Refrigerantes encostam PET contra a parede

De janeiro a julho último, a produção brasileira de refrigerantes totalizou 7,8 bilhões de litros ou 4, 4% abaixo do aferido no mesmo período em 2015.Na mesma esteira, relatório do Rabobank prevê para as vendas da bebida carbonatada recuo de 4,5% este ano versus o exercício anterior, chegando à marca de 14,9 bilhões de litros e, para 2017, o banco espera por 0,7% de declínio sobre o saldo de 2016. São notícias frescas  e indigestas para PET, cujo mercado nº 1 é o setor de refrigerantes. Pelas estimativas da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), o poliéster responde por 80-85% das embalagens do carbonatado. O xis da questão é que a contração do poder aquisitivo exercida pela recessão, comprometendo a permanência de refrigerantes nas listas de compras, não é mais uma explicação satisfatória. Embora a recessão seja circunstancial, o vigoroso ciclo de mudanças em determinados hábitos do consumidor, tendência aliás global, evidencia um caminho sem volta. Disseminada por todas as classes sociais e faixas etárias, a procura por saúde, bem estar e qualidade de vida tem colocado os refrigerantes em xeque, listados entre os produtos açucarados culpados por problemas como a obesidade infantil,  cujos índices no Brasil são alarmantes. Em decorrência, o reduto que é a menina dos olhos de PET sofre hoje sob pesado fogo cruzado. A Organização Mundial da Saúde recomenda aos governos tributar  bebidas açucaradas para o bem da saúde pública. O México foi um dos primeiros países a aumentar esse imposto e, como o encarecimento ainda não diminuiu o consumo local de refrigerantes, já trombeteia a intenção de elevar mais um pouco a carga tributária do carbonatado. No Brasil, os maiores fabricantes de refrigerantes anunciaram em junho último o fim das vendas de seus produtos em escolas, substituindo-os por suas marcas de sucos, lácteos e água mineral. Não é à tona que Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam), relaciona a cultura da saudabilidade entre as justificativas para as expressivas taxas anuais de crescimento das vendas totais do seu segmento, calculadas na órbita de15,5 bilhões de litros em 2015.

Essa reviravolta pega PET num momento inquietante no Brasil. Sob o pano de fundo do excedente global da resina, preços com viés de baixa, penetração do poliéster reciclado e a corrida pela redução da espessura das garrafas, a capacidade brasileira do poliéster hoje paira acima do dobro do que o mercado interno consome. Os flancos vulneráveis dos refrigerantes complicam o cenário para o setor de PET chegar, na garupa da ansiada retomada da economia,  a uma relação mais compatível entre oferta e demanda nacional.

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