O toque de Sadim

Lula e Paulo Roberto Costa (ao fundo) em Suape: pedra cantada de um fracasso.
Lula e Paulo Roberto Costa (ao fundo) em Suape: pedra cantada de um fracasso.
Lula e Paulo Roberto Costa (ao fundo) em Suape: pedra cantada de um fracasso.

Em pouco mais de um ano rodando com sua capacidade completa de PET, a venda da Petroquímica Suape (PQS) é encaminhada pela Petrobras. Além do endividamento da petrolífera, a decisão foi justificada pelo presidente Pedro Parente com o foco agora restrito ao que ela sabe fazer, os negócios de sua vocação, óleo e energia. Mas o bota fora da PQS extrapola a conveniência dos ajustes financeiros e de planejamento estratégico. Por poucas vezes no setor plástico um empreendimento refletiu com tanta nitidez o toque de Sadim (Midas lido ao contário) do governo sempre que se mete a empresário.

O fiasco da PQS, cambaleante sob anos seguidos de prejuízo, não surpreende a gato pingado algum no setor de PET. Desde agosto de 2010, quando Lula prestigiou a pré-operação da empresa, até os dias de hoje, fonte alguma conseguiu racionalizar para Plásticos em Revista o investimento do governo, na costa pernambucana, numa capacidade de 450.000 t/a do poliéster grau garrafa escorada numa fábrica de 700.000 t/a de um ingrediente-chave, o ácido tereftálico purificado (PTA). A pedra do desastre foi cantada por argumentos ao alcance da mão. Alguns deles: o excedente global de PET, ainda em cena; o potencial doméstico muitas galáxias abaixo de uma capacidade total de 1 milhão de t/a da resina; as condições brasileiras para exportar, refreadas pela concorrência internacional na disputa pelo consumo meia boca da América Latina (exclusive México) e, para não alongar a lista, o fato de a rentabilidade de PET vir sendo carcomida pelo uso crescente de reciclado e pelo pega pra capar espessura nas garrafas de mega mercados como água e óleo vegetal. Nenhum desses alertas, noticiados à exaustão, foi ouvido pelo acionista majoritário da Petrobras, o governo, que geriu na prática a companhia nas eras Lula e Dilma com os resultados sabidos.

Plásticos em Revista acumulou uma penca de pedidos de entrevistas na Petrobras, seja atrás dos motivos para convencer o leitor de que a construção da PQS não significava rasgar dinheiro, seja atrás da visão de um produtor sobre o mercado de PET. Numa das raríssimas vezes em que houve retorno, a estatal defendeu o investimento em Suape afirmando apenas que o consumo per capita de PET era muito baixo no Brasil…

Adriano Pires, diretor da consultoria Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), começa a auditoria do fiasco pelas suas raízes legais. “Antes de 1995, a Constituição previa que subprodutos do processo de refino, como a nafta, só poderiam ser fornecidos no Brasil pela Petrobras ou por seu intermédio”, assinala. A partir daquele ano, expõe, o governo tomou várias medidas para liberalizar o setor petroquímico e eliminar aos poucos o monopólio da Petrobras. “Durante o governo Lula, em meados da década de 2000, foram assinados acordos com a Venezuela para a construção de uma refinaria no Polo Industrial de Suape. Dentro desse processo político, a implantação da PQS passou a integrar a carteira de projetos estratégicos da estatal e foi incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal”.

Lei de Murphy: se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível. “A implantação da PQS e da Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe), sem racionalidade econômica para a Petrobras, levou a perdas por impairment (redução do valor recuperável de ativos) de R$ 5,6 bilhões para a estatal em 2014 e 2015. Foi um desfecho muito negativo para a Petrobras”, conclui Pires.
Oxímoro significa a  combinação de palavras de sentido oposto, uma aliança de termos contraditórios. Por exemplo, atesta a PQS, governo empresário. •

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