De um lado, pulsam o aperto monetário, ômicron, juros e dólar na lua, inflação e demais pesadelos à luz do dia. Do outro, o histórico desde 2020 atesta um fluxo de volumes gordos de importações brasileiras de polietileno (PE) e polipropileno (PP) para saciar a sedenta demanda de transformadores, em especial de embalagens de alimentos e outros bens de consumo essencial. Debruçada sobre estes dois cenários, a distribuidora Conecta Resinas abriu as portas em 3 de janeiro, após quatro meses de meticulosa montagem de uma estrutura talhada para mandar ver na pior rinha de galos de briga no ramo: o varejo de poliolefinas. “Vamos criar a conexão que falta entre o transformador brasileiro e o mundo, através de parcerias com as principais petroquímicas e traders internacionais”, estabelece a diretora executiva Roberta Duarte. O momento é propício, ela argumenta, pois novas plantas (na Ásia, China à frente) complicam a absorção do excedente da capacidade global de PP e PE e, no Brasil, completa a executiva, “a produção de qualquer grade dessas resinas é insuficiente para corresponder à demanda normal”.
O varejo brasileiro de PP e PE, os termoplásticos mais consumidos, é disputado a ferro e fogo por cinco distribuidoras oficiais da Braskem, único produtor local dos dois polímeros, agentes autorizados de petroquímicas do exterior e, por fim, um monte de revendedores autônomos, alimentados com resinas nacionais e de fora, segmento também notório pela incidência de informalidade. Para abrir as asas nesse salseiro, a Conecta comparece com um perfil que destoa do modelo tradicional no ramo, no qual a comercialização de resinas resume a empresa ou inspira empreendimentos afins, como reciclagem ou beneficiamento de materiais. “Vislumbramos um nicho único, sem distribuidores que tenham a nossa cadeia de valor”, assinala Roberta.
Da retórica à prática, o pulo do gato da Conecta é não ser uma varejista isolada, mas uma empresa controlada de um conglomerado nacional, o Grupo Melo Cordeiro. Há 40 anos na ativa, ele hoje atua na fabricação de fios e cabos elétricos, distribuição de geradores solares fotovoltaicos e, com sinergias na veia do novo negócio de revender PP e PE internados, o grupo preside a trading Sainte Marie, focada em soluções integradas de logística e comércio exterior, e a operadora Save Logistics, diferenciada pelo custo-benefício na lida com todos os modais de transporte doméstico e internacional. “O prestador de serviços de importação para a Conecta é a Sainte Marie”, informa Roberta Duarte. “Ela a responsável por negociar, embarcar, efetuar o desembaraço alfandegário e cumprir todos os trâmites processuais da nacionalização até a entrega das resinas ao cliente. Para completar, temos os serviços da Save Logistics à nossa disposição”.
Roberta salienta que a tradição e estrutura financeira e operacional do Grupo Melo Cordeiro estão abrindo muitas portas para a Conecta e contemplando-a com confiabilidade nos contatos internacionais. “Isso distingue nossa posição no mercado brasileiro, com uma credibilidade que hoje escasseia na praça quando o tema é o comércio de resinas importadas”. Entre setembro e dezembro último, Roberta imergiu na configuração de um negócio inédito para o conglomerado, ideia aliás nascida de conversa informal dela com o presidente do grupo, Allan Aires de Melo Cordeiro. Entre as primeiras decisões, pintou a recusa em bancar centros de distribuição específicos para a Conecta. “A maioria das nossas vendas transcorre pela modalidade de frete CIF (custo, seguro e frete)”, justifica a diretora. Ou seja, o vendedor é responsável pelo transporte da mercadoria, inclusos custos e riscos. Em regra, o produto geralmente já é ofertado com o gasto do frete embutido no valor total da venda, não sendo discriminado na nota fiscal. Assim, quem paga o frete é o comprador. “Por isso”, prossegue Roberta, “selecionamos como parceiros operadores logísticos munidos de infra em armazenagem e estrutura de ponta, com sistemas de acompanhamento de pedidos on line, de modo que temos materiais estocados e disponíveis a qualquer momento em todo o território nacional”. O grosso dos volumes de PP e PE da Conecta, proveniente de fornecedores por ora em sigilo, é desembarcado por dois portos catarinenses, em Navegantes e Itajaí, empoleirados em benefícios fiscais para importações. “O porto de Manaus é o único que não utilizamos”, distingue a diretora, acrescentando que todos os limites de crédito concedidos pela distribuidora são garantidos por seguradora. “Preferimos priorizar a segurança e perenidade do negócios do que arcar com uma estrutura operacional onerosa, passível de rápida defasagem e que o clientes não tem margem para absorver”. Na mesma trilha, ela ressalta desfrutar de uma infra de custos leve e enxuta, condizente com as limitações do retorno do trabalho com resinas commodities.
“Nosso foco inicial são os grades convencionais em estoque permanente e suprimento constante garantido, como clama a demanda”, expõe Roberta. “Resinas muito específicas ou de cunho especial iriam contra nossa proposta de valor”. O portfólio de largada da Conecta compreende homo e copolímeros (random incluso) de PP e grades de PE de alta, baixa densidade e lineares (inclusos metalocênicos). Ela frisa, a propósito, que seu mostruário é multibandeira, conforme a praxe internacional e na mão oposta da distribuição monobandeira cobrada a seus agentes pela Braskem.
Sequela da pandemia no comércio exterior, o caos logístico global, com escassez e encarecimento de containers e navios, deve vigorar até o final de 2022, supõe Roberta. Esse caldo indigesto engrossa, ela nota, numa conjuntura de aumento da capacidade global de PP e PE, preços parrudos de petróleo, derivados e o renitente descompasso entre oferta e demanda de resinas, este impulsionado por eventos servidos mundo afora pela cepa ômicron, tipo atrasos na liberação de cargas, bloqueios na chegada de navios ou fechamento temporário de terminais. “O quadro gera incertezas quanto ao rumo dos preços das resinas, mas a expectativa de continuidade da regionalização do comércio de PP e PE favorece a nossa estratégia, em razão da dependência de importações complementares pelo Brasil”. •
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