Embaixador e prefeito de São Paulo, Olavo Setubal, um dos fundadores do Banco Itaú, dizia que não liberava crédito a negócio que não conseguisse entender em cinco minutos. O jeito que a norte-americana BioSphere Plastic busca um lugar ao sol do Brasil para seu aditivo biodegradável traz à baila a peneira do banqueiro.
A empresa sustenta no site que testes de 30 dias com seu aditivo resultaram em índices de 15% a 20% de biodegradação de polietileno (PP), polipropileno (PP), poliestireno (PS) e PET. Procurado por e-mail por Plásticos em Revista, Rob Huegli, presidente da BioSphere Plastic, confirmou o recebimento das perguntas e negou-se a informar os ingredientes aditivos do seu produto e as diferenças entre sua rota química e a da concorrência. Huegli também não explicou sua ausência entre os expositores na edição de 2019 da feira alemã K, a nº1 do plástico mundial e focada no alinhamento do material com a sustentabilidade. Também não citou exemplos de múltis de bens de consumo cujas embalagens levam o seu aditivo biodegradável. Para qualquer petroquímica, aliar às resinas um aditivo desses seria cortar o mal pela raiz − a vilanização do plástico base petróleo pela fúria ambientalista. Pois Huegli se furtou a apontar indústrias que hoje blindam seus termoplásticos com a poção milagrosa da BioSphere. O site da empresa faz menção à constituição de um distribuidor na América do Sul, mas o CEO se cala quando perguntado quem é o agente e seu endereço no Brasil.
Huegli também não respondeu se seu produto é o aditivo nos bastidores dos biodegradáveis filmes de poliéster biorientado (BOPET) Ecophane, lançados pela transformadora Terphane com garantia de decomposição na média de quatro anos em condições anaeróbicas. “Não abrimos os aditivos utilizados por serem informações importantes de segredo industrial”, alega Andre Gani, diretor comercial e de marketing para América Latina. Como grande parte de BOPET segue para laminados, a biodegradação de Ecophane colide com o problema de outros materiais da embalagem, em especial PE, não se decomporem pela ação de micro-organismos. Gani concorda com isso, mas encaixa que transformadores como o Valgroup já dispõem de uma solução de PE biodegradável em condições de aterro. “Isso possibilita a convertedores e brand owners o acesso a embalagens de PET+ PE 100% biodegradáveis”, ele nota.
Ponto cardeal do Brasil em flexíveis, tampas, garrafas de PET e reciclagem, o Valgroup apregoa em seu site a disponibilidade do aditivo biodegradável da BioSphere Plastics. “Temos a exclusividade na compra dele no Brasil para uso em todos os produtos da nossa linha comercial”, atesta Eduardo Berkovitz, diretor de relações institucionais do Valgroup. Diante de perguntas sobre tópicos como os ingredientes ativos e rota química do aditivo biodegradável, assim como as condições para sua degradação se consumar, preço do filme de PE ou PP que o incorpora e quais entidades regulatórias o homologaram, Berkovitz declina de esclarecer considerando tais informações sensíveis para divulgação e diz que o Valgroup está analisando e testando o produto da BioSphere em várias aplicações junto com clientes.
No consenso das petroquímicas, um aditivo biodegradável não desfruta o nível de preferência pela reciclagem como contribuição técnica à sustentabilidade, deixa claro Edison Terra, coordenador da Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas da Associação Brasileira da Indústria Química e vice-presidente da Braskem. “O setor está aberto a testar e co-criar soluções estimuladoras do consumo consciente, gerenciamento de resíduos e redesign de produtos e embalagens”, ele pondera. “Mas é preciso investir na educação ambiental de todos os atores, da produção ao pós-consumo, em prol das melhores decisões e da capacidade de reciclagem e reúso do plástico”. Miguel Bahiense, presidente da Plastivida, acrescenta que o aumento da reciclagem também depende de informação correta difundida de ponta a ponta da sociedade. “Mas um outro lado da moeda aflora quando uma indústria, no desejo de apresentar respostas a diversos questionamentos, aparece com alguma solução que pode sair pior que a encomenda”, ele coloca. “A difusão dos esclarecimentos bem fundamentados é vital para não se apoiar tecnologias fake. Sem isso, corremos o risco de deparar com soluções mirabolantes, ineficientes e capazes de prejudicar ainda mais o meio ambiente”. •