Robô não vem do verbo roubar

A decolagem da Indústria 4.0 pega o Brasil no contrapé
K’2016: a automação é tão inevitável quanto a frustração dos desempregados por ela.

A Adidas vai inaugurar em 2017 uma fábrica nos EUA para fornecer 500.000 pares de tênis anuais, a maior parte produzida por robôs. Em outubro último, um caminhão carregado de cervejas rodou 190 km, sem motorista, munido de tecnologia Uber, por estradas na região norte-americana das Montanhas Rochosas.
Não é de hoje que a evolução da tecnologia abala os alicerces do mundo do trabalho. Na Revolução Industrial, o trabalho braçal foi deslocado pela máquina. Mais à frente, as funções manuais repetitivas passaram aos robôs e, a seguir, o computador substituiu o homem nas práticas de cálculo. Agora é a vez de uma parcela de trabalhadores se ver identificada como obsoleta, sentindo-se atirada às traças por não servir mais para coisa alguma, em razão da entrada em campo da coalisão formada pela robótica, TI, internet das coisas e impressão 3D sob o codinome Indústria 4.0, como mostra a reportagem de capa sobre a feira alemã K’2016.
Por mais ira e desgosto que esse progresso tenha suscitado num eleitorado decisivo para a chegada de Donald Trump à Casa Branca, integrado por pessoas pobres, sem emprego e pouca qualificação profissional, o fato é que esse caminho não tem volta. Afinal, o salto dado pela Indústria 4.0 casa com a idealização do paraíso feita pela humanidade: consumir mais e trabalhar menos, na medida em que trabalho seja tido como sinônimo de fardo. Não se sabe de quem suspire de nostalgia pela ressurreição de ofícios sepultados pela mecanização, como ascensorista, linotipista, telegrafista e por aí vai.
Impactos como o que começa a causar a Indústria 4.0 também são bem-vindos por varrer mitos ainda acatados pelo empresariado brasileiro. Exemplo: empregado despreparado, por ganhar mal, sai barato para a empresa. Balela, provam os encargos sociais incidentes sobre a folha salarial e o custo da incompetência dele. Outro mito em franca demolição: por força da digitalização e automação, indústria não gera mais um mundaréu de empregos, peculiaridade hoje transferida ao setor de serviços como comércio, o mercado financeiro e, em especial, naqueles campos requeridos pelo aumento de renda e tempo de lazer – turismo e gastronomia sobressaem neste compartimento.
Dando o devido tempo ao tempo, a Indústria 4.0 contribuirá para uma alegria geral: tornar o trabalhador melhor remunerado e mais barato para quem o emprega.O xis da questão é como administrar o choque atual da transição do contingente de trabalhadores defasados para a nova realidade. Alguns grupos não escapam das perdas com esse tremor de terra mas, no atacado, a saída óbvia passa pela educação, levando as pessoas ao aprendizado de habilidades requeridas pelo desenvolvimento tecnológico e capazes de abrir-lhes portas fora do hoje limitado (em termos de potencial de empregos) universo fabril. Por trás disso tudo paira a necessidade da educação continuada. O visionário economista Mário Henrique Simonsen dizia não haver sistema educacional capaz de ensinar a alguém com até 25 anos de idade tudo o que precisa saber durante sua vida profissional. Ele terá sempre de atualizar-se com cursos de reciclagem.
A decolagem da Indústria 4.0 pega o Brasil no contrapé. Sofre a pior recessão da história, sua desindustrialização está em andamento, governo quebrado e sem ficha limpa nem autoridade moral e, para não esticar mais a corda, o país permanece grudado na lanterna de todos os rankings internacionais de ambiente para negócios e de qualidade da educação.
Mas nunca é tarde para aprender. Basta querer. A ver. •

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