Para a indústria brasileira, a trilha sonora do primeiro semestre é “Águas de Março”, de Tom Jobim, tocada num CD com defeito, pois não sai daquele trecho: “é o fundo do poço/é o fim do caminho”. Como era de se esperar, a barra pesou para os lados da cadeia do plástico, efeito de sua condição de sensor extra oficial da economia em geral. De janeiro a junho último, ela amargou queda na produção e exportações, enquanto a importação de artefatos acabados cresceu. O exercício atual destoa como nunca do padrão clássico de aquecimento do mercado às vésperas de eleições, admite José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Na entrevista a seguir, o dirigente se debruça sobre a calmaria na transformação, de nervos hoje eriçados pelas expectativas nas trevas.
PR – Pelo balanço do primeiro semestre, 2014 já pode ser dado com um ano perdido para a transformação?
Roriz – De início, a perspectiva para 2014 era muito melhor do que foi para 2013. No primeiro trimestre deste ano, o movimento indicava aparente melhora. As empresas acreditavam que Copa do Mundo e eleições seriam fatores positivos para o mercado, pois os governos estaduais e federal gastariam mais. Porém, no segundo trimestre, percebemos que teríamos problemas ao longo do ano e, mais grave, corremos o risco de ter um 2014 bem pior do que o exercício anterior.
PR – Qual é o balanço para o setor em termos de produção e comércio exterior no primeiro semestre?
Roriz – Tivemos queda de 1,9% na produção, ao passo que houve aumento de 5,7% nas importações e as exportações caíram. O mercado foi menor para nós e, além disso, tivemos maior participação de importados. Assim, a balança comercial do setor piorou quase 12%, se somarmos o que deixamos de exportar ao que entrou no Brasil em relação ao ano passado. Os números do primeiro semestre foram terríveis para a indústria de transformação de plásticos.
PR – Houve mudanças na pauta dos importados ou flexíveis continuam liderando?
Roriz – Não houve mudança. Vimos que os alimentos diminuíram de preço no segundo trimestre. Mas, com relação a alimentos mais elaborados, que requerem embalagens sofisticadas, as importações continuam aumentando. Houve queda violenta na indústria automobilística e a construção civil retroagiu. Em alguns Estados, ainda há investimentos em infraestrutura. De forma geral, porém, o setor está ruim. Dividimos infraestrutura em dois subsetores. O primeiro está relacionado a obras estruturais do governo, como rodovias, e o segundo com construção e modernização de estádios e aeroportos, por exemplo. O segundo parou. As obras acabaram, os estádios estão prontos e, pior, quem estava trabalhando foi para a rua. Ou seja, as projeções boas para o primeiro semestre não se concretizaram e, olhando para o final do ano, não há evidência de qualquer melhora.
PR – Já presenciou algum ano eleitoral nessas condições?
Roriz – Não. Até porque nas últimas eleições presidenciais o PIB cresceu mais de 7%. O nosso setor tem alguns problemas estruturais, mas estamos, nessa conversa, abordando os problemas gerais do Brasil. O país passa por um período em que a economia exige mudanças bastante radicais.
PR – Desde 2011, o governo adotou uma política de crescimento na contramão do Plano Real, com expansão da dívida pública, juros altos e câmbio depreciado. Quais os reflexos desse tripé para a transformação de plásticos?
Roriz – O grande impacto é no investimento. Os transformadores não investem porque não há boas perspectivas. Não há competitividade para concorrer com produto importado e para exportar.
PR – Mas a indústria de plásticos sempre exportou pouquíssimo, em qualquer governo.
Roriz – Mas não há perspectiva de que isso vá melhorar. Isso acontece, primeiramente, por conta da valorização do câmbio e depois pela falta de competitividade intrínseca à transformação, com altos custos de energia, matéria-prima e de pessoal. Das cinco maiores indústrias de transformação brasileiras, a de plásticos ocupa o terceiro lugar e é a que paga maiores salários. Com as altas taxas de juros e real valorizado, a competitividade piora. Assim, cada vez mais entregamos o crescimento do mercado interno aos artefatos importados.
PR – Em outra aposta de crescimento via aumento de consumo, o governo partiu para desonerações tributárias a setores escolhidos, todos fortes mercados de transformados, como o automotivo, eletrodomésticos e materiais de construção. Qual o risco de esse tipo de ação tornar as indústrias finais no Brasil viciadas em muletas fiscais?
Roriz – Não considero isso muleta fiscal nem subsídio. A indústria de transformação em geral representa 12,5% ou 13% do PIB. De todos os impostos recolhidos no Brasil, ela paga mais de 33%, um terço do total. Então não é a indústria que tem subsídio, mas os setores que têm maior participação no PIB e recolhem menos impostos. Os produtos tradable (comercializáveis internacionalmente) precisam, sim, ser desonerados. Como não se exporta tributos, os produtos que desembarcam aqui muitas vezes chegam com carga tributária bem menor do que os produzidos localmente.
PR – Mas e quanto aos materiais de construção?
Roriz – Não podemos misturar as coisas. O governo tem várias frentes. Uma delas é privilegiar o consumo. Para a construção civil, incentivos foram dados para aumentar investimentos e favorecer a população de baixa renda. Não é a isso que me refiro. Meu ponto é que a indústria de transformação local precisa de custos mais baixos para produzir. A indústria necessita de um câmbio competitivo. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o real esteve supervalorizado, enquanto em países que competem com o Brasil, como México e China, a política cambial foi muito mais favorável à indústria. Com alta nos juros, no Real e na carga tributária, algo precisa ser feito para não matar a indústria. Além disso, quando há aumento de renda, as pessoas buscam produtos transformados, como carros e geladeiras, que levam metais e plásticos. Se não houver competitividade para produzir esses bens, eles precisarão vir de fora. A China se industrializou em paralelo ao aumento de renda. Já no Brasil, a renda aumentou, mas a competitividade da produção local caiu.
PR – Os últimos quatro anos também marcaram pela piora do protecionismo no Brasil. Segundo a OMC, o país foi campeão mundial em investigações antidumping entre junho de 2012 e julho de 2013. Em 2013 foram 54 ou quase 50% dessas investigações feitas no mundo. Sem abertura e com tarifas de importação altíssimas, como cobrar competitividade e inovação da transformação de plásticos?
Roriz – A maioria dos pedidos de investigação antidumping é para produtos monopolizados ou oligopolizados, empresas que têm uma força política grande e centradas em poucos itens. É mais fácil fazer antidumping de um produto que de uma família inteira. Em transformados plásticos são mais de 3.000 produtos. É difícil fazer um pedido de antidumping para cada um. Enquanto isso, é menor o número de produtos no topo da cadeia plástica. Esse recorde que batemos é prejudicial às cadeias produtivas.
PR – Esse problema se estende a máquinas, com tarifas altíssimas para importação.
Roriz – Se estende, principalmente, onde não há concorrência. Quando há muita, pode haver dumping.
PR – O Mercosul até hoje só fez acordo de livre comércio com Israel, Palestina e Egito, enquanto o México tem 32 acordos. Quais as consequências específicas desse quadro para a indústria do plástico, que sempre marcou por exportações irrelevantes, inclusive com ajuda de resina mais barata para tanto?
Roriz – É suicida esse processo de continuar atrelado ao Mercosul e perdendo oportunidades de fazer acordos com regiões de maior crescimento. Houve uma grande acomodação com os países da região; isso foi muito prejudicial. Hoje em dia, o Brasil está afastado de qualquer outro bloco comercial que permitiria o avanço do país, inclusive em tecnologia. A Argentina sempre foi um de nossos principais parceiros comerciais. O Brasil se acomodou em vender pouco para lá e a Argentina se acomodou em ter como vizinho um país grande com consumo crescente (ver seção Tendências). Porém, nos tornamos uma ilha enquanto o mundo fez outras composições, muito mais benéficas aos países participantes. Nossas trocas são muito menores do que poderiam ser pela potencialidade do Brasil.
PR – Esse jogo já está perdido?
Roriz – Perdemos um bom tempo com isso. Vai ser difícil recuperar.
PR – Desde sempre, salvo uma ou outra exceção, grandes transformadores brasileiros mostram-se de olhos presos no mercado interno, indiferentes às possibilidades de internacionalizar seu negócio. Por que não acordam para isso?
Roriz – A cadeia de plásticos no Brasil sempre foi pouco competitiva para exportar.
PR – E para colocar fábricas em outros países?
Roriz – A cadeia também se acomodou com o Mercosul e não foi buscar oportunidades lá fora. Isso vai ter que mudar. As empresas precisam buscar escala global, tecnologias internacionais, acordos comerciais e novas parcerias.
PR – Além do despreparo do chão de fábrica, surgem sinais de desinteresse da nova geração por trabalhar na área industrial da transformação de plásticos. Como o setor encara esse problema?
Roriz – Trata-se de uma tendência natural quando há aumento de renda e pessoas que buscam mais qualificação. Isso acontece no mundo inteiro. A renda per capita do Brasil está em torno de US$ 11.000 por ano. Em um país na entrada do desenvolvimento, em média, o valor é de US$ 22.000. No Brasil, há uma taxa de desemprego muito baixa e a indústria do plástico concorre com vários outros setores. Onde há mais desemprego, as pessoas aceitam qualquer tipo de trabalho.
PR – O setor de serviços, então, atrai muito mais do que a indústria?
Roriz – Não só isso. Com seguro desemprego, muitas pessoas saem do trabalho, pegam esses benefícios e vão trabalhar informalmente em outros setores. A única forma de atrair trabalhadores é pagando mais.
PR – Qual sua projeção para o PIB e indústria de transformação este ano? E para 2015?
Roriz – O crescimento da indústria de transformação, se não for negativo, será zero, portanto menor que o PIB. Teremos uma entrada maior de produtos importados no segundo semestre. Há uma oferta muito grande de produtos no mercado internacional e, com a crise econômica, países produtores procuram regiões alternativas. Vejo isso com muita preocupação. O ano será perdido para a transformação. O Brasil não pode fazer mais do mesmo. Esse modelo econômico baseado no consumo está esgotado. Para mudarmos desse modelo para um mais competitivo, teremos de mexer no câmbio, nos juros e, com isso, há impacto na inflação. Será preciso melhorar a gestão dos gastos do governo, segurar o aumento de impostos. Assim, se o governo não gastar menos, não terá como fazer investimentos. Acredito que 2015 e 2016 serão períodos difíceis de arrumação e não de expansão.
PR –O próximo governo conseguirá fazer todas as arrumações necessárias?
Roriz – O governo anterior (N.R.- governo Lula) fez um equilíbrio estático. Não houve pressão dos bancos por conta das taxas de juros e aumento de crédito. Na indústria, principalmente os grandes empresários tiveram acesso fácil a Brasília e conseguiram concessões do governo acima do esperado. A classe média foi beneficiada pelo câmbio valorizado e conseguiu viajar para o exterior. De outro ângulo, 55 milhões de pessoas foram favorecidas via Bolsa Família, Luz para Todos e Minha Casa, Minha Vida. Esse equilíbrio existiu durante todo o governo Lula. Porém, houve um descuido na qualidade dos serviços públicos, que estão deteriorados e onde a corrupção tornou-se generalizada. Embora o equilíbrio estático tenha acontecido, existe hoje uma sensação de que tudo está ruim. Além disso, o Brasil parou de crescer. Não há mais como aumentar a renda. Agora, isso só é possível com maior produtividade. Estamos metidos num nó. Para mudar, é preciso quebrar o equilíbrio. Mexendo no câmbio, a classe média vai viajar menos, haverá impacto na inflação e os importadores terão dificuldades. Hoje, de cada quatro itens manufaturados (N.R.- em geral) ofertados no Brasil, um é importado. O presidente eleito terá de mexer em alguns vespeiros, mas não dá para continuar da mesma forma.
O plástico algemado
Resinas recebem um abraço de afogado da recessão
O balanço das resinas commodities no primeiro semestre estatelou-se a reboque do descarrilamento da economia brasileira. Salgado por juros altos, inflação à solta e inadimplência de tirar o sono, o clima já nublado por sucessivas revisões para baixo do PIB deste ano causou escoriações generalizadas na cadeia do plástico. Dados sobre os primeiros seis meses compilados pela consultoria MaxiQuim e relativos a todas as resinas commodities convergem para uma queda de 5% no mercado interno. Nos terminais da Braskem, produtora solo no país de polietileno (PE), polipropileno (PP) e, junto com a Solvay, de PVC, apontam descida da ladeira de 3%. O cálculo é circunscrito ao trio de resinas do portfólio do grupo, produtor solo no país de polietilenos (PE), polipropileno (PP) e, junto com a Solvay, de PVC.
O tom funéreo também perpassa da varredura da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). No primeiro semestre, esquadrinhou a entidade, o consumo aparente das resinas commodities recuou 3,1% perante os seis meses iniciais de 2013. No bojo do mesmo comparativo, a produção encolheu 5,2% e as exportações, 9,1%. Já a mediana das importações manteve-se estável, fechando no positivo com 0,3%. Outro indício do tremor de terra captado pela Abiquim foi o índice de ocupação da capacidade instalada: na casa de 78% no semestre passado contra 81% de janeiro a junho de 2013. Como deixa subentendido Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, a possibilidade de virada no jogo é a mesma de o pastor Everaldo vencer a eleição presidencial. “Dificilmente o quadro negativo do início deste ano conseguirá ser revertido no segundo semestre”.
Solange Stumpf, sócia executiva da MaxiQuim, projeta estagnação ou encolhimento da indústria do plástico se o quadro econômico persistir. Por seu turno, Carlos Fadigas, CEO da Braskem, declarou antever para seu negócio um terceiro trimestre superior à primeira metade do ano, o que resultaria em crescimento do consumo aparente para suas resinas de, no máximo, 1% no fechamento de 2014.
Para Solange, os polêmicos incentivos dados pelo governo Dilma a determinados setores, como linha branca, automobilístico e materiais de construção, têm apenas efeitos pontuais. “Eles atendem a uma demanda reprimida num momento específico, mas depois passam a ter efeito contrário”, ela assinala. De acordo com a especialista, a Copa do Mundo foi benéfica para alguns nichos de transformados de plástico. Entre eles, despontam embalagens de PE e PP para bebidas e alimentos, engradados de polietileno de alta densidade (PEAD) e PP. “Porém, em nenhum caso o aumento da demanda superou o impacto negativo da situação econômica no consumo final”, acrescenta a analista.
Poliolefinas
No flanco de PE, o suprimento para filmes transcorreu razoável e dentro do esperado de janeiro a junho, pondera Solange. A Copa alavancou a injeção de caixaria para bebidas, enquanto o agronegócio, viga mestra da balança comercial brasileira, registrou demanda forte por películas para plasticultura e lonas, ela pontua. Preços médios dessas resinas ficaram estáveis em reais, constata a consultora, mas em dólares subiram 4% comparando junho deste ano com dezembro de 2013. “A tendência de preços no Brasil é muito parecida com a norte-americana”, ela compara.
Segundo dados da Braskem, a produção dos três tipos de polietilenos no Brasil declinou 9,67%, saindo de 1,29 milhão de toneladas no primeiro semestre de 2013 para 1,17 milhão de toneladas no mesmo período este ano. Vendas domésticas desse polímero totalizaram para a empresa 870.344 toneladas entre janeiro e junho, queda de 2,68% sobre 894.329 um ano antes. Segundo análise da Braskem, o resultado do mercado interno não pode ser considerado ruim, pois a base de comparação foi muito dilatada. “O primeiro semestre de 2013 foi 19% maior que o período no ano anterior”, informou a empresa.
Já as exportações sofreram tombo de 19,02%, saindo de 363.939 toneladas para 294.725 nos primeiros semestres de 2013 e 2014, respectivamente. “A queda é atribuída à restrição na disponibilidade de produto devido à parada programada geral de manutenção nas plantas de PE em Triunfo (RS)”, alega a Braskem. Com relação a importações de PE, o recuo aferido pelo grupo foi da ordem de 5,81%, de 452.544 toneladas para 426.268, fixou a empresa, citando como fonte o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Os segmentos de PE que apresentaram maior crescimento na comparação dos semestres iniciais de 2014 e 2013, de acordo com a corporação petroquímica, foram os de rotomoldados como cisternas, a tiracolo do programa governamental “Água Para Todos”; sacolas e coatings, redutos não abalados pela retração no varejo. Para o restante do exercício atual, a principal alavanca para o avanço do mercado de PE é a produção de alimentos e de artigos de higiene pessoal e limpeza doméstica, aposta a empresa.
Com relação a PP, a demanda foi afetada negativamente pelo desempenho fraco de setores relacionados a bens duráveis, como automotivo e eletrodomésticos, retoma o fio a dirigente da MaxiQuim. “Os produtos que apresentaram expansão, mesmo moderada, estão relacionados a itens não duráveis, como alimentos, bebidas e higiene pessoal”, ela esclarece. A melhora nesses segmentos, contudo, não compensou para PP a forte queda nos demais. Os preços médios da resina, da mesma forma, andaram de lado em Reais de janeiro a junho último e aumentaram 3% quando cotados na moeda norte-americana. As tendências de preços de PP no mercado doméstico seguem parâmetros asiáticos, considera Solange.
No Brasil, a Braskem produziu 768.297 toneladas de PP no primeiro semestre, 7,88% a menos que as 834.025 toneladas em igual período de 2013. Vendas internas da resina foram 8,77% menores, saindo de 647.457 toneladas para 590.645. As exportações se saíram melhor, deixam claro os indicadores do grupo, saltando de 138.930 toneladas para 180.653, alta de 30,03%. Do seu lado, as importações também cresceram, de acordo com o MDIC, de 138.093 toneladas nos primeiros seis meses de 2013 para 158.441 toneladas na metade inicial de 2014, 14,73% a mais.
A indústria de compostos, pelo observatório da Braskem, constituiu o reduto de PP de queda mais acentuada no semestre passado, efeito lógico das vendas emperradas de carros. Existe uma expectativa de melhora para o segundo semestre, acredita a empresa, motivada por um ambiente econômico mais favorável e estímulos do governo para aquecer o setor, incluindo acesso a crédito e redução do IPI. Na contramão, o início do ano foi positivo para o consumo de eletrodomésticos, impulsionado pela demanda sazonal e Dia das Mães. Entretanto, a melhora não foi suficiente para contrabalançar a derrapada no segundo trimestre, comentou a Braskem.
Grata surpresa foi o mercado de BOPP, que apresentou leve expansão entre janeiro e junho último, aferiu a empresa. A demanda, sublinha a Braskem, foi favorecida pela reconstrução de estoque na cadeia para o consumo durante a Copa. O movimento foi positivo até maio, mas vem desacelerando desde então. Por sua vez, atestam análises da empresa, as vendas de PP para embalagens rígidas e descartáveis apresentaram então crescimento acima do PIB (indicador que tem primado por avanços insatisfatórios) na primeira metade do ano, com destaque para potes de sorvete, pendurados no estribo da sazonalidade no verão. Na visão da Braskem, a expectativa de retomada do setor industrial, traz expectativa de estabilidade já para esta metade final do ano.
PVC
A demanda por PVC no primeiro semestre sofreu com a estagnação da construção civil e infraestrutura, principais mercados do vinil, afirma Solange Stumpf. Os preços da resina aumentaram 4% em dólares entre o fim de 2013 e junho de 2014 e ficaram estáveis em real. O viés dos preços brasileiros, comenta Solange, acompanha o da Ásia.
A produção de PVC da Braskem subiu 6,75% nos primeiros seis meses do ano, saindo de 293.553 toneladas para 313.356. No mesmo período, suas vendas internas do vinil recuaram 1,92%, totalizando 319.496 toneladas ante 325.744 t entre janeiro e junho de 2013. Quanto às importações brasileiras de PVC, expõe o grupo, saíram de 272.048 toneladas no primeiro semestre do ano passado para 231.560 na primeira metade de 2014, recuo de 14,88%. Exceção feita às importações, os números coligidos pela Braskem não computam os volumes da Solvay Indupa, cujos ativos são objeto de processo de aquisição pela Braskem, transação em aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pendente até o fechamento desta edição. Aliás, consultada por Plásticos em Revista, a Solvay Indupa alegou não poder falar devido aos trâmites da negociação em órgãos reguladores no Brasil e Argentina.
A Braskem projeta contida retração do mercado do vinil até o final do ano. A queda é atribuída à incerteza econômica e política no âmbito doméstico, bem como resfriamento da construção civil. A propósito, estudo recente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) afere déficit de 5,7% no movimento acumulado de janeiro a julho último versus o mesmo período em 2013.
A expectativa da petroquímica é de retomada em 2015, com melhor definição dos rumos do país após as eleições. No entanto, o aumento do preço da energia, insumo vital para a fabricação de PVC, agendado para o próximo ano é ponto de alerta para a empresa. De acordo com a Braskem, o Brasil carece de ambiente mais competitivo às indústrias da cadeia química e do plástico. Os custos de energia, prossegue o grupo, são altos perante os de referências como EUA, China e países europeus como a Itália. Do lado da demanda, a Braskem enxerga com lentes róseas o horizonte para a produção nacional de perfis de PVC, nos ombros de aplicações a exemplo de telhas e esquadrias de portas e janelas.
PET
Na percepção da MaxiQuim, o tiro saiu pela culatra. O esperado aumento no consumo de bebidas não alcoólicas durante a Copa do Mundo não rolou e, assim, o reduto de PET ficou na mesma nos seis meses iniciais. Para Solange, o efeito pontual do torneio não teve impacto real no semestre passado. “Houve apenas alguns desenvolvimentos específicos de embalagens”, ela nota. Quanto ao preço do poliéster, seguindo parâmetros asiáticos, caiu 4% em reais entre dezembro de 2013 e junho de 2014 e apresentou estabilidade na cotação em dólar, expõe a analista.
A M&G, maior produtora de PET no país, não quis dar entrevista e a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) afirmou não dispor dos dados da primeira metade do ano solicitados por Plásticos em Revista.
PS
Para a sócia executiva da MaxiQuim, todos os segmentos de PS padeceram de anemia no primeiro semestre. “A demanda por eletrodomésticos foi muito baixa, enquanto a de descartáveis não reagiu como era esperado”, ela assevera. Quanto aos preços médios da resina, subiram 1% em real e 5% em dólar desde o fim do ano passado, ela complementa.
Wendel Oliveira de Souza, diretor de estirênicos do Grupo Unigel, arredonda a produção brasileira de PS no primeiro semestre em 180.000 toneladas, correspondendo a declínio de 3% sobre o mesmo período no ano anterior. “O motivo da piora foi a realização da Copa do Mundo. O consumo de itens da linha branca, principalmente geladeiras, foi substituído pela linha marrom, com televisores”, ele lamenta.
Pelas estimativas da Unigel, a importação de PS subiu de leve no primeiro semestre de 2014, chegando a 11.000 toneladas contra 10.000 em iguais meses em 2013, ao passo que a exportação diminuiu, totalizando 8.000 toneladas de janeiro a junho último versus 15.000 precedentes nos seis meses iniciais do ano anterior. Na calculadora de Souza, o consumo aparente fechou o semestre passado na casa de 175.000 toneladas, abaixo das 185.000 registradas por ele na primeira metade do exercício precedente.
Mas 2014 não está perdido, sustenta o executivo. “A expectativa é de recuperação neste semestre, devido à melhora natural da economia no período”, julga, acentuando que a circunstância das eleições também devem favorecer seu setor, alusão evidente a medidas do governo como as de estímulo ao crédito para reanimar a economia quando a população for às urnas. Com isso, amarra Souza, é esperado que a produção nacional de PS totalize 384.000 toneladas no ano cheio, enquanto o consumo aparente deve chegar a 390.000 toneladas, com descartáveis no topo, seguidos pela linha branca. O diretor considera em seu cômputo na atividade da fábrica de 120.000 t/a da Unigel no Guarujá (SP), excluindo a planta do grupo hoje em hibernação em São José dos Campos (SP), com potencial para 190.000 t/a. Apoiado nessas premissas, Souza projeta que a taxa de ocupação da capacidade brasileira de PS deverá atingir 85% este ano. O cálculo também compreende a capacidades nominais de 120.000 t/a da Videolar em Manaus (AM) e a planta de 155.000 t/a da Innova em Triunfo (RS). “Pelos estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e por nossas análises, o Brasil precisará reativar nossa maior unidade a partir de 2016”, completa o executivo da Unigel.
As estimativas de Marcos Pires, coordenador de marketing e inteligência de mercado da Innova, alinham-se com as de Wendel de Souza. “As expectativas para a Copa do Mundo não se confirmaram. Além disso, a confiança econômica do brasileiro está afetando o consumo e investimentos no país”, ele lastima. No quesito comércio exterior , Pires calcula, em relação ao primeiro semestre, um incremento de 9% nas importações de PS e queda de 30% nas exportações. Até o fim do exercício, o especialista da Innova não espera melhora na produção de PS no país e, ao contrário de Souza, projeta desaceleração por conta das eleições.
Para a fábrica de 190.000 t/a da Unigel ser religada, analisa Pires, será necessária uma reação muito forte da demanda interna, algo que não deve acontecer a curto prazo. “No momento, produtor de PS algum roda a pleno porque o mercado não está aquecido”, ele argumenta. Apesar da calmaria, a Innova lança até dezembro um grade para linha branca, cujo ponto alto é o aumento de produtividade proporcionado ao transformador, abre conciso Pires.
A Videolar preferiu não participar da reportagem. A empresa pretende comprar da Petrobras os ativos da Innova, mas o desfecho da transação depende da luz verde do Cade, não avistada até o fechamento desta edição. •