Antes que seja tarde

Fábricas inteligentes ameaçam a indústria de transformação brasileira

Como a automação vai mudar a economia e o mercado de trabalho? Quais os efeitos da robótica e inteligência artificial sobre o futuro da manufatura? Quais as implicações do avanço da automação fabril sobre os países emergentes nos próximos anos?
No passado, perguntas desse tipo não atraíam público no Brasil e acabavam em divagações de futurólogos de ibope abaixo da TV Senado. Entre as razões para o nosso alheamento, constava aquele intervalo de décadas para uma tecnologia migrar dos países desenvolvidos para os sub. Corte para hoje: a informação virtual e as entrelaçadas cadeias globais de valor e produção derrubaram esse muro e o Brasil não pode mais, como tanto o fez no século XX, dar uma de avestruz. Ou seja, fechar-se em seu mundinho e abstrair-se da realidade.Se insistir, pode começar a contagem regressiva para sua indústria de manufaturados, artefatos plásticos entre eles, entrar em coma induzido por falência múltipla dos órgãos.
Aliado ao compartilhamento global da informação digitalizada, da compra de um produto ao seu manual, o progresso computacional e da automação resulta em ciclos de vida cada vez menores para as tecnologias e em busca crescente pela produção sob medida. Esse jogo de forças explica o frêmito em torno da ascensão das fábricas inteligentes. Nelas, empregos de funções repetitivas viram espécies em extinção, linhas de montagem e produtos “dialogam” ao longo do processo e as máquinas estão cada vez mais produtivas, velozes e baratas, quando não encadeadas a outras etapas fabris, caso de recém lançada sopradora com funções acopladas de envase e vedação da embalagem.
Na selfie do momento, o Brasil joga na série B dos rankings mundiais de competitividade industrial, efeito de lombrigas como um parque de máquinas de manufatura com idade estimada de 17 anos, muito acima do padrão aceitável. Os buracos negros prosseguem na falta de qualificação da mão de obra. Mas o que esperar de um país de educação em petição de miséria?  Deu no que está dando sob Dilma 2.0.
Tem mais: o acesso e os custos de financiamento para se conseguir tecnologia atualizada varrem esse objetivo para baixo do tapete da indústria brasileira, defasagem  fertilizada também pelo fechamento da nossa economia. São provas dessa viseira as tarifas de importação ultra acima da média mundial, a teima do governo em dar as costas ao mundo em prol do Mercosul aos cacos, a imposição de conteúdo nacional para a produção industrial, a “burrocracia” e um sem fim de barreiras tornadas obsoletas pela informática e o mapa mundi das etapas das cadeias de manufatura. O Brasil está fora delas e sua indústria estrebucha por falta desse oxigênio.
Para entornar o caldo, a fatia da indústria de transformação desaba no PIB brasileiro. Foi deixada para trás pelo setor de serviços, hoje alvo dominante dos investimentos e do pessoal qualificado atrás de trabalho. Muito antes da crise atual, as empresas transformadoras de plástico já refletiam essa aversão às fábricas como um todo, penando horrores para cativar gente preparada. Afinal, a indústria é identificada pelos jovens como lugar de emprego monótono e de pouco espaço para bombar na criatividade digital. Enquanto isso, a largada das fábricas inteligentes arrebata talentos da nova geração no Primeiro Mundo e, na garupa da globalização da produção e comércio, caminha para encurralar a indústria brasileira – a menos que o país perca a mania de conjugar o passado no presente. •

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