O plástico e a linha branca sempre andaram de mãos dadas. Ao longo dos anos, o avanço do material em substituição a peças de metal ou vidro tem sido consistente porque, de um lado, ele oferece possibilidades de criação de designs diferenciados e, por outro, pode apresentar custos mais atraentes. Contudo, enquanto na indústria automobilística o uso de plásticos é sinônimo de diminuição de peso, em eletrodomésticos isso nem sempre é verdade. A Mabe, de origem mexicana, tem em seu portfólio brasileiro lavadoras de roupas com cestos de aço inoxidável ou de polipropileno (PP) e a primeira opção é a mais leve. “O projeto da máquina com cesto de PP precisa ser reforçado para seguir as normas estabelecidas no Brasil”, justifica Wlamir Marques, gerente de suprimentos da empresa, detentora das marcas Dako e Continental no país. Em regra, lavadoras menores levam cesto de plásticos e as maiores, de inox. No caso do metal, como o cesto tem espessura um pouco mais fina, há melhor aproveitamento de espaço.
De acordo com Marques, o baque com o aumento da eletricidade será sentido em breve. “Para nós, o acréscimo chegará a 25%, mas porque compramos energia no mercado livre”, ele situa. Já os fornecedores, que dependem das distribuidoras, projetam alta de 50% a 60%. Por ora, esse problema não influenciou a comercialização do portfólio Mabe no Brasil. “Estamos mantendo nossa participação de mercado. Houve uma queda de vendas, sim, mas ela está relacionada à conjuntura econômica e não especificamente à crise hídrica, um dos fatores por trás da energia mais cara”, avisa.
O abastecimento de água também permanece normal nas plantas de Campinas e Hortolândia, ambas em São Paulo. Apesar de a empresa ainda não ter concluído análises para reuso de água ou captação de água de chuva, ela pode recorrer a poços artesianos caso necessário. “É claro que estamos vivendo um colapso, mas isso nos faz pensar se não é o modelo de consumo que está errado como um todo”, ele lembra. Na parte de injeção e extrusão de peças de plástico, que usa água no sistema de refrigeração, não há perdas. “Os circuitos são todos fechados”, encaixa o especialista.
Aliás, estratégia da Mabe para assegurar competitividade e qualidade no Brasil foi verticalizar grande porção da fabricação de componentes de plásticos. Para se ter uma ideia, 99% das peças plásticas utilizadas em lavadoras são injetadas internamente. O restante são partes menores não patenteadas, compradas livremente no mercado. Do total de plástico aplicado nesse eletrodoméstico, 95% corresponde a PP e 5% a materiais de engenharia diversos.
No passado, explica o gerente, máquinas de lavar usavam muito mais acrilonitrila butadieno estireno (ABS) em seus componentes, o que encarecia o produto final. “Fizemos um grande projeto em parceria com a Braskem e conseguimos substituir ABS por PP sem perda de qualidade e desempenho”, lembra o porta-voz. No desenho Mabe de lavadoras, plásticos totalizam a 16 kg ou 36% do peso total do eletrodoméstico, volume que se manteve estável nos últimos anos.
Geladeiras, por seu turno, levam em regra 19 kg de plásticos, sendo que destes 87% representam poliestireno (PS). O restante fica distribuído entre ABS, PP e polietileno de alta densidade (PEAD). O peso total de um refrigerador Mabe ronda 85 kgs, ou seja, plásticos correspondem a 22% do total. No entanto, sublinha o gerente, projetos especiais estão aumentando essa participação. Por exemplo, no refrigerador do tipo cycle defrost, uma iniciativa local trocou o fundo do freezer, antes de alumínio, por PS, fazendo com que o artigo brasileiro levasse mais plástico do que seu par mexicano. Em regra, os modelos de ambos os países têm similaridades, mas não são exatamente iguais.
Há três anos, a Mabe conduziu um projeto para utilização de PS com bactericida em refrigeradores. “Ele não foi para frente por conta do custo”, informa Marques. Outro estudo paralisado é o de substituição de PS por PP e nesse caso os resultados não foram concluídos. O maior desafio é o ataque da espuma ao PP em ambiente de refrigeração.
A Mabe produz internamente 65% das peças injetadas para seus refrigeradores e, para o restante, possui uma cadeia composta por três fornecedores. Enquanto isso, fabricação de chapas extrusadas dentro de casa chegou a 100% em março de 2015, após transferência de uma máquina de Itu (SP). A unidade ituana parou de operar depois que a empresa entrou com pedido de recuperação judicial em maio de 2013. A montagem de lavadoras, antes centrada nessa planta, está paralisada. O plano agora é voltar com a fabricação em Campinas, onde roda a produção de fogões, a partir do fim deste ano. Refrigeradores estão sendo feitos somente em Hortolândia.
No passado, a Mabe chegou a importar da matriz mexicana componentes de plástico usados em um antigo modelo de refrigerador. “A fabricação de peças é de fato mais barata no México”, constata Marques. Essa tática só foi interrompida porque a geladeira em questão parou de ser vendida no Brasil e não fazia sentido investir em ferramental lá para atender à produção brasileira. Embora os custos sejam muito mais elevados aqui, o valor da logística torna impraticável o transporte de grandes volumes, por isso também não faria sentido trazer lavadoras e refrigeradores prontos, ele conclui. •
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