A indústria de óleo lubrificante é das mais empenhadas em se enquadrar no figurino da economia circular. Além de aderir ao rerrefino do produto usado ou contaminado, o setor conclama os fabricantes a encaminhar à reciclagem suas embalagens plásticas sopradas, a maioria de PEAD com tampa injetada de PP. Uma das locomotivas desse esforço, a Iconic aprofunda sua devoção à sustentabilidade introduzindo bombonas monocamada de 20 litros de óleo hidráulico moldadas com teor inicial de cerca de 20% de PEAD reciclado e fornecidas por ora apenas pela transformadora fluminense Raízes.
À parte o apreço pelo meio ambiente, o gesto da Iconic se destaca pelo fato de retratar uma prática ainda por se consolidar no Brasil. Rastreamento da empresa de análise de dados Statista atesta que, no desenrolar do pandêmico 2020, foram descartadas 1 bilhão de embalagens plásticas do lubrificante e não passou de 9% a parcela reciclada desse refugo. A sacada da Iconic está em linha com o reúso de matéria-prima clamado pela circularidade e traduz uma contribuição concreta para tirar da discrição o atual índice de reciclagem de recipientes do lubrificante no país. “O desenvolvimento de bombonas de 950 g com 20% de plástico pós-consumo reciclado (PCR) começou com a Raizes por ter sido o primeiro dos nossos três transformadores parceiros a embarcar no nosso projeto, a ponto de já importar sopradora para auxiliar no aumento da produção desses contentores”, assinala Lilian Costa da Silva, coordenadora do controle de qualidade de embalagens da Iconic. A condição de monocamada decidiu o teor de 20% de PCR na composição da bombona. “Acima deste percentual, resulta um impacto na estrutura e desempenho dela, mas já trabalhamos na possibilidade de aumentar para a faixa de 50% a participação da resina para segundo uso no trabalho com bombonas coextrusadas multicamada”.
Por ser monocamada, a bombona contendo PCR é produzida na cor preta, “para chegar ao tom exato das embalagens antes utilizadas pela Iconic, completa Lilian. Conforme detalha, recipientes com PCR acusam maior dificuldade para exibir a coloração precisa em vista, devido a uma tonalidade de fundo mais escura. “Desse modo, varia muito a tonalidade por embalagem”. A proposta em avaliação de teor de PCR em bombonas multicamada comporta a expectativa de uso das demais cores homologadas para a embalagem. A hipótese de reduzir a espessura das bombonas, outra reverência à sustentabilidade, depende de novo estudo a respeito, comenta a coordenadora. “No momento, focamos um projeto, a ser entregue este ano, para baixar o peso dos frascos de um litro apresentados em todas as cores e,a depender dos testes externos e de campo, utilizando PCR nas versões pretas desse recipiente”.
A logística reversa das embalagens vazias da Iconic é uma operação consolidada do Instituto Jogue Limpo, ao qual a empresa é filiada. A Raízes sopra a bombona preta com pé no recuperado empregando PEAD da Braskem: dois grades virgens, HS5403 e HS5407, e um reciclado, DA 054B, informa Felipe Ávila, gerente industrial dessa transformadora com plantas no Rio e Minas. “Dispomos de capacidade para soprar 700.000 bombonas de 20 litros /mês na unidade em Duque de Caxias (RJ)”, ele delimita.
Ávila lista duas paradas duras no processamento da bombona com 20% de PCR. Um deles é barrar a contaminação. “O material para segundo uso pode acusar contaminação cruzada durante sua reciclagem, caso de uma tampa de PP moída e extrusada junto com o PEAD da bombona, um risco que o controle da produção pelo reciclador deve afastar”, ele reitera. “Outro ponto-chave para a performance dessa bombona grande é a estabilidade, garantida pelo data sheet do fornecedor, contendo as características físicas e químicas dos lotes de reciclado recebidos”. O gerente industrial da Raízes considera que o sopro coex de três camadas em moldes premium constitui a chave-mestra para se ampliar o teor de PEAD recuperado e baixar o peso da bombona sem minar sua performance.