O nexo do complexo

28 anos de bagagem em petroquímica dão lastro de sobra para Cleantho de Paiva Leite Filho tirar de letra a missão de abrir caminho para uma indústria zero bala no exterior. Uma conveniência, no caso, é que o país chama-se México, cujas afinidades com o Brasil decerto colaboram para Leite mandar ver como um dos mentores da entrada em cena no mercado local, agendada para o final de 2015, dos grades de polietileno de baixa (PEBD) e alta (PEAD) densidades gerados pelo complexo de 1.050 milhão de t/a do polímero a cargo da Braskem Idesa SAPI. No organograma dessa joint venture, Leite sobressai como diretor de desenvolvimento de negócios e relações institucionais. Na entrevista a seguir, ele disseca a indústria plástica mexicana e expõe a competitividade do futuro complexo de PE resultante de eteno obtido do etano, intermediário separado do gás natural servido pela estatal Pemex.

PR – O volume de importações mexicanas de polietileno lienar (PEBDL) se equipara à capacidade instalada dessa resina no país. Por quais motivos a Braskem Idesa optou por não produzir esse termoplástico?
Leite – Quando decidimos a configuração do projeto, tínhamos matéria-prima garantida por contrato para três plantas de escala mundial, mas não para quatro. Além disso, estudos de mercado apontaram déficits importantes em todas as três famílias de PE, em especial  em relação ao tipo de alta densidade (PEAD).  Considerando nossa leitura do que poderia ocorrer no futuro e tópicos como taxas de crescimento, alinhamento tecnológico e provável movimento de concorrentes, achamos mais conveniente fazer uma fábrica da resina de baixa densidade (PEBD) e duas para PEAD, material cujos déficits justificavam esta decisão em lugar de montar uma unidade de PEBD, outra de PEAD e a terceira de PEBDL.

PR – Os preços internos de PE da Pemex são apontados por todos os analistas como inferiores aos das resinas importadas. Além do mais, há a estagnação da economia europeia, excedente de resina na China e a ebulição com o barateamento de PE dos EUA com o gás de xisto. Diante desse quadro, como assegurar margens de lucro minimamente aceitáveis para o PE da Braskem idesa?
Leite – Aplicamos a mesma lógica de qualquer grande projeto na América do Norte. Nossa matéria-prima, o etano, segue as mesmas referencias de preço vigentes no Golfo do México e se beneficia de toda essa perspectiva positiva do shale gas. No mais, as plantas da Braskem Idesa são de escala mundial e contam com tecnologias de última geração. Tudo isso, portanto, nos dá competitividade para auferir bons resultados. Aliás, eles serão decerto turbinados pela nossa tradicional ênfase em serviços diferenciados para os clientes.

PR – Como a Braskem avalia a possibilidade de incentivar grandes clientes seus no Brasil a montarem plantas no México, para consumirem PE da Braskem Idesa e desfrutarem o mercado do Nafta?  
Leite – O processo de internacionalização não é  simples e exige muita maturidade do empreendedor; não é para qualquer empresa. Percebemos alguns clientes brasileiros com esse espírito. Indicam interesse em crescer internacionalmente, quem sabe, no México. A Braskem Idesa os apoiará no sentido de examinar as condições locais e pensar nessa oportunidade.

PR – Calcula-se que uma fatia arredondada em 70% do mercado mexicano de resinas seja atendida por distribuidores, além de representantes de produtores do exterior. No México, domina o modelo de agente multibandeira, vetado pela Braskem no Brasil. A Braskem Idesa manterá esse veto ou vai aderir ao modelo multibandeira para sua rede?  
Leite – Ainda não concluímos o processo de seleção de distribuidores e a análise das características do México e canais locais para definirmos em breve o modelo de rede de agentes e questões como o ponto de corte para a venda ser repassada do produtor ao varejista. A Braskem Idesa traz forte cultura do acionista Braskem Brasil, mas não podemos deixar de levar em conta as particularidades do mercado mexicano nesse processo decisório. Nem tudo o que se faz no Brasil se reproduz aqui, mas entendemos que muito do nosso modelo no Brasil pode ser aplicado.

PR – Carlos Fadigas, presidente da Braskem, afirma que a Pemex só fornece grades convencionais de PE. Quais os tipos de PEBD e PEAD hoje inexistentes na produção mexicana que a Braskem Idesa vai fornecer?
Leite – O México importa aproximadamente dois terços dos volumes de PE que consome. O produtor local concentrou-se em poucos tipos determinados e o mercado também recorre à grande variedade de grades servida por múltiplos fornecedores, principalmente dos EUA. Com a produção da Braskem Idesa, complementaremos a produção nacional com uma série de grades hoje sem similares locais ou de produção mexicana insuficiente. Em termos de PEBD, é o caso de resinas de uso industrial (melt index fracional) e para recobrimento (extrusion coating). Nosso portfólio também terá, claro, resinas para filmes de uso geral que já são produzidas localmente. Em PEAD, cuja produção no país é muito pequena, entraremos com grades para tubos de uso geral e tubos PE80 e PE100; resinas de sopro mono e bi-modal, para envases de pequeno e grande volume; tipos para monofilamento e um grade de filme de alto peso molecular bimodal, além de grande variedade de resinas de injeção em diversos índices de fluidez.

PR – Já que o core business da Pemex é óleo e gás, como a Braskem- Idesa avalia a possibilidade de fortalecer seu poder de fogo comprando o negócio petroquímico ou apenas a operação de eteno/PE da Pemex?
 Leite – No momento, nosso foco é concluir a implantação do complexo – falta ainda um ano de obras e testes – e iniciar o posicionamento no mercado local e da América do Norte, Central e Caribe. Não estamos em posição de especular sobre possíveis movimentos de compra de outros ativos no México. A longo prazo, a intenção da Braskem e do Grupo Idesa é seguir investindo e crescendo no negócio petroquímico. Após a recente aprovação das reformas no setor energético, o México deverá apresentar interessantes oportunidades a médio e longo prazo, associadas à maior disponibilidade de matérias-primas para investimentos.

PR – Como a Braskem avalia a possibilidade de inentivar e apoiar distribuidores seus para montarem filiais no México (sozinhos ou em joint ventures com parceiros locais) para comercializarem PE da Braskem Idesa?
Leite – O México já contempla uma importante rede de distribuição, contendo empresas de grande e médio porte. Se alguma empresa brasileira ou de outra origem pensa em entrar no mercado local, recomendamos que busquem comprar/associar-se a alguns dos atuais participantes, pois o mercado já contempla um número muito grande de atores. “Incentivar” não é o verbo correto para estruturar sua pergunta. Reitero que a decisão de internacionalização depende de inúmeros fatores e não de “incentivo” de um fornecedor.

PR – No México, é ultra corriqueiro o ensaque de volumes menores de PE por centros de distribuição ou terceiros designados para esses serviços por distribuidores. A resina é então ofertada em sacos com a marca do agente autorizado. No Brasil, a Braskem veta essa modalidade de venda. A Braskem Idesa fará o mesmo?
Leite – Pelas características do mercado mexicano, a Braskem Idesa irá utilizar a excelente cadeia local  de operadores logísticos. Ela receberá parte de nossa produção em vagões de trem (granel) para entrega aos clientes a partir desses pontos em dois formatos: a granel em caminhão (produto transferido dos vagões) ou em sacaria com a marca Braskem Idesa – a resina é ensacada pelo operador logístico. Os distribuidores também poderão revender a granel ou em sacaria da Braskem Idesa. Nossa intenção não é vender produtos para serem comercializados por distribuidores com suas marcas, em sacaria própria, pois é da nossa cultura dar todo o respaldo técnico e de qualidade a 100% do que produzimos.

PR – A América Latina encabeça os destinos na mira do previsto excedente de PE norte-americano, turbinado em preços pela rota do gás de xisto. Como a Braskem avalia a possibilidade de também trazer PE da Braskem Idesa para cá, de modo a zelar melhor pela preservação de sua participação no mercado brasileiro de PE?
Leite – A Braskem Idesa, tal como outros produtores norte-americanos, será fornecedora relevante na América Latina, em especial na parte central, na região norte da América do Sul e na costa do Pacífico, onde temos vantagens logísticas. Para isso, contaremos com a extensa rede comercial e escritórios sul-americanos da Braskem. Exportações para o Brasil também podem fazer parte de nossos objetivos, mas o foco não pode ser a manutenção de market-share, mas atender aos interesses dos acionistas da Braskem Idesa. Assim, o Brasil estará no conjunto de mercados potenciais para a Braskem Idesa.  •

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