Hora de arregaçar as mangas

Desde o início, os perrengues da recessão plasmaram 2015 como uma descida aos infernos para o setor plástico. Mas em vez de entregar-se ao muro das lamentações, a Pavan Zanetti, titular nacional em sopradoras e injetoras (estande G 300), enxerga no choro geral uma deixa para vender lenço. Ao tempo fechado, a empresa responde na Feiplastic bombando com a apresentação da primeira sopradora híbrida por extrusão contínua construída no país, pivô de uma família de máquinas idealizada para não ser 10% mais cara que as linhas hidráulicas convencionais, comenta nesta entrevista o diretor Newton Zanetti. O momento não poderia ser mais propício, ele salienta, pois o lançamento atrai pela redução no consumo de energia. Além dos desenvolvimentos no pipeline da sede em Americana, no interior paulista, Newton engrossa o caldo do depoimento com a visão da turbulência do voo descortinada do observatório das máquinas para transformação de plásticos.
PR – Como avalia o impacto do câmbio nos custos de montagem de suas máquinas?
Zanetti – O efeito do câmbio ainda não é tão significativo, mas será. Certos componentes não são mais produzidos no Brasil e assim precisam ser importados, como CLPs, válvulas hidráulicas e pneumáticas, bem como alguns componentes elétricos. São itens produzidos como commodities em países asiáticos, por exemplo, e distribuídos pelo mundo todo. Por isso, são regidos pelo dólar ou euro, a depender de sua origem. O dólar mais alto ainda não influenciou por ora nos custos, pois sempre há um tempo de negociação, peças em estoque, pedidos prontos, programações de entrega e contratos fechados com preço fixo.

PR – E o aumento da tarifa de energia?
Zanetti – Nos custos da Pavan Zanetti esse aumento não é expressivo. Não usamos intensivamente energia elétrica, mas nossos clientes já sentem. O aumento de custo deles será substancial e, ao mesmo tempo, difícil de ser repassado. Nem mesmo acréscimos nos preços de resina eles estão conseguindo incluir em seus preços. Embora a energia em si incida numa faixa menor de custo, esse incremento será relevante.

PR – Somados os aumentos causados pelo câmbio, energia e combustível, qual a possibilidade de repassar ao seu cliente uma parte minimamente aceitável desse ônus?
Zanetti – Como o mercado não anda aquecido, repassar preço fica ainda mais difícil. Esses aumentos acarretarão dificuldades adicionais para fechar negócios. Como não fabrico máquinas de forma seriada, sou obrigado a repassar. Cada máquina tem uma história e não tenho como absorver. Damos descontos dependendo da necessidade, de pagamento mais rápido ou de oportunidade comercial, mas no geral os preços precisam subir.

PR – Qual o impacto do câmbio sobre os preços das injetoras chinesas que comercializa?
Zanetti – O mercado de injeção tem sofrido bastante. O repasse do dólar é automático. Você paga em dólar e vende com a mesma variação.

PR – Isso vai minorar a competitividade das máquinas asiáticas?
Zanetti – Haverá uma concorrência menor com produtos chineses mais básicos, mas nós distribuímos máquinas com certo nível de tecnologia. Contudo, convém lembrar que os preços vão aumentar para todo mundo. No caso de sopradoras, essa situação do câmbio também nos beneficia, pois os preços chineses no Brasil ficam mais altos. Nossos aumentos internos não serão no mesmo nível e, por isso, melhorará para nós a questão da entrada de sopradoras asiáticas e europeias.

PR – Mas o ingresso de sopradoras internacionais já não é pequeno?
Zanetti – Nem tanto. Há uma entrada de sopradoras em níveis preocupantes, inclusive chinesas. Determinadas marcas estão no Brasil há algum tempo e vendem bem. Setores que precisam de valores baixos para seus investimentos são bem atendidos por esses modelos. Já encontra-se sopradoras chinesas até no mercado de máquinas usadas. Muitos importadores dedicados a comercializar esses modelos aos transformadores brasileiros vendem a ilusão do preço baixo e esquecem que o setor demanda um pouco mais de tecnologia. Devido à qualidade exigida no segmento de sopro, pela escala e custo do produto acabado, a máquina chinesa não dá conta. No final, resulta num mau negócio. Máquina parada ou produzindo de forma ineficiente aumenta o custo do transformador.

PR – No mercado globalizado, máquinas como as de transformação de plástico são montadas com componentes internacionais, adquiridos conforme sua qualidade ou preço. No Brasil, o governo ainda pratica tarifas recordes para importação de máquinas e componentes e insiste na política de conteúdo local, o que encarece nossas máquinas e complica sua exportação. Já não passou da hora de rever esse protecionismo arcaico e defender a inserção do Brasil no mercado mundial?
Zanetti – Não. Se aceitarmos isso, estaremos nos desindustrializando.

PR – Mas então a indústria só consegue produzir em uma redoma?
Zanetti – Não estou falando de proteção como existia antigamente. Existe a proteção ao custo nacional. Esses 14% de alíquota de importação são simplesmente para equiparar o Custo Brasil com outros países.

PR – E sobre a política de conteúdo local?
Zanetti – E por que não produzir no Brasil? Se abrirmos mão de fazermos certas coisas aqui, seremos meros importadores.

PR – O que dita a competitividade é a concorrência,concorda? Não é hora de revermos esses critérios?
Zanetti – De forma nenhuma. O Brasil é um país que deveria estar muito mais bem colocado no mundo em termos de industrialização e só não atingimos esse lugar devido a condições de deslealdade econômica relativa a outros mercados. Não podemos ser penalizados. Nem os Estados Unidos abriram mão de certos pontos, como em tecnologia. Não posso aceitar que o Brasil venha a sofrer a desindustrialização, em curso há alguns anos e agora tomou mais força. Temos de inverter o jogo com políticas de longo prazo. As barreiras não são como nos tempos da ditadura militar, quando era proibido importar, ou como hoje na Argentina. Mas não dá para escancarar o mercado dadas as diferenças econômicas entre os nossos fabricantes e os chineses e europeus.

PR – Diante do fracasso do Mercosul, você é a favor de que o Brasil firme acordos comerciais com outros mercados?
Zanetti – Sempre fui a favor disso. O Brasil tomou o caminho errado. Embora em uma época o Mercosul tenha sido promissor, essas políticas inviabilizaram a melhoria do comércio. Países membros do bloco não têm mais condições sequer de pagar suas contas.

PR – A Pavan Zanetti ainda exporta para a Argentina?
Zanetti – Muito pouco. Antes podíamos fazer negócios seguindo as regras do Mercosul. Hoje é preciso uma autorização de importação. Há um ministro argentino que cuida de importações e exportações e uma autorização demora meses para sair.

PR – E quanto ao restante do Cone Sul?
Zanetti – Vendemos mais na Colômbia e Peru, mercados mais abertos e economias mais dinâmicas, não tão travadas como as de esquerda.

PR – Sobram queixas na transformação de plástico a respeito da dificuldade crescente de conseguir pessoal qualificado para o chão de fábrica. Esse despreparo generalizado entre os operadores também tem influído para simplificar a interface deles com as máquinas da Pavan Zanetti?
Zanetti – Essa é uma busca que parte de nossos clientes. Há muito tempo eles solicitam a redução de mão de obra em suas fábricas. O despreparo é um dos fatores de preocupação, mas o principal são as relações trabalhistas. Há uma incidência de reclamações contra o funcionário que, algumas vezes, não é produtivo e traz problemas de casa para a empresa. A maioria das queixas não é sobre falta de qualificação, mas sobre a relação entre empregado e empregador. O despreparo maior realmente ocorre na parte técnica. O operador que acompanha a máquina não precisa de alta qualificação. Mas o técnico qualificado, incumbido de cuidar do equipamento, de sua manutenção e regulagem, está em falta no mercado. Tornou-se disputadíssimo pelas empresas. Há ações para atenuar essa lacuna sendo feitas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e nós mesmos conduzimos cursos internos de preparação de pessoal. Quando damos um curso há interesse grande. A automatização está relacionada à redução de custo e às relações trabalhistas. Porém, a qualificação técnica é outro problema, a meu ver até menor.

PR – Como suas sopradoras e injetoras podem contribuir para a economia de energia, além da habitual incorporação de recursos como servomotor?
Zanetti – Há anos trabalhamos nesse sentido. Fizemos um trabalho com relação à produtividade das extrusoras de sopradoras e reduzimos o kW/h por quilo produzido. Estamos agora na segunda etapa.Ela trata da redução da energia consumida em si. Por isso, entram em consideração elementos como inversores de frequência. Estamos falando de máquinas de sopro híbridas, caso da exposta em nosso estande na Feiplastic. Temos uma máquina de mesa dupla com essas características e carro porta-molde totalmente elétrico. A originalidade desse projeto é que não usamos o que o mundo usa de forma fácil: o servomotor. Um servomotor precisaria ser top de mercado, pois se desse problema não haveria quem resolvesse. Por isso, partimos para outra visão. Estamos usando um sistema baseado em motores convencionais, bem como inversores de frequência especiais e software desenvolvido em parceria com a Weg. Já iniciamos a oferta dessas máquinas. A Weg tem um departamento de auxílio à automatização. Seus engenheiros participam junto de empresas interessadas. Também colaborou conosco nesse projeto a Schneider Electric, empresa de soluções de automação industrial.

PR – Qual é o nome dessa nova linha?
Zanetti – Hybrid, marca básica e com apelo comercial. É a primeira sopradora híbrida desenvolvida no país. Há no mercado modelos elétricos fornecidos pela concorrência, mas este é o momento da híbrida pois a elétrica ainda é um pouco cara para a realidade brasileira. A híbrida, pelo sistema que estamos colocando, tem custo melhor em razão de suas tecnologias serem conhecidas e os elementos utilizados são brasileiros. A máquina também é vantajosa no quesito da manutenção. Qualquer um efetua a manutenção nesses elementos da sopradora. Muitas empresas foram qualificadas pela Weg para o conserto de um inversor, algo que não aconteceria com o servomotor. Quando há um problema com ele, normalmente é descartado e outro novo o substitui.
Partimos para a máquina híbrida por enxergá-la como uma transição, um caminho para a sopradora elétrica. Além disso, encolhemos o movimento do carro porta-molde, onde há maior uso de óleo,Também reduzimos o grau de motorização do sistema hidráulico principal e a quantidade de óleo no tanque. Então, há menos óleo circulante e, por extensão, menos possibilidades de vazamentos. Onde havia válvulas, não há mais, e o mesmo acontece com mangueiras hidráulicas, válvulas especiais de amortecimento e cilindros de curso longo.

PR – Qual a economia de energia aferida perante uma sopradora convencional?
Zanetti – No geral, a máquina toda consome 6,5% menos em regime de trabalho puxado. No sistema hidráulico, a economia foi de 25%. Mas ao somar com a extrusora, por sinal elétrica, o consumo resultou 6,5% menor em comparação a um modelo inteiramente hidráulico. Ainda é pouco, mas é o que dá para ser feito por ora. Máquinas 100% elétricas chegam à redução de 30% de economia de energia. A intenção é levar o conceito híbrido a todas as máquinas da série Bimatic. O momento é dessa tecnologia, não da sopradora elétrica, e nosso preço não chegará a ser 10% acima do de um equipamento convencional. A ideia é zerar essa diferença, inclusive por termos abolido diversos componentes antes hidráulicos na Hybrid, como cilindros, válvulas, válvula hidro mecânica de amortecimentos de fins de curso, conexões hidráulicas, mangueiras, reguladores de fluxo etc. Em seu lugar, entraram elementos de motor e inversor e motorredutor com controle por encoder. O fato de não utilizarmos servomotores e drives eletrônicos aliado às substituições de elementos hidráulicos possibilitou que o aumento no custo da Hybrid não fosse tão alto como seria na hipótese de empregarmos a tecnologia habitualmente utilizada com servos.

PR – A Pavan é um dos mais antigos filiados à Câmara Setorial de Máquinas e Acessórios para a Indústria do Plástico (CSMAIP), parte da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Até hoje, seus dirigentes não divulgam ao público a quantidade de injetoras, sopradoras, extrusoras e outras máquinas vendidas no Brasil anualmente nem a participação das linhas nacionais e importadas. Qual a razão dessa falta de transparência?
Zanetti – Os membros da CSMAIP não fornecem essas informações e não há acordo interno para divulgação desses dados. A convivência em uma câmara setorial entre concorrentes nem sempre é fácil. Ainda não há consenso.

PR – Além da máquina híbrida, quais os principais destaques em termos de novos recursos e novos modelos de suas injetoras e sopradoras na Feiplastic?
Zanetti – Temos novidades no sopro de PET na forma de máquinas mais produtivas. Temos a linha Petmatic com sistemas 3000, 4000 e 5000, e devemos estar com o 7000 em breve, mas não na Feiplastic. Esses números são indicadores de produção de unidades de 500 ml. Por exemplo, a máquina 4000 tem condição de prover 4.000 frascos/h de 500 ml a 18g. Não quer dizer que vai fazer 4000 unidades de 2l. Já a 7000 provavelmente será para embalagens de até 1l. Para a feira, selecionamos o modelo Petmatic 5000.

PR – Qual a expectativa de vendas para 2015?
Zanetti – É impossível definir o comportamento do mercado este ano, mas já passamos por situações ruins assim, como no governo Collor, no período pós Plano Cruzado e no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, período de outro ajuste fiscal severo. O ajuste fiscal de agora ocorre entre empresas e operários. O governo mudou a desoneração da folha de pagamento, algo que era muito bom e manteve o Brasil funcionando nesses últimos anos, e o programa Reintegra, que recupera alguns impostos na exportação. A alíquota de ressarcimento do resíduo tributário sobre a receita da exportação era 3% e foi para 1%. A pressão sobre a indústria está muito forte, então é difícil vislumbrar recuperação este ano. Prevejo queda violenta no movimento. Já se fala em mais de 20%.

PR – Quais mercados de suas máquinas mais e menos afetados pela crise este ano?
Zanetti – Os setores menos afetados são os de consumo rápido, como alimentação, higiene e limpeza doméstica. Cosméticos e medicamentos caíram um pouco. Autopeças sofreram muito. Há empresas do ramo que me confidenciaram estar com 50% de ociosidade.

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