Menos é mais virou chavão de estimação da economia circular, mas, bem antes da apologia ao meio ambiente, ele já significava ganhos proporcionados pela cultura da simplicidade e despojamento. A Portalplast bebeu dessa fonte para ajustar sua rota e entrar em 2023 com olhos apenas para a vocação erigida em 14 anos na praça, as chapas de poliestireno de alto impacto (PSAI), com primazia para as destinadas à termoformagem de potes de laticínios, estabelece Wendel Souza, recém-chegado à cadeira de sócio da transformadora sediada em Diadema (SP). “Vendemos em janeiro último a fábrica de chapas de PET e pretendemos nos desfazer da unidade de masterbatches, seja por venda do controle ou joint venture”.
Souza conhece a Portalplast desde 2013, como cliente de PS da Unigel, petroquímica na qual presidiu diversas diretorias de 2011 a dezembro passado, quando pulou para o outro lado do balcão ao assumir o leme da transformadora. Entre os atributos da empresa que o atraíram, ele cita a formalidade, endossada por balanços auditados desde 2017, certificações ISO 9001 e FSSC22000 e zero passivo tributário fiscal ou autuação fiscal. “A intenção inicial era trabalhar como CEO, mas, apoiado por investidores, acabei adquirindo a participação do acionista Fernando Moura, correspondente a 50% das ações e hoje divido o controle com o sócio fundador Jorge Vital e toco a gestão do negócio”.
Na selfie atual, o negócio envolve uma capacidade instalada de 22.000 t/a de laminados de PS (era de 2.400 t/a em 2009) e uma operação de 6.600 t/a de masters e compostos. A planta de chapas roda com três extrusoras. “Podemos fornecer chapas de até cinco camadas com espessura mínima de 0,2 mm e máxima de 5,8 mm”, completa Souza. A fatia minoritária, 20%, da produção de chapas, é absorvida por segmentos como linha branca, peças técnicas e comunicação visual, um mercado onde Souza enxerga preocupante incidência de comércio marginal e remelexos tributários. “Podemos atender quem queira atuar com material de alta qualidade e dentro das regras do Fisco”, sumariza o CEO.
Chapas para termoformados de laticínios mobilizam a fatia do leão do balanço da Portalplast. Trata-se de um reduto do qual também participam concorrentes na Zona Franca e cujas placas chegam ao resto do Brasil na garupa de privilegiados subsídios fiscais neutralizadores dos gastos com frete. “Somos líderes neste segmento e o plano é manter a posição pela via da melhoria da rentabilidade”, atesta Souza. “As margens são muito apertadas para transformadores como nós, pois estamos espremidos entre o fornecimento de petroquímicas e gigantes da área de alimentos”. Entre os vips, reluzem na carteira da Portalplast a Danone, Lactalis e Vigor. Sem dar números do balanço do ano passado, afinal Souza só entrou em campo na empresa em dezembro, ele comenta lacônico que todos os seus produtos tiveram, crescimento em, volume e aperto nas margens.
PS é uma encarnação desse imbróglio. “Os preços da resina oscilaram bastante no meio do ano e tivemos dificuldade para repassar os reajustes aos clientes”, constata Souza. Pelo consenso nas quebradas de PS, o mercado segue atolado em sarabanda de preços, a ponto de, não raro, fontes do ramo atestarem que a resina nacional sai mais em conta nos distribuidores que na negociação direta com Innova e Unigel, as duas únicas produtoras de PS do país, ambas supridoras da Portoplast. O carrossel das cotações é retratado no total de 20 cartas emitidas pelas duas petroquímicas comunicando à praça reajustes no polímero durante os exercícios de 2021 e 2022.
A pedido de Plásticos em Revista, um olho de lince do mercado compilou os sacolejos no preço interno por quilo de PS nos dois últimos períodos. 2021: janeiro, R$ 12,78: fevereiro, R$ 14,68; março/ abril R$16,88; maio, R$16,18: junho, R$ 14,68; julho, R$ 13,28; agosto, R$ 12,48; setembro, R$13,18; outubro, R$ 13,38; novembro, R$14,48 e dezembro, R$ 15,28. 2022: janeiro/fevereiro/março, R$ 14,48; abril/maio, R$16,58; junho, R$ 15,98; julho/agosto, R$ 16,58; setembro, R$ 12,98; outubro/novembro, R$ 12,78 e dezembro, R$ 11,88. 2023: janeiro, R$ 11,60 e fevereiro, R$ 11,38.
Souza retoma o fio estimando 80% das suas vendas para chapas termoformáveis para envase de molhos, margarinas, cápsulas de bebidas e, na linha frente, laticínios encabeçados por iogurtes. Os indicadores da consultoria Kantar detectam aliviadora estabilidade para a conjuntura atual de iogurtes, encalacrada entre perda do poder aquisitivo, inflação não domada e oferta de leite cru para derivados reduzida e encarecida e dificuldades para laticínios repassarem ao público os aumentos pespegados nessa matéria-prima. Apesar dos pesares, analistas como Kantar e Milk Point percebem relutância de 70% das famílias em abrir mão do iogurte em sua cesta de compras. Noves-fora, o mercado nacional desse laticínio se mantém nas faixas de 600.000 t/a aferida nos balanços recentes e, adrenalina na veia da Portalplast, o consumo per capita do Brasil segue na órbita de 3 kg/a de iogurte contra mais que o dobro na vizinha Argentina. “Também estamos desenvolvendo chapas com alta barreira para alimentos dependentes de maior shelf life”, adianta conciso Souza.
Movida por oportunidade de negócio com aval da sustentabilidade, a Portoplast também recicla, desde os idos de 2018/2019, aparas de transformadores de suas chapas. “Nesse caso, não se trata de atuar em atividades não exercidas por concorrentes, mas de crença forte na economia circular”, completa o industrial. “Reaproveitamos as aparas dos clientes como forma de tornar sustentável nossa cadeia industrial”.