De olho na ameaça ao futuro ativada nas mudanças climáticas, ainda não controladas, o consumidor brasileiro padrão de cosméticos já questiona a participação das marcas na emissão geral de carbono, atestam consultorias como Euromonitor. Em resposta, grifes de higiene e beleza jorram artigos em linha com a sustentabilidade e abraçam à tendência de oferecer não apenas um produto, mas um estilo de vida a uma clientela cada vez mais consciente.
Com voz grossa entre as lideranças em cosméticos no país, o Grupo Boticário é um dos precursores na formação dessa cultura ambiental em seu setor e a ela deve grande parte do fino trato de sua imagem e desempenho. Em entrevista exclusiva a Plásticos em Revista, o conglomerado paranaense declara, em tom corporativo, que suas vendas ultrapassaram R$ 23,6 bilhões em 2022, salto de 31% em relação a 2021 e de 50% nos últimos dois anos. “O crescimento expressivo reflete a estratégia da companhia para a formação de um ecossistema de beleza, que expande a presença para novos mercados e a atuação em formato de plataforma”, pondera o grupo curitibano com 13 anos de ativa. “Os hábitos de consumo que surgiram na pandemia permaneceram e intensificaram os resultados da categoria de cabelos, a que mais avançou em 2022 e registrou incremento de 42,5% na comparação com o ano anterior. Na sequência, destaque para perfumaria, com 33% de crescimento e cuidados pessoais, com 25,8%”.
Entre os materiais de embalagens, plástico é dos que mais proporcionam ao Grupo Boticário demonstrações de engajamento na economia circular que ele procura incutir nos hábitos dos seus consumidores. “O plástico está em quase 100% dos nossos produtos, na forma de tampas, frascos, bisnagas, pumps, potes, stand up pouches, filmes, estojos de maquiagem, berços em vaccum forming e embalagens de batom”. O Grupo Boticário terceiriza a manufatura das embalagens plásticas e, entre elas, constam itens de design proprietário e recipientes standard de transformadores parceiros. Resinas plásticas, atesta a companhia, oferecem boa resistência química e mecânica, versatilidade em formatos e processos de moldagem. “Devido à sua leveza permitem que grande quantidade de embalagens sejam transportadas no mesmo caminhão, favorecendo a redução da emissão de gases de efeito estufa”.
Este reconhecimento da contribuição do plástico a um mundo sustentável é fortalecido por um indicador fora das dependências das empresa. “O plástico representa aproximadamente 30% do resíduo total de embalagens pós-consumo geradas pelas marcas do Grupo Boticário”, estima a companhia. Da porteira da fábrica para dentro, a influência da circularidade do material é notória a em práticas como blends de resina virgem com reciclada nos recipientes “Para poliolefinas, utilizamos, sempre que possível, reciclados nas embalagens que não tenham contato com a formulação. Em frascos de PEAD, trabalhamos com parceiros no aprofundamento das possibilidades de uso do polímero recuperado”, afirma o grupo.
Outro flanco da sustentabilidade cultivado é o da composição das soluções plásticas de envase. “A fim de fomentar a circularidade da cadeia, estudamos embalagens monomaterial (desde que aportem as mesmas características funcionais) em substituição aos tipos multimaterial, para facilitar a reciclagem mecânica dos resíduos”. O Grupo Boticário enfatiza buscar o aumento da reciclabilidade de suas embalagens priorizando o uso de soluções monomaterial e de fácil desmontagem, assim como ampliando o portfólio de refil, garantindo desta forma o reúso de recipientes originais e contribuindo, portanto para reduzir a geração de resíduos pós-consumo.
A propósito, a companhia esclarece ter iniciado em 2018 o uso de PET reciclado em berços termoformados a vácuo para estojos referentes a datas temáticas. “À época, a participação do conteúdo reciclado era de 50% e hoje os berços são 100% desse material”, relata o grupo. Os frascos das loções da marca Eudora também empregam PET reciclado. “Também em 2018, a Nativa Spa foi a primeira linha de produtos a receber PET reciclado em contato direto com granel e os teores desse poliéster para segundo uso variam de acordo com a cor dos frascos”.
Uma corrente de brand owners em cosméticos quer varrer cores das embalagens plásticas para simplificar a reciclagem. “O Grupo Boticário tem acompanhado o movimento de outros setores em prol de eliminar cores das embalagens”, confirma a empresa. “Todos os desenvolvimentos acontecem voltados ao ecodesign, contemplando, além da escolha de cores, o uso de uma única matéria-prima e a concepção de recipientes mais leves, reutilizáveis ou refilados e munidos de componentes de fácil separação e desmontagem”. Iniciativas desse naipe integram o compromisso ESG de dar solução aos resíduos sólidos gerados na cadeia do grupo.
Embalagens flexíveis de uso único emperram no crivo da economia circular por dificuldades na coleta e reciclagem. O Grupo Boticário deixa claro não engrossar este coro, escorado na preferência por embalagens possuidoras de melhor Análise de Ciclo de Vida (AVC, ferramenta científica que confere compreensão sistêmica dos impactos dos produtos em seu ciclo de vida) ou alternativas de consumo a médio/longo prazo que contribuam para a circularidade e redução na geração de massa. “ Por relação mássica formulação/embalagem, refis (laminados) e bisnagas (extrusadas ou laminadas) são utilizadas dentro deste contexto de ACV. Existem estudos para validar o uso de solução monomaterial em ambos os casos”, delimita a empresa.
Sem braço na manufatura de embalagens plásticas, o Grupo Boticário hoje conta com cerca de 380 moldes, dos quais 60% para injeção de tampas e 40% para frascos soprados. Para lapidar o gerenciamento dessas matrizes, o Grupo Boticário divulgou em abril passado a implantação de tecnologia de internet das coisas (internet of things) em parceria com o sistema operacional de tecnologia sem fio da sul-coreana eModino. “As informações sobre os dos moldes são coletadas através da instalação do terminal de dados que, por sua vez, são transmitidos via antena e disponibilizados na plataforma de nuvem”, explica Rafael Müller, diretor de P&D da categoria de perfumaria, desodorantes, datas e acessórios. “Com isso, conseguimos visualizar on-line e em tempo real os indicadores de produção dos moldes e gerenciar suas respectivas manutenções, análise de eficiência e referências de qualidade”.