Vinho de outra pipa

A informação diferenciada tem um valor que as mídias sociais não podem desconsiderar

Nas redações pré-internet, os jornalistas chamavam com desdém de tesoura press a reprodução, parcial ou total, de notícias já dadas por outros veículos. Os textos eram recortados a tesoura ou gilete das páginas originais, colados em laudas de papel e dali seguiam para a diagramação e impressão. As mídias sociais, povoadas por jornalistas e leigos que se fazem de, têm elevado a prática da tesoura press a píncaros impensáveis na inocência dos tempos do linotipo. Sem ao menos se dar ao trabalho de citar a fonte e a data, ou então, de disfarçar a pirataria com uma ou outra troca de palavras por sinônimos, a notícia copiada com o mouse é reproduzida por portais, faces e blogs de pessoas físicas e jurídicas como se fosse texto exclusivo saído do forno e fica tudo por isso mesmo, pois, como no samba canção, na internet ninguém é de ninguém.

Seja qual for o setor, não há empresa que, hoje em dia, não trombeteie o engajamento de seu marketing & comunicação nas mídias sociais, não raro em detrimento dos veículos impressos. A situação embute um comportamento contraditório (mas quem se importa com racionalismo?) dos pontos de vista jornalístico e de publicidade. No primeiro caso, cobra-se da imprensa o milagre de um noticiário que condense em espaço quarto e sala o fato e sua análise a contento, sob o argumento de que o leitor virtual prima pela atenção fugaz ou sempre tem mais o que fazer. Um exemplo de informação dita na medida para ele: rapaz e moça se amam, mas suas famílias se odeiam. Em desespero, o casal se mata e os dois clãs se reconciliam. Pronto. Nada mais é preciso saber sobre a peça de Shakespeare, “Romeu e Julieta”. O buraco, claro, é bem mais embaixo, mas e daí? O cliente tem sempre razão e a casa lota quando se dá o que o público pede. Acontece que jornalismo é vinho de outra pipa e sua razão de ser é dar o máximo de informação para o leitor se interessar por querer saber mais. Ou convém deixá-lo sabendo menos?

Outra postura intrigante na comunicação virtual: as empresas se dizem famintas por informações fidedignas, mas sobram casos de desleixo e inépcia quando cabe a elas prestá-las. Um punhado de portais de tops do setor plástico veste essa carapuça, prova a exposição neles mantida de produtos tirados de linha, fábricas já fechadas ou vendidas, ou então, dados truncados tipo a empresa declarar estar há mais de x anos no mercado, mas sem dar a data precisa em que ela surgiu. Tem mais: invariavelmente, esses sites ostentam como atrativo uma seção de notícias e, na prática, ela para em informes de bons anos atrás. Portais de associações e sindicatos do setor também mostram crônica desatualização quanto aos nomes de filiados ou de seus produtos, apesar de avisados sobre essas falhas.

Toda essa barafunda respinga sobre a publicidade nas mídias sociais. Uma das razões (talvez a principal) para até hoje ninguém saber de um veículo de imprensa sério e exclusivamente virtual que seja bem sucedido em termos comerciais é a desvalorização do conteúdo editorial diferenciado. Trata-se da estratégia de nivelar a informação por baixo, atirando o trabalho jornalístico com esmero na mesma vala comum do noticiário tesoura press, com o intuito deliberado de sangrar o custo publicitário. Afinal, pelo cálculo raso do anunciante em geral, aquela publicidade tem de ser muito mais barata, pois o custo de produção do veículo não inclui impressão nem remessa postal de exemplares. A informação singular, o conteúdo jornalístico que faz a diferença, é relegado na prática à fileira do fundo nessas negociações.

Acontece que a verdadeira conta não fecha. Por menor que seja o poder de concentração do leitor hoje em dia, ninguém pode se dar por informado contentando-se com o título e a chamada de qualquer matéria; no texto a seguir é que são elas e dali vem, como dizem os marqueteiros, o valor agregado ao conhecimento. Na conjuntura atual, os custos e a tecnologia impõem à mídia impressa – e Plásticos em Revista não é exceção – que priorize cada vez mais a sua presença nas mídias sociais. Mas ninguém vive de brisa ou, no jargão digital, de curtidas. •

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