Perda de gás em efeito dominó

Recuo contínuo nas vendas de refrigerantes mexe com a pulsação de PET

Prato fundo para PET se fartar, o consumo brasileiro de refrigerantes descolou do mundo em 2018, atestam projeções da consultoria Euromonitor International. Enquanto as vendas internacionais, após três anos em declínio, subiram 0,3% no ano passado, totalizando 216,6 bilhões de litros, no Brasil o saldo do último exercício fechou em 12,8 bilhões de litros ou 2,6% a menos que os 13,2 bilhões aferidos em 2017. A queda nas vendas rebaixou o país de terceiro para quarto lugar entre os mercados da linha de frente mundial para refrigerantes, assinala a consultoria. Para este ano, a empresa de pesquisas prevê nova redução no movimento de refrigerantes no país, totalizando 12,7 bilhões de litros e aumento no consumo global, passando para 218,5 bilhões de litros, descida alinhada com o encolhimento em volume da ordem de 21% entre 2013 e 2018. A radiografa dessa saia justa é desvendada nesta entrevista de Angelica Salado, consultora de bebidas da Euromonitor.

Salado: preço ainda dificulta acesso das classes de baixa renda ao refrigerante.

Apesar das campanhas e iniciativas constantes em prol da saudabilidade, o consumo brasileiro de refrigerantes tem declinado nos últimos anos, mas eles ainda permanecem, com folga, a bebida não alcoólica mais vendida. Qual a chave dessa liderança?
Uma das explicações mais importantes é a preferência do consumidor pelo sabor da bebida. O brasileiro tem uma conexão muito forte com o sabor dos refrigerantes, tanto cola quanto não cola e a infinidade de marcas regionais do tipo guaraná ou tubaínas. Outro motivo são os altos índices de rejeição que os produtos desprovidos de açúcar costumam sofrer no início. O consumidor percebe a diferença no gosto e, em muitos casos, prefere mudar de categoria (para água ou sucos, por exemplo) do que ingerir uma versão sem açúcar.
Também é verdade que o público está cada vez mais consciente sobre questões relacionadas à saúde, entende a importância de controle de peso e de manter uma dieta alimentar. No entanto, o brasileiro é um consumidor que busca oportunidades de se conceder pequenas indulgências. Por exemplo, ele pode reduzir a frequência ou volume de consumo de outro produto para poder manter o “luxo” de consumir refrigerantes, ainda que esporadicamente.

E qual a influência do preço?
Ele foi, por sinal, um dos fatores que contribuíram negativamente para a demanda do refrigerante durante a crise iniciada em 2015, pois muitos consumidores viram-se obrigados a reduzir gastos e priorizar produtos considerados essenciais. É fato que refrigerantes ainda são uma alternativa mais barata que bebidas como suco integral, chá pronto e até água de coco. No entanto, seu preço permanece um inibidor para uma parcela significativa das classes de renda mais baixa; elas sequer têm acesso ao produto com regularidade. Por este motivo, a Euromonitor projeta uma leve recuperação do volume de consumo para a categoria de refrigerantes nos próximos cinco anos, reação dependente, em especial, da recuperação da economia.

Como avalia as perspectivas de crescimento do consumo de refrigerantes pela nova geração de consumidores, mais receptiva a alimentos orgânicos?
Ela está mesmo predisposta a diversificar o consumo de bebidas para além dos refrigerantes – movimento atrelado não apenas à preocupação maior com a saúde, mas também pela emergência e consolidação de categorias que não eram comuns às gerações anteriores – como chás prontos para beber, água com gás e saborizada, sucos integrais, água de coco, etc. São jovens que se sentem muito empoderados e que buscam opções, querem ter controle sobre o que estão consumindo e decidir quanto e quando consumir de cada produto. Eles equilibram o consumo de produtos posicionados como saudáveis com outros mais tradicionais, como os refrigerantes. Esse equilíbrio é o que deve manter, nos próximos anos, as vendas de refrigerante num patamar estável no Brasil.

Sucos: avanço sobre mercado de refrigerantes.

Na visão da Euromonitor, qual é a frequência no Brasil de compras e ticket médio de refrigerantes?
Em 2013, o brasileiro consumia, em média, 80 litros por ano de refrigerantes, somando ocasiões dentro e fora do lar. Já em 2018, este número caiu para 61 litros e até 2023 deve se manter neste patamar. Ou seja, não há previsão de voltarmos aos 80 litros de seis anos atrás. Isso decorre da crise econômica e do acesso a outros bebidas não tão comuns há cinco anos e que devem se consolidar no mercado, como água engarrafada, sucos e chás prontos para beber.

Quais as principais mudanças impostas pela crise nos hábitos de consumo dos refrigerantes?
A crise forçou um grande número de famílias a repensar seu consumo e decisões de compra, que ficaram racionais como nunca. Isso afetou, principalmente, o senso de qualidade dos consumidores em comparação a quanto pagavam pelo produto. Significa, portanto, que o consumidor ficou mais crítico em relação ao que comprava, demandando mais das empresas em termos de custo-benefício e mudando de marca/categoria quando sua expectativa não era atendida.
Outra questão foi o consumo fora do lar, pois bares/restaurantes ainda respondem por expressiva parcela do volume de vendas de refrigerantes. Nesse sentido, a redução destas despesas durante a crise deve ser compensada conforme a retomada aconteça, pois existe um público com demanda reprimida muito forte, desejoso de retornar a este hábito de consumo.
Por fim, outro aspecto que teve impacto na categoria foi o mix de embalagens, em tipos e tamanhos. Conforme o consumidor buscou canais mais econômicos, como os atacarejos, a demanda por embalagens maiores, tipo família, também cresceu. Em contrapartida, para aqueles que vêem o refrigerante mais como uma indulgência ou querem controlar a quantidade de açúcar ingerida, as embalagens menores, de até 300ml, ganharam muita força. A diversificação das embalagens contribuiu, assim, para impulsionar novas ocasiões de consumo e reforçar a ideia de custo-benefício que o consumidor procurava, um movimento que deve se consolidar mesmo com a economia voltando a crescer.

Qual o impacto da recessão sobre o consumo de refrigerantes no Brasil entre 2015 e 2018 e por que a Euromonitor acredita que o consumo seguirá caindo aqui, com projeção de 12,7 bilhões de litros para 2019 versus 12,8 bilhões em 2018, com leve reação em 2020, passando a 12,18 bilhões de litros?
A categoria tinha recuperação prevista já para 2019, mas os efeitos da greve dos caminhoneiros em 2018 adiaram em quase um ano essa retomada. O volume considerável de perdas em volume no segundo trimestre, somado à Copa do Mundo, de vendas aquém do esperado, e a um cenário econômico e político ainda instável foram os principais motivos do declínio do consumo dos refrigerantes. O consumidor segue cauteloso este ano, apresentando um comportamento de compra como se estivesse desempregado, mesmo quando não seja o caso. Por isso tudo, espera-se que a retomada da categoria venha mais forte apenas em 2020.

Com saúde pra dar e vender

PET achou um contrapeso ao consumo declinante de refrigerantes

“A PetroquímicaSuape (PQS) partiu a produção de PET em 2014, quando já transcorria a redução do consumo mundial e local de refrigerantes e, desse modo, o movimento não nos surpreende”, ponderam Luiz Henrique Faria Bittencourt e João Nave, respectivamente gerente de vendas de PET e ácido tereftálico purificado (PTA) e coordenador de inteligência dessa petroquímica controlada da mexicana Alpek. Eles atribuem o declínio à preocupação com a saudabilidade disseminada entre a população. “O setor da resina tem buscado minimizar o impacto sentido em refrigerantes ampliando a investida sobre outros materiais em categorias como sucos naturais, água de coco, chá pronto para beber e, em particular, água mineral engarrafada, movida a taxas médias de crescimento de dois dígitos”.
Bittencourt e Nave atribuem ao envase de bebidas carbonatadas cerca de 65% do consumo brasileiro de PET. “Cinco anos atrás, essa participação era de 70%”, eles comparam, justificando o recuo também com a recessão latejante desde 2015 num país que é o quarto mercado mundial para bebidas não alcoólicas. “Confiamos na reação dos refrigerantes a partir da combinação da retomada da economia com novos sabores e opções de adoçantes ao açúcar”.

Nave e Bittencourt: brilho e transparência de PET vestem as bebidas saudáveis.

Nesse ínterim, as bebidas saudáveis têm feito PET salivar, à espreita de novas aplicações. “A maioria desses alimentos já se abriu a PET, com cases de sucesso em marcas de sucos naturais”, percebem os dois analistas da PQS. “A valorização e destaque do líquido proporcionados pela transparência e brilho de PET inspiraram o desenvolvimento de frascos muito interessantes para chá e água de coco”, eles notam. Além da reciclabilidade bem vista pela economia circular, a ascensão de PET em bebidas saudáveis ampara-se em avanços na industrialização. “Nossa resina Laser+ AD 600 atende as resistências térmica e dimensional requeridas para bebidas envasadas a quente”, exemplificam Bittencourt e Nave. No embalo, eles distinguem o grade CSD Plus como o mais indicado do portfólio da PQS para refrigerantes. “Além da boa performance quanto à retenção do gás dióxido de carbono, ela dispõe de viscosidade intrínseca de 0,85 dl/g, o maior índice no gênero do mercado sul-americano, viabilizando uma garrafa de maior resistência química e mecânica ”, sustentam os dois especialistas. A resina CDS Plus também forma entre as desenhadas pela PQS para possibilitar a redução da espessura, outra razão para o encolhimento do consumo de PET em refrigerantes, concordam os executivos. Para frascos retornáveis, completam, a pedida do seu mostruário é a resina Laser + AF 626, capaz de prover a resistência mecânica e paredes maiores que as embalagens de uso único.

Também produtora de PET no Brasil, a Indorama Ventures negou entrevista.

Os carregadores do piano do processo

Ferreira: aditivos aprimoram a injeção e desempenho de pré-formas.

Totem global em materiais auxiliares para PET, a norte-americana PolyOne divide em duas frentes o assédio de sua linha de produtos ColorMatrix às embalagens de refrigerantes. “No grupo dos colorantes, é forte a procura por tonalidades de verde e âmbar”, delimita Marcelo Ferreira, diretor comercial da empresa para a América Latina. “Do lado dos aditivos, sobressai a demanda pelo auxiliar de processo EZE™, pois reduz o atrito de superfície para aumentar a eficiência no transporte das pré-formas injetadas, além de proteger a embalagem contra arranhões e manchas”, ele esclarece. Outro ponto alto do mix: a linha de toners Optica ™, geradora de brilho e transparência para as embalagens. E já que PET busca contrabalançar o declínio no consumo de refrigerantes com a penetração em bebidas saudáveis, a PolyOne põe o pé nessa canoa com seu agente de barreira ativa a oxigênio Amosorb™, acenado por Ferreira para suco, chá e água de coco. “É o único sequestrante de oxigênio ativo um dia após o sopro da garrafa”, ele sustenta. “Protege o conteúdo por até seis meses e não requer ativação por umidade”.

Entre os novos ases na manga da série ColorMatrix, Ferreira informa estar a caminho uma nova versão do aditivo líquido Smartheat™. “Melhora a produtividade, economia energética e o controle do processo de injeção de pré-formas, aguçando ainda a sua transparência”, explica o diretor. “Pode ser aplicado direto na garganta de alimentação da injetora e aprimora a capacidade de calor infravermelho pelo polímero, diminuindo assim o gasto com eletricidade no sopro da pré-forma”. De volta à raia de PET em bebidas saudáveis, Ferreira acentua os predicados do aditivo Ultimate ™UV para proteger frascos transparentes da radiação ultravioleta, causadora de efeitos como perda de cor e mudanças de odor e sabor devido a reações de oxidação. No desfecho, Ferreira põe no balcão Lactra™ SX, auxiliar em forma de masterbatch sólido e talhado para bloqueio de luz e proteção de lácteos envasados em garrafas monocamada de PET.

Nada se perde

O requinte das tecnologias de reciclagem bottle to bottle

Refrigerantes são, de longe, o maior mercado não só de PET virgem, mas reciclado bottle to bottle (BTB), o único processo de recuperação de um polímero pós-consumo permitido para segundo uso em contato com alimentos. Estimativas extra oficiais situam o atual naco da resina BTB na faixa de 15% do consumo aparente do poliéster novo em folha. “Calculo haver no país pouco mais de 20 linhas de reciclagem BTB, duas delas montadas pela Starlinger”, informa Tobias Jungblut, diretor da filial brasileira da fabricante austríaca. “Uma delas opera com processo completo (extrusão + policondensação ou polimerização em estado sólido) e a outra apenas com reator de policondensação”.

A Starlinger manda ver na reciclagem BTB com a tecnologia recoSTAR. “Seus principais diferenciais são uma produção suave e contínua, com economia de energia, sem geração de pó e total rastreabilidade do material ao longo do processo, resultando em perda mínima (aproximadamente dois pontos) de viscosidade e garantindo a passagem dos flakes de PET pelo mesmo tratamento do início ao fim de seu processamento”, destaca o especialista. Com a estrutura de polimerização em estado sólido (SSP) concretizada apenas no fim do processo, ele coloca, a tecnologia recoSTAR possibilita a eliminação do acetaldeído a nível inferior a 1 ppm. “Essa vantagem decorre da degradação térmica efetuada durante a extrusão”, amarra as pontas Jungblut. “Também é possível aumentar a viscosidade de forma ‘ilimitada’, tendo em vista a inexistência de restrições para o tempo de residência do material”. Ainda nessa etapa, ele ressalta a eficiência obtida com a integração dos sistemas de supervisão da produção, a exemplo do acessório para medir on-line a viscosidade intrínseca. “Permite uma reação rápida em caso de alteração dos parâmetros ajustados”, enfatiza o diretor da Starlinger do Brasil, enaltecendo também o controle de rastreabilidade do poliéster submetido à reciclagem. “É um recurso que assegura a identificação de eventuais anomalias no processo, como tempos de residência, falhas de sistema e de temperaturas”. Jungblut orça em torno de € 1,7 milhão o preço de um sistema recostar food contact de pequeno porte.

Na trincheira concorrente, a suíça Polymetrix, controlada da corporação Sanlian Bühler, instalou um sistema SSP de reciclagem BTB em João Pessoa (PB). “Sua capacidade é de 72 toneladas diárias”, situa Claudemiro Ferreira, engenheiro sênior de processo da empresa no Brasil. “Creio que existam de cinco a 7 recicladoras com linhas BTB no país”.
A Polymetrix dispõe, para PET BTB das tecnologias SSP denominadas EcoSpehere, stand alone e leaN. Ferreira considera a última a mais adequada ao mercado brasileiro, acenando com capacidades de 1,5 a 300 t/dia. Outro trunfo da Polymetrix é a junção do seu reator SSP de nitrogênio a vácuo com a tecnologia Vacunite da austríaca Erema, expert em equipamentos de reciclagem. Segundo foi divulgado, os pellets obtidos por esta combinação superam os requisitos usuais para contato com alimentos. As etapas do processo térmico transcorrem em atmosfera de nitrogênio, eliminando em grande parte a descoloração dos flakes e pellets, assim como a necessidade de aditivos passíveis de suscitarem reações indesejadas no fundido. “A tecnologia PolyMetrix/Vacunite pode ocupar em breve espaço na faixa de capacidades entre 1 e1,7 t/ dia”, completa o engenheiro.

Nenhuma pré-forma é pro forma

Injetoras de pré-forma da Husky são menção obrigatória em fábricas de garrafas PET dignas do nome. Nesta entrevista, Paulo Carmo, gerente do negócio de embalagens no Brasil da empresa canadense abre os avanços dessa tecnologia.

Qual o modelo de injetora Husky mais procurado no Brasil para pré-formas de garrafas de refrigerantes?
A escolha mais usual são as linhas HyPET da série HPP5. Esta plataforma de máquinas apresenta os ciclos de injeção mais rápidos da indústria e seu sistema de controle permite a produção de pré-formas com repetibilidade e consistência incomparáveis. Sua capacidade de injeção possibilita a produção de pré-formas sem qualquer limitação de peso e espessuras. Os moldes e a tecnologia de fechamento, dotada de sistema automático de checagem de alinhamento, possibilita uma operação segura e com integridade preservada dos componentes da matriz de injeção.

De 2011 a 2018, as vendas brasileiras de refrigerantes caíram mais de 18% no Brasil. Tem percebido este recuo nos pedidos de suas injetoras de pré-formas para refrigerantes?
A estagnação e, em alguns casos, o declínio no consumo de refrigerantes é fenômeno mundial. Entretanto, vale considerar que houve uma incremento no consumo de garrafas de refrigerantes de menor volume em detrimento das grandes apresentações. O que, em termos do número total de pré-formas produzidas, tem efeito contrário à redução do consumo. Também é perceptível o incremento do consumo de água engarrafada, assim como de outras bebidas com ou sem gás, contrapondo-se à redução do volume total de vendas de refrigerantes.

No Brasil, PET começa a despontar em bebidas saudáveis, reduto ainda dominado pela caixa cartonada. Quais as eventuais diferenças entre a pré-forma para embalagens de bebidas saudáveis e a destinada a refrigerantes?
O crescimento de PET nos redutos fora do refrigerante pode ser facilmente constatado nas gôndolas. Conforme o produto a ser envasado, é necessário entender suas necessidades de proteção (luz, oxigênio, perda de gás, p.ex.) e, em seguida, definir as atribuições da embalagem. Baseada em nossa plataforma de sistemas HPP5, a tecnologia de embalagens PET multicamada permite que o frasco seja desenhado utilizando-se o elemento de barreira adequado a cada produto envasado, sempre maximizando a eficiência do elemento de barreira e, em decorrência, minimizando a quantidade utilizada. O histórico mostra que o envase de refrigerantes sempre se beneficiou das propriedades do PET, mas as apresentações de pequeno volume requerem maior controle da perda de gás, o que é perfeitamente atendido pela tecnologia multicamada contendo materiais de barreira. Da mesma forma, a tecnologia multicamada agrega à embalagem de PET a barreira necessária ao oxigênio para produtos oxidáveis, como sucos cítricos e de uva e alimentos à base de tomate. Por sua vez, lácteos têm na pré-forma multicamada o aliado para prover a barreira à luz e radiação ultravioleta.

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