Tigre no jogo do bicho e horóscopo chinês, 22 é o número de fé de Alceu Lorenzon. Estava no capacete nos seus tempos de piloto de motocross e, justo neste ano de 2022, sua empresa, a recicladora e transformadora Alcaplas, cruza a marca dos 22 anos de ativa com uma batelada de planos de investimentos puxados pela modernização em regra dos controles de processo e um laboratório top de linha em ensaios poliméricos, movimentos que já contemplaram esta indústria em Xanxerê, no oeste catarinense, com o Certificado SENAPLAS Produto, concedido pela empresa Aceplas com chancela da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Essas melhorias configuram o trampolim para a Alcaplas engrossar seu calibre na reciclagem e transformação de poliolefinas, como adianta Lorenzon nesta entrevista.
1A Alcaplas produz e vende reciclados oriundos de aparas de poliolefinas. No caso de PEBD, transforma esses reciclados em agrofilmes e embalagens flexíveis também comercializados. Qual a possibilidade de entrar em produtos acabados de PP?
Pretendemos elevar o faturamento de R$ 50 milhões em 2021 para 200 milhões em 2025, através de vários movimentos. Por exemplo, lançamos este ano a linha AllGreen, constituída de resinas pós-consumo recicladas de alta performance e direcionada a empresas de mercados diferenciados e aliadas da economia circular. Estas resinas contam com o certificado Senaplas Qualidade, emitido pela Câmara Nacional dos Recicladores da Abiplast, atestando um desempenho superior aos reciclados commodities que também fornecemos. Essa performance decorre de um custo de processo muito mais elevado e, ao lado da origem pós-consumo dos grades e de suas características mais próximas das dos contratipos virgens, justificaram destacá-las sob a marca All Green.
Outras ações a caminho para incrementar nossa receita: dobrar nossa capacidade de reciclagem para 12.000 t/a em três anos; entrar na extrusão de chapas e termoformagem de peças de PP reciclado e dobrar a capacidade produtiva de flexíveis blow de PE reciclado, entre eles filmes técnicos multicamada para usos afins com a circularidade. E em resposta à demanda crescente, pretendemos ingressar na impressão de filmes secundários e embalagens.
2Aparas são 45% dos resíduos processados pela Alcaplas. Como garante suprimento constante desse tipo de refugo?
Temos uma cadeia pulverizada de cerca de 100 fornecedores ativos e permanentes, além de possuirmos cadastro e negociações com mais outra centena de vendedores spot de aparas para completar o abastecimento na hipótese de demandas especiais, caso de aumento da procura por um reciclado específico. Hoje em dia, 96% dos nossos fornecedores estão no Sul e 4% no Sudeste. De volta aos fornecedores ativos, eles se dividem em três classes distintas. O grupo mais numeroso, mas com menor representação de volume no recebimento, envolve empresas pequenas e médias localizadas até 50km da Alcaplas. A depender do volume de sucatas, disponibilizamos em comodato, via contrato de parceria, equipamentos como porta bag, caçambas, roll on ou enfardadeira de prensagem, para estes fornecedores acondicionarem seus resíduos de forma correta. Em outra classe, com um efetivo menor de empresas provedoras de volumes intermediários de matéria-prima, constam alguns clientes com quem firmamos contratos de parceria e que dispõem de unidades de reciclagem junto de suas plantas transformadoras, focando as aparas geradas internamente e refugo pós-consumo recebidos pela logística reversa. Esta nossa ação ajuda os clientes no cumprimento dos programas da logística reversa delimitados pela lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. A terceira e última classe de fornecedores ativos é a menor em quantidade de integrantes e a maior em volumes transacionados de rejeitos. São atacadistas de sucatas, que compram os resíduos para melhorar a separação, prensagem e armazenamento, servindo muitas vezes como pulmão de estoques para vender a recicladoras matéria-prima com agregação de valor decorrente das atividades de preparo da mercadoria executadas. Essas empresas marcam pela atuação regionalmente, formando uma teia de suporte a participantes do setor como comerciantes de pequeno e médio porte, sucateiros, catadores ou cooperativas de recicladores menores.
3Quais as etapas da reciclagem que a Alcaplas realiza por operação manual e quais os planos de automação em vista?
Embora cada vez mais treinemos fornecedores para selecionar as sucatas por tipo químico e as incolores das coloridas, eles não conseguem garantir 100% a qualidade desejada. Desse modo, boa parte dos resíduos precisam passar por classificação ou preparação antes de ganhar o processo de reciclagem mecânica. Ainda assim, na entrada dos moinhos, uma equipe nossa vistoria e retira os materiais contaminantes eventualmente presentes, mesmo no caso de lotes adquiridos de produtos registrados como classificados. Contaminantes não podem ser descartados como rejeitos; precisam ser resselecionados para uso em outros produtos ou revenda. A Alcaplas está atividade muito voltada para a reciclagem de resíduos de filmes de poliolefinas e ráfia, na qual a triagem por sensores ópticos ainda tem pouca viabilidade econômica daí a adoção da separação manual por profissionais treinados. Apesar desses entraves, estamos implantando aos pouco a automação da moagem em diante, com linhas contínuas, secagem tipo squeezer, transporte mecanizado entre equipamentos e extrusoras com alimentação forçada, degasagem à vácuo, sistema corte na cabeça e silos homogeneizadores intermediários. Ao final do processo, estamos aderindo a ensacadeiras semiautomáticas com embalagens valvuladas e strechadeiras automatizadas de paletes. •