Tempo de brinc@r

Brinquedos de plástico foram tragados pela realidade virtual

Até o fechamento desta edição não foi fixada data oficial da estreia no Brasil do videogame Pokémon Go, aplicativo de realidade aumentada criado pela Pokémon Company e Niantic. Lançado no Primeiro Mundo, o jogo tem sido baixado com voracidade por milhões de pessoas, se propaga feito zika e já é endeusado como maravilha em TI páreo para a impressão 3D. Em sua concepção original, o game consiste na captura dos pokémons (monstrinhos) pelos jogadores, que os treinam para lutar entre si. Já no Pokémon Go, esses personagens imaginários não ficam mais no espaço interno do jogo, mas em lugares reais de cidades idem e são flagrados por quem joga pelo celular. Em suma, o celular exibe um mapa da cidade apontando onde ficam os pokémons. A pessoa liga a câmera do aparelho e varre o local identificado até descobrir o monstro. Quando acha, o alveja com as pokebolas e depois o deixa preso.

Pokémon Go é mais uma pá de cal naqueles brinquedos simples, como prosaicos artefatos 100% de plástico. Desde a virada do século, a TI embarcada nos pokémons da vida foi relegando aqueles brinquedos educativos e lúdicos, como diziam os pedagogos, desde bambolê e espadas a ábacos e carrinhos coloridos, para faixas etárias cada vez menores do público infantil. Hoje em dia, acenar com esses divertimentos para um garoto de digamos 10 ano, por exemplo, é meio caminho para o autor do gesto ser olhado com estupefação pelo pivete, quando não até com ira, por ele sentir-se visto como alguém com neurônios em saldo devedor, sem condições de entreter-se além dos padrões intelectualmente mais baixos das categorias de brinquedos. Por extensão, além de terem sua oferta restrita às crianças de nível mais primário, ali pelas imediações do berçário, os fabricantes desses brinquedos plásticos hoje com aura de arcaicos – um segmento de indústrias aliás em decorrente encolhimento –, acabam imersos em guerras de preços. Consequência do baixo valor agregado do seu mostruário e da briga de foice, formal e informal, com a China, onde sete em cada 10 brinquedos são manufaturados no planeta. Nessa parada, os plásticos levam um prêmio de consolação. Ao menos participam do hardware dos brinquedos embebidos em TI; aí estão os joysticks, docks e gabinetes dos consoles e controles. Em suma, os plásticos passaram de protagonistas nos brinquedos do passado a coadjuvantes nos atuais.

O declínio dos tradicionais brinquedos plásticos não merece choro nem vela. Foram a nocaute, atirados ao limbo do consumo infantil. Divulgada em 2013, pesquisa do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR) constatou que 59% das crianças entre cinco e nove sabem lidar com celular e 84% o utilizam apenas para se divertir com jogos. O mundo muda e nós com ele.

Um outro tipo de brinquedo de plástico também caiu no desvio. Suas vendas acusam recuo mundial e, embora a ofensiva eletrônica tenha grande parcela de culpa, no Brasil isso também acontece por uma coisa bem nossa. Sinônimo de PVC em brinquedos, as bonecas refletem no resfriamento de suas vendas o peso da erotização precoce na população. Texto fisgado no portal Forum: “um vídeo tem chamado a atenção dos internautas nas últimas semanas. Nele, uma menina de apenas oito anos dança no palco durante um show de funk. De costas para a plateia, ela encena uma coreografia sensual. O homem que aparece ao lado, pedindo ao público para aplaudir a apresentação da ‘novinha”, como se refere à criança, é o próprio pai, Thiago de Abreu, conhecido como MC Belinho. Em outros vídeos publicados na internet, vistos por milhões de pessoas, a pequena Melody aparece vestindo roupas curtas e enchimentos nos seios, e cantando letras consideradas inapropriadas à idade”.

Esse exemplo sumariza por que, no plano geral, as meninas hoje largam cada vez mais cedo o hábito de brincar com boneca em favor das compras de roupas, bijuteria e cosméticos capazes de aflorar uma sensualidade tida como prematura nas sociedades – não há outro adjetivo – adultas. Esta revista seria pequena para abrigar todas as explicações sociológicas, econômicas, pedagógicas e até psíquicas para esse constrangedor fenômeno nacional. Aí não dá mesmo para enfeitar a boneca. •

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