Não creio que essa recessão enfraqueça, irremediavelmente, o potencial de crescimento do Brasil. Vejo, sim, a necessidade urgente de efetuarmos ajustes na condução da economia. Ela deve ter como foco principal o aumento da competitividade das empresas brasileiras com base na referência do mercado global. Já passamos por diversas crises e planos econômicos e, ainda assim, conseguimos sobreviver. De imediato, teremos um inescapável período difícil pela frente, mas o Brasil e os brasileiros são maiores que esses solavancos e crises e não há razão para duvidar de nossas forças para varrer mais esta pedra do caminho. Afinal, continuamos a ter um consumo expressivo e cacife tecnológico para competir.
Nos últimos 10-12 anos, o poder aquisitivo revigorado teve o condão de introduzir no orçamento doméstico da classe C uma série de produtos de consumo (em regra embalados em plástico) antes fora do seu alcance. Sob a crise econômica atual, o acesso a esses produtos ficou momentaneamente mais complicado para o consumidor popular. Mas trata-se de um período de ajustes no mercado e, em breve, teremos um retorno da estabilidade perdida. Por força da inflação e remarcações generalizadas de preços, o consumidor de baixa renda, contemplado com o acesso a determinados produtos no passado recente, pode deixar de adquirí-los por ora. Mas retornará às compras tão logo as coisas se normalizem. Vamos e venhamos, não se dirige uma economia ou um pais olhando apenas para o curto prazo. Num momento recessivo é natural que o consumo de itens não essenciais diminua, mas não creio tratar-se de uma mudança de hábito e sim um ajuste temporário.
Entre os pontos vulneráveis do transformador padrão brasileiro, constam seus ralos investimentos em inovação. Um ambiente de custo de capital alto, inflação, recessão e aumentos da carga tributária e dos preços controlados atrapalha mesmo – e muito – as intenções das empresas no sentido de manter seus aportes de recursos em P&D. Em contraponto, considere-se inovação não uma escolha, mas uma obrigação para nos mantermos competitivos. Além do mais, o mundo não está parado nas inovações e, se não fizermos o mesmo, estaremos aumentando a chance de perder de vez a batalha pelo mercado para a concorrência. Vou martelar essa tecla com mais força tomando minha empresa como referência. A história da Unipac está repleta de empreendimentos colocados em cena em anos de crise. No retraído 2002, início do Lula 1, ela colocou em funcionamento sua planta de embalagens em Santa Bárbara D’Oeste. Na década de 90, de alta instabilidade e volatilidade econômica, fomos pioneiros em caixas d’água de plástico no país.
Esses exemplos não devem ser lidos como gestos de ousadia ou movidos pelo espírito animal do empresário. O perfil da Unipac é conservador nos investimentos e um de seus princípios viscerais, por sinal, é o de evitar dívida como forma de crescimento. Em paralelo, investimos sempre com visão de longo prazo, pois não cremos que as crises sejam eternas (ao menos até agora não foram). Em decorrência, quando o mercado retomar o consumo temos que estar fortes e prontos para atender à nova demanda. Numa crise sempre existem ameaças e oportunidades e são nas oportunidades que nós procuramos focar e delas fazer um trampolim para saltarmos na retomada.
A Unipac volta agora a enxergar o Brasil além das crises pontuais, inaugurando em plena recessão mais uma fábrica: a unidade de sopro e injeção em Limeira, interior paulista, em condições de fornecer recipientes de 250 ml a 50 l para químicos e agroquímicos. O investimento teve inicio em 2013 e, à época, não se pensava em recessão, apesar da percepção geral de que a conta da festa chegaria a qualquer momento. Mas mesmo com a instabilidade do mercado e a mudança no cenário, decidimos manter o ritmo das obras e hoje estamos preparados para o aumento da demanda que damos como certo no futuro próximo. Não temos, é lógico, ideia de quanto tempo levará para o mercado voltar aos eixos, mas somos uma empresa brasileira, que acredita no Brasil e na nossa gente. Nosso fundador tinha um dito que cai bem em momentos como este: “nem sempre é dia, nem sempre é noite”.Vamos então trabalhar e buscar ser referência nos mercados onde operamos. •
Marcos Antonio Ribeiro
é presidente da Unipac