos dramáticos de capacidade .
PR – Mas qual deve ser a dimensão dessa ampliação?
Vidal – Não foi detalhada. A Dow indicou que a planta de PEBD será modificada para permitir a produção de resinas para revestimento por extrusão (extrusion coating). Por sua vez, a expansão acalentada para a unidade licenciada pelo processo Hostalen impulsionará o crescimento de resinas bimodais para sopro, cuja oferta a Dow percebe carente na região. Já a unidade adepta da tecnologia Unipol, produtora de grades para geomembranas e tubos, também passará por mudanças para aprimorar a produção. Por fim, o desgargalamento em vista para a planta Dowlex contemplará a empresa com mais participação das resinas lineares base octeno (Dowlex) e base metaloceno (Elite) nos mercados de embalagens de alimentos e higiene pessoal.
PR – O plano se sustenta diante dos preços internacionais?
Vidal – O complexo argentino da Dow tem custos de produção competitivos, pois baseados em gás natural de fontes convencionais. Tão logo se resolva o problema da escassez local de gás natural e seu fornecimento seja suplementado pela disponibilidade do gás de xisto, é esperado que os custos de matéria-prima petroquímica aumentem, mas permanecerão competitivos com os provenientes de produtores norte-americanos.
PR – Mexichem declarou não ter interesse em comprar a Solvay Indupa, produtora de PVC no Brasil e Argentina. Qual a possibilidade agora de ela ser vendida?
Vidal – Creio que, eventualmente, o grupo Solvay venderá essas plantas a preço considerado aceitável pelo mercado. O futuro comprador, aliás, poderia ser a Mexichem , numa transação em condições mais favoráveis.
PR – A Petrobras tem chances de vender suas pequeninas unidades de estireno e poliestireno na Argentina, de acordo com sua recente política de se desfazer de ativos não estratégicos?
Vidal – Compreendo o interesse da Petrobras em vender a planta de General San Martín para melhorar seu fluxo de caixa. Mas não consigo identificar uma empresa que se candidate a adquirí-la.
PR – Qual o futuro da petroquímica e transformação de plástico da Argentina se o candidato do governo Kirchner ou algum da oposição vencer as eleições presidenciais em outubro próximo?
Vidal – Espera-se um voto de confiança no país quando uma nova administração substituir o governo de Cristina Kirchner. Os candidatos com mais possibilidades de obter a presidência são Mauricio Macri, do partido PRO; Sergio Massa, do Frente Renovador e alguém do FPV, como Daniel Scioli e Florencio Randazzo. De todos Macri é, possivelmente, o mais desvinculado das políticas e corrupção generalizada, geradora de resultados tão desastrosos nos últimos anos. Reúne condições de proporcionar estabilidade política e legal, melhorando assim a situação econômica. O candidato oficial do FPV enfrentaria muita oposição interna se quisesse mudar a direção da administração do país e, por fim, Sergio Massa estaria num ponto intermediário entre Macri e o FPV. •