Internet e a questão ambiental penetraram, feito cavalos de troia, até em mercados no passado vistos como avessos a elas. São causa e consequência da nova economia, um termo tão abrangente e vago, pondera o professor de Oxford Eric Beinhocker, que é mais fácil de definir pelo que não significa. Nessa linha, a nova economia renega a teoria tradicional de que os homens são racionais, os mercados eficientes e as instituições sólidas e perfeitas. A raiz dessa mudança radical de visão é a criação, hoje em andamento, de uma economia mais fiel à vida real, um processo dependente não só do reexame da ciência econômica, mas da contribuição de outros campos a ela relacionados, a exemplo do estudo avançado do cérebro, a epidemiologia, ecossistemas e – olha aí elas de novo – a tecnologia da informação e as mudanças climáticas.
Esta dupla virou serviços, comércio e indústrias de pernas para o ar e o setor plástico, devido à sua infinidade de mercados e aplicações, foi levado de roldão. Na indústria automotiva, por exemplo, reduto revolucionado pelo plástico no século XX, a digitalização hoje relega os componentes do material à condição de um hardware, uma solução coadjuvante para acomodar a menina dos olhos, a eletrônica embarcada nos carros. Não é mais o painel injetado de instrumentos que faz cair o queixo do mercado, mas o infotainment armazenado nele. Ou seja, os sistemas de informação e entretenimento que incluem recursos como os de áudio, navegação e telemática (canal de comunicação entre base e auto). Além dessa saída da vitrine futurista, o plástico já ouve a contagem regressiva, aberta pela era digital e a eletrificação do motor, para marcos históricos seus, desde o tanque de combustível aos componentes sob o capô, evidenciando aos transformadores dessas autopeças pela bola sete a necessidade urgente de reinventar seus negócios.
É a mesmíssima crise existencial instaurada em indústrias de descartáveis e embalagens plásticas de uso único pela devoção crescente de países e fabricantes de produtos de consumo rápido (alimentos, cosméticos, artigos de limpeza etc) ao desenvolvimento sustentável e economia circular. Para complicar o enrosco, marcas formadoras de opinião mundial em produtos finais e que juram ser parceiras da cadeia plástica que as supre de embalagens, volta e meia trombeteiam na mídia estarem desenvolvendo ou buscando alternativas que as livrarão daquele seu fiel aliado, o material de fonte fóssil. São razões de sobra para transformadores de utensílios domésticos, sacolas, laminados, copos e por aí vai repensarem sua vocação, pois a ameaça de extinção está escrita a tinta na parede para quem tem olhos para ver.
Para o escritor Michael Lewis, a regeneração de uma empresa não depende, obrigatoriamente, de uma sacada zero bala. Afinal, ele pondera, quase tudo já foi considerado por alguém em algum momento. O pulo do gato é o que ele chama de a nova novidade – uma idéia à beira da viabilidade comercial, dependente apenas de um leve empurrão para emplacar e, mais adiante, mudar o mercado. “A busca da nova novidade é acompanhada daquela doce e dolorida sensação que experimentamos quando não conseguimos nos lembrar de uma palavra que parece estar na ponta da língua”, assinala Lewis. Para a maioria das pessoas, nota, lembrar a palavra dá aquele alívio. “Elas se recostam na cadeira e tentam fugir de outras palavras difíceis”. Acontece que quem busca novas novidades não quer sentar, quer continuar a tatear no escuro, Lewis amarra as pontas: “Uma das pequenas ironias do progresso econômico é que, mesmo frequentemente resultando em níveis mais altos de conforto, ele dependa de gente que prefere não ficar confortável demais”.
A indústria do plástico cabe na nova economia, desde que tope levantar da cadeira. •