As rotas da reciclagem química

Flavio Ortigao Recupera

Como avalia a viabilidade da reciclagem química de plásticos pós consumo pelos processos de purificação, decomposição e conversão?
A purificação dos polímeros após sua dissolução  em solvólise é tecnicamente possível, mas não tem viabilidade econômica, tal como a purificação por cromatografia. Trata-se de um processo utilizado apenas em produtos farmacêuticos, devido ao enorme valor adicionado neles. Quanto à decomposição ou despolimerização, a tecnologia por metanólise é interessante para plásticos não misturáveis com outros, a exemplo de poliestireno. Essa alternativa proporciona a obtenção dos monômeros que, por sua vez, podem ser separados e reutilizados. Sua viabilidade econômica em escala ainda precisa ser comprovada, mas o processo  é tecnicamente viável e deve ser considerado como uma rota possível. Já a tecnologia de conversão térmica – incineração, pirólise e gaseificação – já está largamente comprovada. A incineração é praticada na Europa como recuperação energética e não se enquadra na economia circular. Entre os processos que cabem nesta categoria, figura a pirólise, que sempre gera o produto primário em três frações: gás de pirólise; carvão e a fração líquida (óleo de pirólise).Outra via de conversão térmica é a gaseificação, processo que  produz gás de síntese (soma de monóxido de carbono com  hidrogênio). Os problemas da pirólise são os contaminantes e a complexa natureza do seu óleo. A separação do óleo de pirólise com extração dos monômeros não é trivial. Os polímeros no óleo de pirólise (correntes de refinaria com 5 a 30 átomos de carbono) e suas derivações podem constituir uma mistura muito complexa para ser separada em processos industriais. A gaseificação converte o insumo em seus compostos elementares (carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio) e, como gases, eles são purificados mais facilmente.

Como avalia a competitividade da  tecnologia de gaseificação de refugo plástico da Recupera?
A Recupera investiu muito no desenvolvimento de um gaseificador que produz gás de síntese de alto padrão para a síntese química. Com a produção de um gás de qualidade a partir de insumos contaminados e misturados, contamos com a tecnologia que eu considero a melhor solução para a circularidade dos resíduos plásticos.  A simples separação do gás, produz hidrogênio e monóxido de carbono, dois gases técnicos de larga procura pela indústria. Também abre a possibilidade da síntese por Fischer-Tropsch (produção de hidrocarbonetos líquidos a partir de gás de síntese). Nossa tecnologia adiciona ao resíduo plástico um valor que hoje ele não tem e torna sua reciclagem economicamente viável.

As altas escalas e custos menores das resinas virgens de origem petroquímica determinam que o plástico quimicamente reciclado, mais caro e de oferta restrita, esteja fadado a ser um produto de nicho?
De início, vale considerar que os plásticos em fim de vida têm enorme custo ambiental; estamos ameaçando com eles a própria vida no planeta. Nada é mais urgente que resolver este problema. É sabido que o aumento da emissão de dióxido de carbono é a principal causa da elevação da temperatura no planeta e países mais avançados, já decidiram pela descarbonização como método para interromper o aquecimento global como resultado do Acordo de Paris firmado em 2015. Quem não descarbonizar, pode acabar com recursos naufragados, pois ninguém vai querer comprar, mesmo a preço negativo. Já os produtos descarbonizados encontrarão mercados crescentes. Isso está bem claro e é a principal força da mudança do padrão energético e da economia circular.

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