Palavra de governo

Cisternas: fornecimento encalacrado na dívida pública.

“O homem é o único animal
que nada aprende com a experiência”,
John Gray.

Cisternas: fornecimento encalacrado na dívida pública.
Cisternas: fornecimento encalacrado na dívida pública.

“É um baque enorme na área social, que vinha sendo desidratada silenciosamente pelo governo Dilma”, declarou ao jornal O Globo o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra. Ele se refere ao impacto da falta de verbas para políticas sociais pagas com recursos discricionários, ou seja, que podem ser sustados pelo governo. Entre as iniciativas em xeque, Terra citou a implantação de cisternas, no bojo do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), que acusa débitos de RS$ 322 milhões.

Um mar de obras inacabadas de parcerias público privadas, ou então, a alternância de fases em que o setor de PVC fatura os tubos e entra pelo cano ao sabor da liberação de crédito imobiliário pelo governo, ensinam que o corte nas cisternas deveria ser visto como regra, coisa da vida.

O voo de galinha das cisternas rotomoldadas durou quatro anos. “O programa começou em 2012, quando também contou com o maior número de participantes”, rememora Fabiano Zanatta, líder do segmento de rotomoldagem da Braskem. O pico da demanda de cisternas  aconteceu em 2014, ano pré-eleitoral. A Braskem, nota o executivo, protagonizou a introdução desses reservatórios. “Após se inteirar das experiências com cisternas em regiões carentes de água, caso de áreas da Austrália, a empresa decidiu desenvolver com parceiros e apresentar ao governo a cisterna rotomoldada para disputar com a versão de concreto”. Na garupa de vantagens como baixa necessidade de manutenção, alta estanqueidade e vida útil acima de 20 anos, narra Zanatta, a cisterna de polietileno teve luz verde de Brasília até este ano em que a fonte secou.

Roriz: faltam políticas de longo prazo.
Roriz: faltam políticas de longo prazo.

Os dois líderes nessas cisternas para o governo lêem o episódio com luz baixa. “A Fortlev já encerrou o cronograma de entregas ao programa Água para Todos”, diz o diretor Rodrigo Torres. “O impacto do corte  do fornecimento é irrelevante, pois nosso foco é o varejo dos materiais de construção”. Na mesma toada, Fábio Gonçalves, diretor da subsidiária brasileira da mexicana Rotoplas, salienta: “a empresa  honrou seus contratos e cumpriu a missão de levar mais e melhor água às pessoas”. A seu ver, o ocaso das cisternas não é exceção entre programas sociais alvejados pela dívida pública.  Ao longo da erosão das entregas, a Rotoplas fechou  em Alagoas uma de suas plantas de cisternas Acqualimp. “Foi um rearranjo  natural para melhor distribuir recursos e equipamentos em fábricas em locais de maior demanda”, ele diz.

José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasíleira da Indústria do Plásticos (Abiplast), põe o dedo nessa ferida crônica. “Infelizmente, o governo não apresentou nas últimas décadas planejamentos estratégicos de longo prazo, com metas estáveis e capazes de dar previsibilidade às ações”, avalia. “Por exemplo, os três planos de política industrial entre 2004 e 2014 marcaram pela falta de  coordenação de ações, efetivação e cumprimento de metas”. Em momentos  de crise política, ele acentua, esse descompasso aumenta o enfraquecimento das relações entre os agentes envolvidos nos programas oficiais, paralisando-os. A experiência das cisternas de PE leva o dirigente a ponderar que, muitas vezes, fornecer ao governo brasileiro implica risco de recebimentos para o transformador. “Essas possibilidades devem ser sopesadas na hora de abrir ou de fechar uma planta”, ele assinala.

A falta de políticas de longo prazo, repisa Roriz, envolve muita incerteza e insegurança para projetos como os das cisternas, ameaçados por atrasos, cancelamentos ou ausência do devido fluxo de pagamentos. “É a visão do curto versus a do longo prazo e é decisão estratégica da companhia assumir ou não o risco”, delimita. Por tabela, ele sustenta que o planejamento de políticas públicas  deve focar o cumprimento dos contratos e munir os investidores de confiança. “Para isso, precisamos de instituições fortes, o que esperamos conquistar ao final dessa instabilidade atual”. •

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