Um difícil começo

Consumo de resinas reflete as dificuldades do governo Macri para repor a Argentina nos eixos

Maurício Macri fechou 2016, seu primeiro ano na presidência da Argentina, em alta na confiança do eleitorado e ainda no saldo devedor quanto a ações para tirar a economia do lodaçal após 12 anos de kirchnerismo. Jogam a seu favor a liberação do câmbio e o acordo firmado com credores internacionais. Em contrapartida, o ano passado fechou com inflação na órbita de 40%, taxa de juros de 27% e grita generalizada contra o encarecimento das tarifas de energia e transporte, efeito dos cortes de subsídios populistas. Em reflexo condicionado, o consumo aparente (produção + importação – exportação) de plásticos commodities e de engenharia fechou 2016 na pior marca em cinco anos: 1.666.984 toneladas, fixa o relatório anual da Câmara Argentina da Indústria Plástica (CAIP).

“A economia argentina continuou a cair em 2016, apesar dos esforços da administração Macri”, constatam dois analistas argentinos formadores de opinião em plásticos no país, Jorge Bühler Vidal, dirigente da empresa Polyolefins Consulting, e Oscar Lopes, à frente da consultoria Unisouth. “A inflação reduziu o poder aquisitivo da população e a crise brasileira, devido aos fortes laços comerciais bilaterais, também afetou o consumo aparente de resinas do país”. No arremate, ambos salientam que a proibição de tradicionais sacolas plásticas, um pisão no calo de polietileno (PE), provocou um dano adicional à crise econômica aos transformadores dessa embalagem, não lhes dando meios para substituí-la.

Macri: bem nas pesquisas de opinião e ainda frágil na economia.

Outra adversidade sofrida em 2016 pelo setor plástico argentino foi a explosão acidental, no complexo da Dow em Bahia Blanca, de uma fábrica de polietileno de baixa densidade (PEBD). Vidal e Lopes observam que a unidade de 95.000 t/a parou por um ano: de novembro de 2015 a novembro de 2016. “Essa planta possivelmente produziu entre 5.000 e 20.000 toneladas no ano passado”, projetam. Conforme esclarecem, a Dow, única produtora de PE no país, opera uma capacidade total de 665.000 t/a. Por sua vez, a capacidade argentina de PVC é estimada por Vidal e Lopez em 230.000 t/a; poliestireno (PS), 66.000 t/a; polipropileno (PP), 310.000 t/a; PET grau garrafa, 205.000 t/a e grau têxtil, 67.525 toneladas. No ano passado, mostra a lupa da CAIP, o consumo argentino per capita de plásticos registrou 43,2 kg. Vidal e Lopez confirmam que a marca traduz um recuo aos níveis de 2012 e atribuem o resultado do último período a fatores como a performance de produtos acondicionados em plástico e com altas parcelas de vendas internacionais (em especial para o Brasil) e, por fim, pesou de novo o veto às sacolas de saída de caixa em PE.

Importações brasileiras: outro indicador para PE da Argentina
Com base nos indicadores da categoria “Outros Polímeros de Etileno” integrante da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) 3901.90.90, Otávio Carvalho, sócio e diretor da consultoria MaxiQuim, afirma que o o complexo da Dow em Bahia Blanca remeteu em 2016 para o Brasil16.272 toneladas de polietileno de baixa densidade (PEBD), 125.771 do tipo linear e 95.565 toneladas da resina de alta densidade (PEAD).

“Em Buenos Aires a proibição de sacolas camiseta vigora desde o final de 2016 e seu efeito será visível este ano”, notam os dois consultores. “Em outras regiões, como a província de Mendoza, essas sacolas não tiveram uso proibido e permanecem à venda em supermercados”. O veto favoreceu fornecedores de sacolas costuradas e de nãotecido de PP. Os supermercados oferecem bolsas de fibra de PP com adesivo e seu ponto fraco é a união da alça ao corpo do saco e, do lado do consumidor, a proibição levou o público dos supermercados a recorrer aos chamados carrinhos de feira, expõem Vidal e Lopez.

Os dois analistas torcem pela retomada em 2018 e, em suas pegadas, o reaquecimento da demanda de resinas, em particular de PE, num momento que estarão no mercado mundial grandes volumes produzidos pelas novas capacidades do polímero via gás nos Estados Unidos. Vidal e Lopez não contam com incremento da capacidade instalada local de PE, de modo que o esperado aumento do consumo argentino seria atendido com resina importada. Pela avaliação dos dois consultores, América Latina e Ásia serão os mercados prioritários para o excedente de PE via gás que os Estados Unidos começam a ofertar a partir do quarto trimestre. “Prevemos importações para Argentina de volumes da Dow, já estabelecida no país, e da ExxonMobil, que prepara o terreno para isso há vários anos”, eles antecipam. “Outros produtores norte-americanos também deverão aparecer, mas não se tem notado um incremento evidente de suas atividades na Argentina e no Brasil para preparar a comercialização do seu excedente de PE não absorvido na América do Norte”. •

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