De volta às compras

De volta às compras

Point do plástico em bens primários, o varejo supermercadista entrou no ano com o pé direito. Varredura do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) registrou reação de 2,3% nas vendas de janeiro, dando o troco na queda de 1,7% em dezembro passado e embasando as expectativas de analistas do ramo cravando crescimento aproximado de 5% para 2018. O combustível da reação é aditivado por fatores como inflação e juros baixos, redução do endividamento das famílias, melhora de leve nos índices de emprego e na massa salarial, ensejando inclusive o retorno ao carrinho de compras de determinados supérfluos, a exemplo de manteiga, requeijão e azeite de oliva, decepados do orçamento doméstico nos últimos quatro anos de pindaíba no consumo. O jogo ainda não está ganho, pois, no plano geral, projeções insinuam que, mantido o andar atual da carruagem, apenas em 2021 o consumo no Brasil recobrará os níveis de 2013. O astral de virada de página, emanando bons fluidos para o setor plástico, transparece nesta entrevista exclusiva de Pedro Celso Gonçalves, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas).

Pedro Celso Goncalve PRESIDENTE da APAS
Gonçalves: preferência dominante pela promoção “leve mais pague menos”.

PR – Entrevistados pelo SPC Brasil acham que seu poder aquisitivo e a economia pioraram em 2017, inclusive porque os preços dos produtos em geral encareceram muito. Esse fator e o temor do futuro levaram os respondentes à intenção de restringir este ano os gastos domésticos, evitar refeições fora de casa e o uso do cartão de crédito. Como esse comportamento tem afetado as compras de alimentos em supermercados?
Gonçalves – No ano passado, a inflação referente à alimentação fora de casa, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), foi de 3,83%. Já o Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Apas/ Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), foi de -2,30%. São números que impulsionam o gasto no lar, pois o consumidor passa a fazer a socialização dentro de casa e, para isto, se volta ao supermercado para realizar as compras da cesta de confraternização. Produtos como cerveja e petiscos (lácteos e derivados de carne) tomam impulso neste momento e os supermercados preparam o sortimento para aproveitar este comportamento do consumidor. No mais, vale lembrar que a retomada da economia começou no segundo semestre de 2017e resultou no aumento do PIB na ordem de 1%.

PR – Pela pesquisa do SPC Brasil, o consumidor também tem evitado levar produtos supérfluos nas idas ao supermercado. Quais seriam os principais exemplos desses artigos afetados em suas vendas pelo retraimento do público?
Gonçalves – De forma geral, os supérfluos sofrem em todas as categorias de produtos. Nos alimentos e bebidas, por exemplo, temos sucos, sobremesas, comidas prontas ou congeladas e energéticos. Na limpeza, os purificadores de ar e produtos premium específicos. Em higiene e beleza, nota-se a procura por produtos mais básicos em detrimento das opções premium, principalmente para cuidados dos dentes, cabelo e pele.
Em períodos de crise, o consumidor utiliza diversas estratégias para manter o nível de qualidade de vida, não deixando de comprar os produtos favoritos. Dessa forma, 42% das pessoas recorrem à troca de marcas como tática para manter o consumo. Além disso, a indústria comercializa, em parceria com o setor supermercadista, as embalagens econômicas. Elas aumentam a percepção de valor, tais como promopacks, embalagens pequenas para manter o supérfluo (como chocolates) e embalagens grandes, para sensibilizar o consumidor a comprar mais do básico e por menos de dinheiro, como ocorre com papel higiênico.

PR – Os principais fatores capazes de influir na melhora do consumo em geral, de acordo com o levantamento do SPC, são preços e promoções. Mas, em paralelo, os entrevisdtados continuam relutantes a usar cartão de crédito. Essa postura colide ou não com o clima atual de retomada do consumo?
Gonçalves – O dinheiro ainda é o principal meio de pagamento no setor, da ordem de 32,7%, e voltou a subir, levemente, desde 2015. A utilização de cartão de crédito em supermercados caiu de 30% para 28%. Porém, se olharmos para 2010, quando esta modalidade detinha apenas 20%, percebemos que, mesmo em período de crise, a tendência é de que os cartões de débito e crédito sejam o principal meio de compra.

Quanto ao uso de promoções, os supermercados estão atentos à preferência do brasileiro. Descobrimos que 68% das pessoas preferem a promoção “leve mais pague menos”, 64% optam pelo desconto em preço e apenas 25% preferem a oferta de brindes e produtos grátis. E é nisso que focamos. Ainda sim, a promoção deve ser bem feita, pois no Brasil, o nível de aumento de volume de promoções é de 11% contra 20% no mundo, o que demonstra a importância da comunicação de valor para a efetividade da ação.

Portanto, nossa expectativa é de um crescimento no conceito de todas as lojas de 6 a 6,5%. O consumo das famílias vem sendo importante fator de retomada cíclica em 2018 e, por estarmos na ponta da cadeia, se a tendência do desemprego se mantiver em queda, poderemos recuperar os 6% que caímos em 2015 e 2016.

Neste contexto, é fundamental uma política econômica responsável e austera, que propicie bons ambientes de negócios a todos os agentes econômicos.

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