Por ser o monômero para poliolefinas, as resinas mais empregadas nos malvistos produtos plásticos de uso único, e por liberar gigantescas toneladas de gases de efeito estufa em sua produção convencional, eteno é um petroquímico básico excomungado pelo ambientalismo talibã. Além do mais, depende de fontes fósseis para a energia utilizada em seu processamento e para insumos-chave em sua composição (gás natural ou nafta). Essas credenciais de carbono intensivo inspiraram a CERT Systems, startup incubada na Universidade de Toronto a dar um chega pra lá na tradicional rota produtiva com uma tecnologia à margem do petróleo e passível de ganhar escala comercial, relata reportagem no site do diário britânico The Guardian.
O mapa da mina é norteado pela eletroquímica, revela na matéria Christine Gabardo, Chief Technology Officer (CTO) da CERT. Sua equipe criou eteno a partir do processo de eletrólise de dióxido de carbono realizado em temperatura ambiente e cuja única energia aplicada é a eletricidade de fonte renovável. O catalisador concebido emprega cobre como base e, assinala a pesquisadora na reportagem, separa água e dióxido de carbono e, a seguir, os converte em hidrocarbonetos como eteno e demais subprodutos passíveis de uso em diversos processos industriais. Por esta sacada, a CERT já abocanhou subsídios do governo canadense para ampliar a eficiência energética e durabilidade de sua tecnologia e, para transpô-la para operação em larga escala. Embolsou ainda recursos da Breakthrough Energy Foundation, entidade subvencionada por Bill Gates.
Escala é questão nevrálgica nessa empreitada pois, como atesta o artigo no The Guardian, a produção de eteno petroquímico é barata (razão de suas capacidades avantajadas). Seu preço baixo refreia a industrialização de outras tecnologias, ainda inexistentes na praça global, para gerar o monômero dentro do figurino da sustentabilidade.
A CERT Systems tem uma pedreira pela frente para conseguir botar seu achado na vitrine das tecnologias licenciáveis e viáveis. Afinal, como atesta a consultoria Icis, mais um vagalhão mundial de capacidades de eteno entra em campo no período 2026-2028, totalizando 27 milhões de toneladas do petroquímico básico, turbinadas em especial por projetos assegurados na China e Oriente Médio. Nos cálculos desatados pela Icis, a indústria global de eteno vai precisar, então, de decepar um naco de 18 milhões de toneladas da sua capacidade para rodar com ocupação mínima aceitável de 85%. O corte equivale à demanda de eteno aferida na Europa em 2023. Em decorrência, os analistas das ICIS antevêm o risco de alastramento mundial de um comportamento habitual na petroquímica brasileira: a adoção de barreiras comerciais para proteger plantas de eteno e derivados antigas e menores, sem o nível de competitividade econômica internacional hoje exigido.
Para engrossar o caldo, o time da Icis prevê a vigência nos próximos anos de uma conjuntura global de depressão na cadeia do eteno, com baixas taxas operacionais e de rentabilidade, situação indutora de movimentos de fusões e aquisições entre players mais vulneráveis (não verticalizados upstream). E para elevar o suor dos cientistas devotos da sustentabilidade, como os da CERT Systems, os radares da Icis também chamam a atenção para a gradual estreia na Ásia e EUA de processos industriais mais simples, econômicos e carbono neutro que as rotas atuais, processando o óleo cru diretamente em químicos como eteno, sem etapas intermediárias.