O bonde passou?

Desde sempre, não importa o governo de plantão, as exportações brasileiras de transformados de plástico são um cisco no mapa mundial. E desde sempre, no plano geral, os transformadores do Brasil concordam de boca com os martelados argumentos relativos à necessidade de exportar, em favor da atualização tecnológica, da geração de caixa e do alargamento da margem de manobra, mas seguem ariscos, na prática, a essa catequese.
Em boa parte, não se pode culpá-los. Afinal, o fascínio exercido pelo mercado interno, com seus bíceps de consumo e suas frentes por explorar, sempre encheu os olhos da indústria de transformação e deixaram em segundo plano eventuais intenções de prospectar o terreno além das fronteiras. O Mercosul acentuou esse distanciamento e, cá entre nós, não dá para chamar a Argentina de cliente externo. É o mesmo que considerar uma ida daqui a Buenos Aires como viagem internacional. Além do mais, transformador é feito pardal ou restaurante chinês- tem em qualquer lugar. Noves fora, aponta a experiência mundial, exportações de artefatos plásticos são pautadas por custos e preços atrelados, em suma, à economia de escala e sua irmã siamesa, a tecnologia.
Em palestra no IV Seminário Competitividade (ver à pág. 58), realizado pela Abiplast e Plásticos em Revista, o ex-ministro Antonio Delfim Netto pôs o dedo na ferida. A indústria brasileira de manufaturados em geral mal exporta por falta dos seguintes pés de apoio: política cambial previsível; taxa de câmbio competitiva; sistema inteligente de tarifas efetivas; draw back verde amarelo; exoneração tributária das exportações e crédito a taxa de juros internacional.
No plano macro, Delfim acertou na mosca. Mas as causas do engessamento das exportações de transformados estendem-se, à margem do Custo Brasil, por variáveis inerentes ao universo global do plástico. É o caso da comoditização de produtos e tecnologias. Até o início do século, por exemplo,  filmes biorientados de polipropileno (BOPP) eram sinônimo de capital intensivo e de tecnologia para poucos. Antes refestelado em BOPP na América do Sul, o Brasil hoje amarga sobreoferta doméstica e na própria região, servida por concorrentes de gume afiado na ativa na Argentina, Chile, Equador e Peru. Outra mudança no panorama foi instituída pela visão do mundo inteiro como um mercado, abraçada em especial pelos Tigres Asiáticos. No período 1981-1983, ilustrou Delfim Netto, as exportações brasileiras de manufaturados em geral eram 1,1% desse comércio no planeta e as da China, 1,3%. Pois 30 anos depois, a participação tupiniquim foi fixada pelo economista em 1,3% e a chinesa em 11,1%.
Retomando o fio dos transformados de plástico, a parada promete piorar para o Brasil e semeia uma dúvida: se o discurso pró-exportação esgotou seu prazo de validade por aqui. A reviravolta começa com o vento de cauda impelindo a cadeia plástica norte-americana e gerado pela energia elétrica e matéria-prima a custos de dar inveja, dádivas proporcionadas pela rota do gás de xisto. 10 em 10 analistas põem a América Latina no topo dos alvos do previsto excedente norte-americano de resinas e, a tiracolo, de transformados exportáveis como bobinas de filmes. Para completar, a China também investe a rodo na expansão de sua petroquímica. Isso vai bafejar ainda mais a competividade mundial dos transformados chineses, em busca de alternativas ao terreno perdido nos EUA para a indústria plástica movida a gás de xisto. Também conta pontos nesse drama o processo de desaceleração econômica em curso na China. Para Paul Hodges, da consultoria International eChem, essa guinada já emite avisos de tremores causados por um terremoto a caminho e, entre os perdedores diretos, ele lista os países dos BRICS e exportadores latino-americanos para o mercado chinês.
Outra pimenta malagueta nesse caldo: o fortalecimento das compras transnacionais de embalagens por indústrias finais múltis, como as de alimentos e cosméticos. É uma decorrência não só da mudança já descrita no eixo geoeconômico da produção, mas da automação industrial, ferramentas virtuais e do consequente acesso facilitado pela globalização aos materiais e equipamentos para manufaturados como artefatos plásticos. Para continuar nesse jogo, demonstra a realidade, a transformação brasileira terá de reposicionar-se quanto à internacionalização do negócio, nas pegadas da reformulação visível no seu mercado. O que aconteceu com as marcas nacionais de autopeças mostra no que dá acordar tarde, depois de ser sacudido com força do sono profundo.  •

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