Em pequenas quantidades, fosfato é um nutriente fundamental para o florescimento das plantas. Se aplicado com exagero, seu efeito é tóxico. Adepta da fertilização artificial, a agricultura industrial emprega fosfato em larga escala e de forma desmedida, segundo uma corrente ambientalista, a ponto de ele passar das fazendas para rios, lagos e oceanos, avariando a vida marinha. Outra rota de colisão com o ecossistema: estudo da Institution of Mechanical Engineers calcula que a produção de um quilo de carne bovina requer 15.000 litros de água fresca contra apenas 287 de um quilo de batata.
Por essas e muitas outras que mantêm a espada da sustentabilidade sobre suas cabeças, a pecuária e a agricultura do Brasil, motores da nossa economia e formadores de preços internacionais, sentem-se forçadas a polir a vidraça de sua imagem institucional, volta e meia alvo de pedradas ecoxiitas. Agora mesmo foi noticiado que frigoríficos do Brasil armam aparição na mídia internacional para dissociar o setor das queimadas na Amazônia e, assim, resguardar as exportações e acentuar seu apoio à causa verde.
Sobram argumentos em prol do valor do agronegócio industrial, seja no plano da excelência tecnológica, força de trabalho, geração de riquezas e saudabilidade. O setor plástico, hoje execrado a torto e a direito e cuja imagem nunca fez jus à sua real contribuição para a humanidade, tem uma senhora fonte de inspiração na presteza do agronegócio em reagir às ecocríticas e em sua certeira estratégia institucional, ilustrada pela campanha “agro é tech, agro é pop”.
O plástico reúne todas as condições de desfilar como a matéria-prima mais benéfica já inventada. O roteiro das suas credenciais pode começar pegando carona no agronegócio, ponto de partida do maior (em volume) mercado do plástico, as embalagens de alimentos. Na primeira metade do século passado, uma selfie indigesta do Brasil foi tirada pelo livro “Geografia da Fome”, no qual o médico Josué de Castro traçava o vergonhoso mapa das carências nutricionais do país, demarcando áreas como as de subnutrição, fome endêmica e epidêmica Se transposto para hoje, o mosaico alimentar de Castro exigiria redesenho radical, pois, embora ainda em cena, o problema da fome arrefeceu a ponto de a desnutrição vir agora bons corpos abaixo da obesidade no perfil epidemiológico do brasileiro.
Direto ao ponto: se, de lá para cá, o brasileiro passou a comer mais e melhor com reflexos na sua saúde, provam indicadores como os de longevidade, muito do mérito cabe ao plástico. Ao lado da industrialização dos alimentos e da expansão da malha viária, a população ganhou acesso, em todo o território nacional, a alimentos mais baratos devido à alongada vida útil proporcionada pela embalagem plástica, produzida com qualidade, custos e escalas impensáveis no acondicionamento com outros materiais.
Nos anos 1960, o consumo nacional de refrigerantes e água mineral era restrito devido ao preço e produção limitada da garrafa de vidro. PET quebrou esse paradigma. Democratizou o acesso desses produtos, mesma revolução instaurada pelo plástico e desfrutada até hoje não só por qualquer alimento industrializado, mas por setores que, graças às resinas, se transfiguraram em rentáveis mercados de massa, como o de higiene pessoal e beleza ou limpeza doméstica. Há contribuição maior do que elevar o padrão de vida?
Descartáveis plásticos, com copos multiuso à frente, são chutados feito Judas em Sábado de Aleluia pelos evangelistas da economia circular. É bem provável que eles pensariam duas vezes, antes de culpar pelo dano ambiental o produto e não quem o descartou incorretamente, se ficassem a par da história desse copo de plástico. Nos EUA do século XX, era costume beber água potável nos chafarizes de praças, em canecas metálicas comunitárias. Uma consequência da contaminação causada foi um pulo na incidência de doenças como tuberculose que assustou a saúde pública, salva pela inspiração dada pelo enrosco a um transformador que sanou o problema criando o copo plástico de uso único.
O plástico tem muitas dessas histórias para contar. Da mesma forma que é preciso alguém para descartar corretamente uma embalagem de uso único, não há argumento que seja captado sem ter sido comunicado. Ainda mais quando há cada vez menos gente disposta a ouvir os dois lados para julgar.•