Regime de engorda
Em apenas dois anos, a capacidade brasileira de PET reciclado (rPET) grau alimentício, a cargo hoje de seis fornecedores, deve pular das atuais 175.000 t/a para a casa de 305.000, volume dependente do suprimento da ordem de 435.000 toneladas de garrafas descartadas. “A demanda pelo material segue há anos regularmente alta e não deve mudar”, justifica sua previsão Irineu Bueno Barbosa Junior, sócio executivo da Global PET, recicladora vitrine do poliéster pós-consumo recuperado grau alimentício. “Não há mais espaço para marcas sem a preocupação de praticar ações contundentes em logística reversa e no estabelecimento de sua demanda por este reciclado”.
A combustão da procura por rPET, na voz corrente do ramo, já suscita interrupções no seu abastecimento a segmentos em que seu uso decorre mais por redução em custos industriais do que por apoio à economia circular. Neste último compartimento, o cotejo de cotações entre resinas virgem e recuperada grau alimentício não é tão considerado porque a demanda é norteada com primazia pela adesão de brand owners na economia circular. Essa percepção das grandes marcas finais vem desatando investimentos na coleta de garrafas e, assim espera o mercado, deve se normalizar a curto prazo o suprimento de rPET para todas as aplicações.
“A indústria recicladora nacional já é capaz de promover a circularidade berço a berço de algo acima de 25% das embalagens PET produzidas no país”, atesta Barbosa. A Global PET forma entre os primeiros recicladores da resina grau alimentício empenhados em elevar o percentual. Desde janeiro de 2023, a capacidade da sede em São Carlos (SP) saltou de 2.500 para 3.500 t/mês e, já no ano que vem, atendendo a brand owners do N/NE, a filial cearense hoje em construção vai operar na faixa de 2.500 t/mês no Polo Químico de Guaiúba, aporte de R$ 70 milhões mais R$ 20 milhões de capital de giro.
Apesar das reservas de Auri Marçon, da Abipet (ver à pág. 36), foi mão na roda para rPET grau alimentício a lei estadual sancionada em São Paulo em dezembro último e que determina o uso de teores do material na produção de garrafas de bebidas. “São Paulo se adiantou a legislação federal similar hoje em construção em prol da economia circular”, pondera Barbosa. “Se todas as empresas adeptas de embalagens PET forem obrigadas por lei a usar rPET, a demanda pelos resíduos pós-consumo vai ganhar em estabilidade e se fortalecerão os investimentos na coleta, transporte e reciclagem. Concordo que o governo delimite regras incentivadoras da circularidade e contemplem com isonomia todos os players do mercado”. •
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