O mestre das obras

Joaquim Caracas eleva o andaime do plástico na construção civil

“Invenção é inovação com nota fiscal”. Ao cunhar essa definição na mídia, Joaquim Antônio Caracas soltou uma pista para a missão impossível: desvendar o modo de pensar que granjeou-lhe a reputação de uma incubadora de idéias em movimento constante. A frase do engenheiro civil embute a visão pragmática que acompanha suas sacadas desde a infância, quando transformava latas de querosene em apanhadores de lixo para vender, até hoje, como autor de uma bateria de patentes que deu nome e asfaltou a estrada da empresa há 20 anos presidida por ele, a cearense Impacto Protensão, divisora de águas do uso do plástico na construção civil. Em 2014, sua carteira de clientes já perfilava 400 nomes e, na vitrine das obras recentes, destacam-se a participação na construção da Arena Castelão e Shopping Iguatemi, ambos em Fortaleza.
Protensão é, em essência, um tratamento para aumentar a resistência à tração do concreto. Com estacas findadas nessa especialidade, fundou a Impacto em 1996 e a potência do negócio, controlado por Caracas e a esposa Antonieta, subiu ao nível turbo quando ele transpôs para o Brasil a tecnologia norte-americana da protensão com cordoalha de aço engraxada, conhecimentos repassados via parceria pela californiana ADAPT – Structural Engineering Consultants. Em paralelo, Caracas imergiu em soluções referentes ao cimbramento (estruturas para escorar e fixar fôrmas no concreto armado) e em fôrmas plásticas para lajes, vigas e pilares. As patentes dessas sacadas premiadas convergem para a redução de custos e substituição de componentes de madeira por plástico. Em passeio pela praia em Sergipe, deparou com um painel de casas pintadas e teve uma epifania: a inspiração para criar um módulo habitacional em plástico reciclado de desempenho superior ao de uma estrutura de madeira, alvenaria e container metálico. A ideia resultou numa área específica de atuação da Impacto. Além de moradias, a exemplo dos aposentos do Hotel Vale das Nuvens (ver à última página), empreendimento do próprio Caracas em sua cidade natal, Guaramiranga, a casa de plástico conquistou espaço em construções de cunho provisório como canteiros de obras, banheiros públicos, estandes de vendas, alojamentos e refeitórios. Nesta entrevista, o inventor, que aplica de 8% a 14% da receita em P&D, escancara a relevância das inovações com plásticos em sua trajetória.

Caracas: 11 patentes ligadas ao plástico  em obras.
Caracas: 11 patentes ligadas ao plástico
em obras.

PR – Como reparte o faturamento deste ano entre as áreas de protensão, sistemas de fôrmas e casa de plástico?
Caracas- Protensão detém 45% da receita e as duas outras áreas respondem pelo restante.
PR – A área de sistemas de fôrmas inclui caixas plásticas, plasterit (chapas de plástico substitutas de compensado de madeira no cimbramento) e fôrmas de plástico para laje treliçada. A área de casa plástica tem as placas e outros elementos de plástico. Qual a estrutura da Impacto para produzir esses artefatos?
Caracas – Os moldes e as peças plásticas são todos fabricados internamente. A estrutura de máquinas é composta por sete injetoras, dois CNC’s, um equipamento de eletroerosão, um torno, uma retífica e uma furadeira radial. Polipropileno (PP) é o polímero mais utilizado para injeção de peças plásticas e dois tipos de aço, 1045 e P20, dominam a nossas construção de moldes. A propósito, apenas a produção de peças metálicas é terceirizada.

PR – A Impacto divulga ter 20 pedidos de patentes, dos quais 3 já homologados. Quando o mais antigo pedido de patente foi colocado? Segundo o Banco Mundial, uma das razões para o péssimo ambiente brasileiro para negócios é a demora de até 10 anos para uma patente ser deferida.O prazo no Brasil é mesmo abusivo?
Caracas – Nosso pedido mais antigo de patentes foi colocado em tramitação em 1997. Realmente, as patentes demoram muitíssimo a sair no Brasil. Podem durar menos ou até mais de 10 anos.

PR – Das 20 patentes em nome da Impacto, quais delas envolvem diretamente o emprego de plástico?
Caracas – 11 delas referem-se a peças plásticas. Entre elas, constam três de sistemas construtivos: um sistema tridirecional para lajes nervuradas, outro para construção de lajes desse tipo com maior altura de inércia e o sistema para fabricação de casas e outras estruturas. O plástico também integra as nossas patentes do economizador de concreto para construção de lajes nervuradas de aparência maciça; do painel de fechamento do sistema construtivo para casas e outras estruturas;das fôrmas com travas e reforço estrutural para sistemas de construção de lajes nervuradas e a patente da peça acoplável para montagem de fôrmas de conformação de vigas em estruturas de concreto. Ainda no âmbito do plástico, consta a patente relativa à disposição construtiva aplicada em suporte para distribuição e travamento de cordoalhas de protensão nas estruturas de concreto. Essa listagem termina por ora com as patentes do sistema de travamento, fixação e distribuição de cordoalhas na construção de lajes protendidas e do sistema pré-fabricado para construção de casas e outras estruturas de abrigo com emprego de placas plásticas. .

 

Arena Castelão e Shopping Iguatemi: atuações marcantes da Impacto.
Arena Castelão e Shopping Iguatemi: atuações marcantes da Impacto.

PR – Qual o efeito concreto de dois anos seguidos de recessão, crédito imobiliário restrito, erosão das verbas públicas e construtoras descapitalizadas sobre a receita da Impacto?
Caracas – Como uma empresa B2B atrelada a lançamentos imobiliários, tivemos uma leve queda no faturamento em mercados maduros, onde já possuímos alta participação. Em contrapartida, nesse período buscamos expandir para novos mercados onde nossa tecnologia tivesse forte capacidade de penetração e transformação no cenário local. Como exemplo dessa estratégia podemos citar a abertura do escritório em São Paulo e a nossa chegada no restante da América do Sul, através da execução de obras na Bolívia e Equador.

PR – Qual o efeito da recesssão sobre cada área da Impacto Protensão, fôrmas e casas de plástico?
Caracas – Como nosso modelo de negócio enxerga protensão e fôrmas dentro de uma única solução, não conseguimos apontar uma queda específica para cada linha. O desaquecimento acabou afetando de forma homogênea a receita da companhia.

PR – Quais os planos a curto prazo e quais deles dizem respeito diretamente a desenvolvimentos e inovações no âmbito do plástico?
Caracas – A estratégia da Impacto é se consolidar no mercado de São Paulo e realizar ações de expansão na América Latina, em países como Bolívia e Colômbia.
No que diz respeito ao plástico, está previsto o lançamento ainda neste final de ano de produtos para otimização da execução de lajes.

PR – Como se diz no mercado, a construção civil é o primeiro setor a cair e o último a sair das crises. Qual a expectativa para 2017 em relação a cada uma das áreas da Impacto?
Caracas – A expectativa é de, mesmo em meio à crise, não parar de investir em inovação e estratégias de expansão, tanto em outros estados brasileiros como na América Latina. •

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