Saída à francesa

A política atropela a razão no banimento do plástico em descartáveis na França. E a gente com isso?

pratoOs praticantes da cabala, filosofia de misticismo judaico, crêem que nada acontece por acaso. Há uma razão para tudo, eles responderiam diante do fato de a realização do Seminário de Competitividade, assinado por Plásticos em Revista e a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), ter coincidido, no dia 26 de setembro último, com uma notícia da França: a aprovação da lei que determina a proibição gradual de plásticos de origem fóssil de utensílios descartáveis. Na sessão do evento em que o Ibope apresentou sua pesquisa sobre a péssima imagem pública do plástico no país, o novo decreto francês serviu para os dois palestrantes atirarem mais lenha na fogueira.

Parafraseando Cazuza, mais uma vez as ideias não correspondem aos fatos. O governo de François Hollande inseriu o veto a resinas petroquímicas em descartáveis, tal como o fez ao homologar em julho a lei de proibição gradativa de sacolas plásticas até 2020, dentro do espírito do projeto Transição Energética para o Crescimento Verde. Trata-se, em suma, de um plano de ações em prol do controle ambiental e para frear a liberação de gases causadores do efeito estufa. Como o amor, o discurso é lindo, mas quando sai do altar é que são elas. Fisgados pelo neon da publicidade verde, os legisladores franceses decidiram que, em 2020, uma fração de 50% dos materiais de manufatura dos descartáveis deve ser  preenchida com orgânicos, de origem vegetal e biodegradáveis. Cinco anos depois, estabelece a lei, essa participação subirá a 60%.

A oposição ao séquito da ministra Ségolène Royal, locomotiva do decreto lei, abriu o berreiro com argumentos como o livre comércio de descartáveis plásticos na União Europeia e o risco de os franceses passarem a praticar uma destinação incorreta e poluente desses artigos, na suposição equivocada de que eles se degradam com zero impacto ambiental. Como é de costume, a impressão é de que a cadeia do plástico não foi consultada e, se foi, ou seus argumentos não foram entendidos ou, como é típico dos políticos em geral, entraram por um ouvido e saíram pelo outro, eclipsados pela chance de uma bela aparição perante o eleitorado, desinformado nessas questões em sua grande maioria. Afinal, as réplicas estão ao alcance da mão. De cara, as resinas petroquímicas primam pela sustentabilidade, pois são recicláveis e, não fossem seus custos, conveniências e performance, aplicações como os utensílios descartáveis e sacolas de supermercado  jamais se democratizariam e contribuiriam para facilitar a vida de todas classes sociais. Tem mais: até hoje, o raio de alcance dos  bioplásticos não vai além de produtos de nicho, sob pressão dos seus preços  altos e escalas que são um cisco diante dos volumes de produção das resinas tradicionais. Por exemplo, a capacidade mundial de ácido polilático (PLA), o plástico biodegradável mais conhecido e utilizado, está a muitas léguas do patamar de milhões de toneladas anuais, habitual entre resinas commodities. Tanto é verdade que economia de escala é o nome do jogo que a mortalidade campeia entre os investidores em biodegradáveis. Nos EUA, por exemplo, a Metabolix, uma celebridade em formulações bioplásticas, saiu do negócio este ano, nocauteada por jabs do vermelho em seguidos balanços anuais. Por aqui mesmo, a paranaense Sementes Guerra e a francesa Limagrain abortaram na moita seu alardeado projeto de produzir plásticos a partir do amido de milho para aplicações como sacos e sacolas.

Por ocasião das recentes (e crescentes) barreiras norte-americanas ao uso de poliestireno expandido (EPS) em descartáveis e embalagens, Plásticos em Revista sondou a cadeia do material no Brasil sobre as possibilidades de esse tipo de aversão ecoxiita se globalizar a ponto de desembarcar por aqui. A resposta foi um dar de ombros coletivo, aliás a mesma impressão de apatia, torpor  e desinteresse deixada pela ausência de produtores e transformadores de poliestireno, o principal termoplástico vitimado pela lei francesa dos descartáveis, na apresentação do Ibope sobre o status do plástico no país e os argumentos para o setor reagir antes que seja tarde.

Se é que ele se importa com isso. •

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