“Confidência do Itabirano” é um poema em que Carlos Drummond de Andrade conta como a cidadezinha mineira onde nasceu e morou poucos anos pesou na sua maneira de ser e virou poeira da memória. “Itabira é apenas uma fotografia na parede”, conclui o poeta. “Mas como dói!”
Na selfie de hoje em dia, a indústria caminha para virar a Itabira da economia brasileira. Na partilha das atividades no PIB estático no ano passado (0,1%), o setor de serviços respondeu por 71%; agropecuária, 5,6% e, quanto à indústria, respondeu por 23,4% contra 34,5% em 1982. Portanto, o Brasil tornou-se uma economia de serviços e a indústria, apesar de ter recebido estímulos, subsídios e créditos a rodo, sem falar em proteção cambial e tarifária, deu no que está dando.
Sobram pesquisas atestando o vigor do empreendedorismo no Brasil. Três em cada 10 brasileiros de 18 a 64 anos, situa pente-fino co-assinado pelo Sebrae, possuem empresa ou estão em gestação de negócio próprio. Sobram relatos de investimentos em startups, franquias, TI, gastronomia, comércio de luxo e popular.Nem um pio sobre abrir uma fábrica. Do lado da mão de obra, indústrias como transformadoras de plástico se esfalfam para preencher vagas na linha de produção, pois as novas gerações, mesmo com o preparo educacional que se sabe, preferem lugares onde possam subir rápido e usar sua destreza na parafernália cibernética.
As chagas do Custo Brasil vitimam por igual os serviços e as indústrias. No caso destas, porém, pedras no sapato comuns à toda a sociedade, como a carga tributária e a infraestrutura cara e precária, combinam-se com arcaicos cacoetes culturais do empresariado numa embolação que trabalha pelo encolhimento da indústria. Jogando o jogo em vigor desde Cabral, as lideranças do setor julgam mais lucrativo fazer lobbies por favores nos gabinetes do poder do que queimar fosfato sobre como melhorar a produtividade de suas empresas. Criticam os custos do atual ajuste fiscal ou clamam por compensações, por exemplo, mas silenciam quanto à premência de o país firmar acordos comerciais que o insiram nas cadeias globais de produção ou quanto a lutar por regras e políticas de base, reformas modernas e sólidas para o ambiente de negócios florir. Vem dessa mentalidade a interferência abusiva do Estado na economia e, em particular, no cotidiano da indústria brasileira. Esses padrões comportamentais deturpam a vocação ideal do Estado, de indutor do desenvolvimento. Por isso, ele não comparece onde se faz necessário, provendo infraestrutura, e mete o nariz onde não deve, caso da produção de bens e serviços fora do seu DNA.
Esse estado de coisas contribui para manter a pão e água a competitividade da indústria brasileira, no plano geral, baixando sua exposição à realidade do mercado mundial. A chave mestra para a prosperidade é a produtividade, cujo aumento é turbinado pela necessidade de competir – no mercado interno e externo. Não é pela via de sempre, dos puxadinhos setoriais, afagos fiscais, remendos regulatórios ou blindagens cambiais que a indústria pode recuperar sua grandeza no PIB.
Tem tudo para isso, mas primeiro precisa parar de pensar pequeno. •
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