Ainda não é um quadro de estouro da boiada, mas onde há fumaça há fogo. Após anunciar no ano passado, o fechamento de uma planta de estireno na Alemanha, a norte-americana Trinseo voltou à carga em agosto último, comunicando à praça o fim de linha para outra unidade sua do monômero, na Holanda. Nessa mesma pegada, a Celanese, outro pilar dos EUA em polímeros, acaba de ventilar ao público a decisão de desligar, em 2024, uma fábrica de PA 6.6 e náilons de alta performance na Alemanha. Com esses cortes na carne, a Celanese projeta economizar US$110-125 milhões e custos mundiais de produção no próximo ano fiscal. Já a Celanese, projeta poupar US$75 milhões anuais com a desativação da planta holandesa de estireno e de três unidades de chapas acrílicas- na Dinamarca, Itália e EUA.
Segundo raro consenso dos analistas, a raiz do drama de estireno e PS é o excedente mundial gerado nos últimos anos e comandado pela Ásia, com óbvio destaque para a China. Segundo a consultoria Icis, entre 2021 e 2022 novas plantas do monômero e polímero estavam com partida programada na China, totalizando capacidade da ordem de 3.5 milhões de t/a. Para a consultoria SPP Global, a capacidade chinesa de estireno cresceu ao redor de 6.8 milhões de t/a em 2021. Entra em cena um cruzamento de sofrências em pleno vigor: superoferta trombando com economia mundial em recesso e puxando para o piso mercados decisivos, em particular em bens duráveis, para a saúde financeira de estireno e PS. Para piorar o enrosco, no segmento de embalagens de alimentos e descartáveis, PS permanece repudiado nos breviários da sustentabilidade global, pelos baixos volumes até hoje reciclados e por sua incompatibilidade química para ser recuperado em mistura com as concorrentes poliolefinas, estas reprocessadas em escala muito maior.
Outras tinturas delineiam o roteiro cujo desfecho é a prometida saída de cena da planta alemã de PA 6.6 da Celanese. A voz corrente dos consultores julga que, nos últimos anos, o mercado mundial de PA 6 e sua co-irmã PA 6.6 tem amargado baixo crescimento e preços oscilantes, ao sabor da disponibilidade volátil e encarecimento de matérias-primas do polímero. Em entrevista concedida este ano a Plásticos em Revista, Danilo Micheletti, chefe operacional executivo da italiana Radici, maseratti mundial em PA, afirmou que a conjuntura atual do setor converge para operações de concentrações de capacidades entre os integrantes. para manter o nível de competitividade, participação de mercado e proteção contra o ingresso em cena de mais players. No plano específico de PA 6.6 Cesare Clausi, gerente de vendas globais para polímeros de alta performance da Radici, observou na mesma entrevista que, considerando-se os novos investimentos em curso na China e desgarlamentos em outras regiões, a oferta e demanda do insumo-chave adipronitrila estão hoje em condições ok de nivelamento e preços. No entanto, ele previu na ocasião, a fraca demanda internacional de PA 6.6, em especial na Europa, decerto perturbará esse balanço a curto prazo.
A União Europeia mal das pernas é a carpideira dos funerais de indústrias no continente. Sumarizado no site Sustainable Plastics, relatório do Banco Central da zona do euro espera 0,7% de (na falta de palavra melhor) crescimento do PIB do bloco este ano, resultado das condições estritas para financiamento e preços altos para a demanda europeia e demanda externa enfraquecida para respaldar exportações do Velho Mundo, razão também da contração industrial atazanando países como Alemanha. O mesmo estudo projeta para 2024 PIB de 1% na UE e de 1,5% em 2025.
Pesquisa do alemão Rabobank, repassada pelo mesmo portal Sustainable Plastics, atenta para os preços de energia como entrave e causador de riscos sérios para a economia da Europa. Mesmo com os preços internos do gás caindo, tal como ocorre nos EUA, e com as importações europeias crescentes de gás natural liquefeito, os custos desse insumo mostram-se estruturalmente mais elevados que os do gás remetido por dutos, avalia o banco, devido aos gastos onerosos com liquefação, transporte e regaseificação. As cotações da energia têm minado, aponta o Rabobank, a produção de setores europeus como os de químicos e metais e, se estes preços não retornarem a níveis palatáveis, o banco pressente que parcelas da produção dessas indústrias não devem voltar à normalidade pré-pandemia. Das portas cerradas nas fábricas da Trinseo e Celanese transparece um silêncio eloquente.