No século passado, máquinas da China eram relegadas, nas feiras europeias do plástico, às áreas mais afastadas e escondidas dos pavilhões. Nesse período, a hipótese de uma indústria chinesa adquirir alguma joia da coroa dos equipamentos alemães era encarada com tanta descrença quanto a possibilidade de o Palmeiras vir a ganhar o Mundial de Clubes. Corte para hoje: seis meses depois de declarar-se legalmente insolvente, a alemã Kautex Machinenbau GmbH, medalhão mundial em sopradoras por extrusão contínua, teve em 9 de janeiro anunciada na mídia a venda de seu controle à indústria familiar chinesa Suzhou Jwell Machinery Co. Ltd. O montante da transação não foi revelado, mas envolveu o complexo fabril em Bonn, a operação de vendas e assistência em Berlim e três subsidiárias independentes na Índia, México e Rússia. Legalmente apartada da matriz, a subsidiária da Kautex em Shunde, na China, não integrou a negociação.
Conforme foi divulgado, a Jwell se apresenta como líder na construção de extrusoras na China. Na ativa desde 1997, ela produz equipamentos como teares e extrusoras para compostos, reciclagem, chapas e tubos. Opera sete plantas na Ásia, possui cerca de 3.000 funcionários e exporta para 120 países, Brasil inclusive.
Por sua vez, a Kautex foi constituída sob controle familiar em 1935, tendo debutado na montagem de sopradoras de tubos de PVC em 1949 e, cinco anos depois, lançava as versões dessas máquinas para fornecer contêineres de até cinco litros. Desde 2018, seu maior acionista era o fundo privado austríaco Plastech Beteiligungs GmbH. No ano passado, a Kautex justificou na imprensa sua quebra como resultante de uma mixórdia de fatores desconexos, entre eles pandemia, insuficiência de mão de obra qualificada na Alemanha e o desmaio da economia europeia com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Nada foi mencionado a respeito da ascensão mundial da China.