Tendências engarrafadas

Amcor delineia as perspectivas para a transformação de PET no Brasil
Tendências engarrafadas

Para falar de embalagens a Amcor tem cadeira cativa na tribuna de honra. De origem australiana, o grupo registrou vendas globais de US$ 9,5 bilhões em 2014 e está presente em 43 países com 180 unidades. No Brasil, apresenta-se como líder em recipientes de PET para os mais diversos setores. O portfólio conta ainda com tipos de frascos e tampas sob medida para a clientela local. Juan Procel, diretor comercial da operação brasileira, e Karina Borin, coordenadora de marketing, falam na entrevista a seguir sobre o impacto da desaceleração econômica sobre a indústria, investimentos da Amcor, bem como do que rola em pesquisa e inovação no pipeline da empresa.

Juan Procel
Procel: preços do poliéster em queda.

PR – O consumo aparente de PET grau garrafa no ano passado rondou 500.000 t no Brasil, 13% a menos do que em 2013. Pelo seu acompanhamento, o consumo da resina este ano vai crescer, cair ou ficar estável?
Procel – Vai ficar estável por dois motivos. O primeiro deles é o fator econômico. A demanda tem demonstrado estabilidade, declinando em alguns meses e recuperando em outros. O segundo é pelo processo de redução de peso das garrafas. Isso vai fazer com que o consumo de resina diminua.
Karina Borin – Vai cair em toneladas, mas não em unidades.

PR – Em sua operação brasileira, qual é a garrafa de menor gramatura produzida e a qual segmento é destinada?
Procel – Proporcionalmente ao seu tamanho, as garrafas de 2l são as mais leves que temos no Brasil, com 39,7 g. Outro exemplo importante é a versão de 13,6 g de 250 ml para envase de refrigerante.
Karina Borin – É sempre um desafio fazer garrafas leves para refrigerantes por conta da pressão do gás. Com água, por exemplo, não há tanto problema.

Karina Borin: PET avança no envase a quente.
Karina Borin: PET avança no envase a quente.

PR – Em suas operações no exterior, o peso das garrafas está nesse mesmo patamar?
Procel – Brasil e América Latina estão mais avançados na redução de peso dos recipientes. Brasil e México, na verdade, são os dois mercados possuidores das garrafas mais leves da região. Em alguns casos, o Brasil é o melhor e, em outros, o México. Vários motivos estão por trás dessa tendência. O primeiro é custo. São países que possuem muitos concorrentes no mercado interno e isso faz com que precisem reduzir custos constantemente. Outras razões são escala e volumes. Isso torna mais atraente o investimento em novos moldes, com melhor tecnologia. Escala e volumes justificam o aporte, em regra muito alto.

PR – Pelo seu acompanhamento, a gramatura das garrafas vai diminuir mais no Brasil?
Procel – Não, pelo menos por enquanto. Temos uma área dedicada a pensar em novos pesos e em técnicas para chegar a um resultado satisfatório. Essa nova família de pré-formas leves acabou de chegar ao mercado e, por isso, tende a permanecer pelos próximos dois ou três anos, no mínimo.

PR – Quais tecnologias de produção, para injeção de pré-formas e sopro de frascos, e desenvolvimentos de garrafas PET a Amcor introduziu no Brasil recentemente ou pretende fazê-lo em curto prazo?
Procel – Um bom exemplo é a tecnologia de garrafas leves para envase a quente, com níveis de peso similar aos das garrafas de refrigerantes. Ela já está disponível no Brasil.
Karina Borin – A Amcor é especialista nesse tipo de tecnologia. É uma das líderes globais em tecnologia para envase a quente. Em regra, PET amolece a uma temperatura de 70ºC e alguns líquidos, no envase a quente, entram na embalagem a 85ºC. Por isso, o material precisa apresentar propriedades que o habilitem a suportar o aquecimento. A Amcor possui várias tecnologias nesse sentido. Algumas delas focam o fundo da embalagem, outras no próprio formato do frasco. Há casos em que o líquido quente tende a colapsar a garrafa, mas a Amcor aproveitou esse colapso para pensar num novo design.

PR – Já existem clientes no Brasil utilizando essa tecnologia?
Karina Borin – Sim. Temos um cliente do ramo de isotônicos que usa envase a quente e o conceito de embalagem Ergo-Grip. O envase a quente é excelente para o consumidor, pois o produto requer menos conservantes. O envase asséptico também proporciona essa característica.

PR – Há outras novidades na praça?
Karina Borin – Temos um desenvolvimento chamado MicroDose. Com capacidade de 15 ml, é um frasco adequado a diversos setores, como higiene e cosméticos, farmacêutico, alimentos e bebidas. Nesse conceito, a nossa patenteada tecnologia PowerFlex sobressai pela característica de conferir ao frasco um fundo maleável. Assim, o consumidor não precisa apertar o corpo do recipiente. No exterior, alguns concorrentes utilizam esse mesmo tipo de fundo. A vantagem da tecnologia da Amcor é a produção de uma peça única em vez de duas posteriormente coladas. Ou seja, a fabricação é feita em apenas um estágio. Entra a resina de um lado e sai o frasco acabado do outro. Com isso, o custo fica mais competitivo. Apresentamos essa solução ao mercado brasileiro durante a FCE, feira de tecnologia para os setores de cosméticos e farmacêutico, em maio último, e estamos desenvolvendo parcerias com clientes. Para o setor farmacêutico, por exemplo, vamos adaptar o frasco para ter o gotejamento ideal em cada medicamento, de acordo com a viscosidade do conteúdo.

PR – Entre seus clientes, quais segmentos mais sentiram a retração da economia brasileira e quais menos sentiram?
Procel – As indústrias de alimentos e de cuidados pessoais têm sentido bastante, mas a desaceleração é geral.
Karina Borin – Trabalhamos com uma marca líder do segmento de cosméticos infantis e as mães já começam a optar por marcas alternativas. Temos um cliente que produz ketchup, mostarda e outros condimentos também prejudicado pela crise porque como há na gôndola grande variedade de marcas, o consumidor agora opta por artigos mais baratos.

PR – No Brasil, a empresa produz embalagens com conteúdo reciclado?
Procel – Sim. Temos frascos para o mercado de cuidados pessoais. Um deles, fornecido para a Johnson & Johnson (J&J), contém 50% de conteúdo reciclado pós-consumo. É uma embalagem para xampu infantil. As resinas virgem e recuperada são misturados no processo e não utilizadas em camadas individuais via sopro coextrusado. O frasco fica levemente mais cinza, mas o consumidor nem percebe.
Karina Borin – Compramos no mercado o PET reciclado de parceiros já credenciados da Amcor. A J&J também aprova esses fornecedores e efetuamos internamente a mistura da resina virgem com a reciclada. A Amcor não recicla internamente.

PR – Há projetos de utilização de PET reciclado bottle-to-bottle para contato com alimentos?
Procel – Já obtivemos a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e estamos trabalhando com vários clientes para começar a usar esse reciclado. O mais importante é que nossa planta foi homologada para utilizar PET reciclado pós-consumo para essas aplicações. Nosso parceiro reciclador, da mesma forma, precisa dessa autorização que, aliás, demora muito mais para ser obtida. Ou seja, a planta transformadora e a resina precisam estar qualificadas. No cenário atual, nossas duas unidades de injeção obtiveram aval da Anvisa para trabalho com dois tipos de resina reciclada pós-consumo e estamos em processo de qualificação do terceiro. Cada resina nova precisa de sua própria certificação.

PR – Em sua opinião, o uso de resina reciclada pós-consumo para contato com alimentos tende a crescer no Brasil? Há alguns esforços nesse sentido, mas tudo caminha muito lentamente.
Procel – O processo de coleta seletiva ainda tem de ser bastante aprimorado no Brasil e a resina precisa ser mais competitiva.
Karina Borin – O volume de resina reciclada disponível é extremamente instável no mercado. PET é usado na produção de vassouras e bacias, por exemplo, e competimos com esses setores na demanda pelo material recuperado. Como a demanda bate a oferta, os preços são impulsionados para cima. No verão, por exemplo, quando há mais disponibilidade de PET, o preço melhora. Essa instabilidade atrapalha as negociações das grandes empresas e acaba sendo um entrave significativo, pois não conseguimos fazer um planejamento adequado.

PR – A Associação Brasileira de Água Mineral (Abinam) afirma que a participação da água mineral no consumo de PET no Brasil superou a fatia dos refrigerantes. Concorda?
Procel – Não. A fatia do refrigerante é muito maior.
Karina Borin – Trabalhamos, no mundo todo, com análises da Euromonitor e vemos que volumes para refrigerantes permanecem estáveis ano a ano, ou seja, não crescem como no passado. A água cresce, sim, de forma mais acelerada, mas o líder do mercado de PET ainda é o refrigerante.

PR – Acredita que água mineral ultrapassará as bebidas carbonatadas no consumo de PET nacional?
Procel – Não, isso está muito longe. Percebemos, como fornecedores de recipientes, grande crescimento de PET em sucos, por exemplo. Mas essas categorias que crescem rapidamente, como as de bebidas saudáveis, ainda estão, em volume, bem abaixo dos refrigerantes.

PR – Em quais outros segmentos PET tem mais chances de deslanchar no Brasil?
Procel – A resina está crescendo bem nesses segmentos menos tradicionais. Um bom exemplo são os sucos com maior percentual de fruta e, portanto, mais saudáveis.
Karina Borin – O avanço nos lácteos também está acontecendo de forma intensa.

PR – Quais oss planos de investimento para as operações da Amcor no Brasil neste e no próximo ano?
Karina Borin – Fizemos um grande investimento numa nova planta em Suape (PE), há aproximadamente 20 meses. Trata-se de uma unidade de injeção de pré-formas. Escolhemos Suape por conta dos incentivos da região, além de estarmos próximos de nosso maior fornecedor de resinas, o Grupo M&G. Não podemos esquecer que a Petroquímica Suape também está lá. A nossa planta de Manaus (AM), também de injeção, recebeu máquinas novas em janeiro passado, o que aumentou e modernizou sua capacidade produtiva.

PR – Como está organizado o restante da estrutura produtiva da empresa no país?
Karina Borin – Em Jundiaí (SP), nossa sede no Brasil, temos uma planta de sopro e, ao lado dela, uma operação in house na engarrafadora Femsa. Em Goiânia (GO) trabalhamos, da mesma forma, com um sistema in house na Unilever, onde produzimos frascos para mostarda, ketchup e molhos para saladas. Por fim, temos uma planta de um estágio em Louveira (SP) para atender os segmentos de higiene e cosméticos, limpeza doméstica e farmacêutico. Produzimos no Brasil mais de dois bilhões de unidades por ano, entre pré-formas, frascos e garrafas. A propósito, o foco da Amcor não se limita a PET. Temos no portfólio peças de polipropileno (PP) e polietileno de alta e baixa densidades (PEAD e PEBD). Na planta de Louveira, de um estágio, sopramos frascos farmacêuticos padrão, fruto de combinação de PEAD e PEBD. Injetamos em PP as tampas e os gotejadores dos frascos. Quanto a tampas e frascos de PE, exceto aqueles direcionados a fármacos, os fornecemos apenas para projetos customizados. Não temos modelos padrão para servir ao mercado no geral.

PR – Considerando-se a economia de hoje em dia, a Amcor vai bater o número de 2 bilhões de unidades produzidas até dezembro ?
Karina Borin – O nosso ano fiscal terminou em junho. Sentimos muito mais o impacto nesse primeiro semestre de 2015 e os últimos três meses foram particularmente mais afetados. Até janeiro vínhamos com um ritmo muito bom e, por isso, estamos bem próximos da nossa meta.

PR – E com relação à utilização da capacidade instalada?
Karina Borin – A utilização da capacidade instalada, no geral, não caiu. A taxa de ocupação, contudo, varia de planta para planta. Manaus, por exemplo, está perto de 100%, enquanto Suape opera abaixo por tratar-se de investimento recente; seu aumento de ocupação da capacidade é gradual.
Procel – Estamos atingindo a nossa meta por meio de crescimento da participação no mercado. Com a mesma fatia, ficaríamos no mesmo patamar ou até com desempenho mais fraco do que no exercício anterior. Estamos fazendo um esforço comercial e técnico, com inovação, para proporcionar valor ao cliente e aumentarmos a presença no Brasil.

PR – Qual sua estimativa da capacidade brasileira de produção de frascos?
Karina Borin – Segundo estimativas da Euromonitor, o mercado brasileiro movimentou 16,6 bilhões de unidades de frascos de PET em 2014. O líder no consumo da resina foi o segmento de bebidas, representando 12,4 bilhões de unidades, seguido por alimentos, com 2,9 bilhões. Frascos para limpeza doméstica movimentaram 909 milhões de unidades e, por fim, embalagens de cosméticos e produtos para cuidados pessoais somaram 385 milhões de unidades.

PR – O Brasil importa com isenções tarifárias cerca de 100-150.000 toneladas de pré-formas anualmente, grande parte produzida com resina asiática em países membros do Mercosul. Como avalia o impacto dessas importações no mercado brasileiro de PET?
Procel – Essas importações interferem muito na dinâmica do mercado porque temos desvantagens de preço com relação ao Mercosul. Players nesse bloco e fora do Brasil compram resina a preços internacionais, enquanto nós temos que comprar localmente a preços mais elevados. Pela geografia do Brasil, Uruguai e Argentina podem ser competitivos com relação aos estados do sul. E ainda enviam produto para cá com a isenção tarifária proporcionada pelo bloco de comércio.

PR – Como os preços do petróleo, demanda fraca e excedente de resina no mundo tem influenciado os preços de PET desde o início do ano?
Procel – Os preços internacionais de PET caíram devido à fraca demanda mundial e isso impacta o Brasil. O preço da resina brasileira é definido por um índice internacional, então o preço daqui acompanha tendências de fora. De janeiro a junho, os preços caíram, no Brasil, aproximadamente 25%.

PR – Com o consumo estagnado, acredita que a entrada em operação da segunda linha de produção da Petroquímica Suape, que adicionará este ano 225.000 t/a à capacidade brasileira, será postergada ou não?
Procel – Acredito que não. Ela vai entrar em operação porque há muita oportunidade de exportação para mercados como Venezuela e países do Caribe. Os dois fornecedores nacionais de resina terão de exportar porque, no Brasil, a oferta será maior do que a demanda pela primeira vez. •

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