O futuro começa a circular

Uma revolução a caminho na economia e no mercado vai gerar ganhadores e perdedores no setor plástico
Paul Hodges

“A Idade da Pedra não terminou por termos saído correndo das pedras. Da mesma forma, o carvão está sendo deixado no chão porque não precisamos mais dele. O mesmo ocorre com o petróleo, como o governo saudita reconheceu, no ano passado, em seu planejamento para 2030: “Em 20 anos, estaremos numa economia mundial que não dependerá primordialmente do óleo”. Agora o debate se move para os derivados dessa fonte de energia, como plásticos.

Essa mudança começou anos atrás, com a preocupação crescente com as tradicionais sacolas plásticas. Consumidores decidiram não mais querer viver num mundo repleto de refugo de sacolas. Pois agora, com base em um estudo marcante intitulado “Produção, uso e destino de todos os plásticos já produzidos”, publicado em julho último por cientistas norte-americanos no jornal Science Advances, o debate passa a focar esta pergunta: “o que acontece com o plástico depois que o usamos?”

Algumas referências da pesquisa:
*O mundo produziu 8,3 bilhões de toneladas de plástico nos últimos 60 anos.
* 91% desse volume foram descartados, sem reuso.
*Mas esse descarte não desapareceu simplesmente, pois o plástico leva cerca de 400 anos para degradar-se.
*Em vez disso, assinala o estudo, a parcela de 79% do volume descartado hoje ocupa aterros, polui o meio ambiente e acaba em boa parte imersa nos oceanos.

Ninguém reclama que esse lixo foi criado deliberadamente. Ninguém discute que os plásticos sejam incrivelmente úteis – eles são mesmo e têm salvo milhões de vidas através do seu emprego em embalagens alimentícias e outras aplicações críticas. Como um dos autores adverte no estudo: “não estávamos cientes das implicações do plástico até que o descarte já estivesse no meio ambiente. A situação agora nos leva a vir lá de atrás para emparelhar com esse cenário”.

Impressão 3D: trunfo para reduzir o consumo de plástico.

A boa notícia é que potenciais soluções estão em desenvolvimento. Recycling Technologies, empresa da qual sou diretor, hoje avalia alternativas para recuperar lixo plástico em forma de resina virgem, ceras e óleos. Outras companhias se empenham na busca de diferentes soluções nessa direção. Também é crescente o esforço para remoção do lixo plástico no mar. A propósito, no ano passado escrevi um artigo intitulado “Sustentabilidade substitui a globalização como força motriz para a economia”. Aí vão algumas passagens:

*95% do valor material das embalagens plásticas é hoje perdido após o curto ciclo do primeiro uso.
*Por volta de 2050, haverá, em peso, mais plástico que peixe no mar, caso as atuais políticas ambientais prossigam.
*Claro que esse estado de coisas não pode continuar.

Mas há um outro lado da discussão prestes a ganhar as manchetes. Trata-se de uma simples questão: “como parar de jogar cada vez mais plásticos no meio ambiente?” Sair da confusa controvérsia é vital. Mas o mundo também começa a perceber que, em primeiro lugar, precisa parar de criar esse problema.

Como sempre, há uma quantidade de potenciais soluções disponíveis:
*A chegada da impressão 3D reduz dramaticamente o volume de plástico necessário à fabricação de um produto acabado. Emprega a quantidade requerida de matéria-prima e gera muito pouco refugo.
*A digitalização oferece a oportunidade de se evitar o uso de plásticos. Veja o caso da música: a maioria dos ouvintes hoje recorre a serviços de streaming e não compra mais CDs.
*A economia compartilhada também reduz a procura por plásticos. Novos modelos de negócios, como o compartilhamento de veículos, carros autônomos e serviços de carona asseguram mobilidade às pessoas sem a necessidade de carro próprio.
O ponto chave é que o mundo caminha para abraçar os princípios da economia circular, tal como na declaração da entidade Ellen MacArthur Foundation: “a tiracolo da transição para fontes de energia renováveis, o modelo de economia circular constrói capital social, natural e econômico”.

Saneamento: indústria do plástico crescerá na garupa dos serviços.

Essa mudança de paradigma cria maiores desafios para países e companhias atrelados à produção de volumes crescentes de plásticos. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) vai tomar um choque indigesto na medida em que, por exemplo, suas previsões de demanda são baseadas nesta crença divulgada pela entidade: “cerca de 1/3 do aumento da demanda total de óleo entre 2015 e 2040 virá do modal rodoviário (6,2 milhões de barris/dia) e prevê-se forte crescimento do consumo de óleo na petroquímica (3,4 milhões de barris/dia)”.

A OPEP se esquece de um princípio fundamental: “o que não pode perdurar para sempre, não continuará” . Afinal, bastaram 25 anos para os carros substituírem os cavalos no século passado. Mais recentemente, países como China e Índia entraram com tudo nos celulares, não mais se importando com a linha telefônica fixa.

Conforme assinalei em artigo no ano passado, padrões subjacentes de demanda estão sendo alterados em função do envelhecimento das populações. Ao longo do ciclo conduzido pelos “baby boomers” (nascidos entre 1946 e 1964), o crescente número de jovens requeria a globalização para suprir suas necessidades. Pouco ligavam para os efeitos colaterais, como é típico da juventude.

Hoje em dia, a população de idade avançada não precisa de quantidades volumosas de tudo o que é produzido. Decorrência da velhice, ficam naturalmente mais resistentes a mudanças e tendem a ver nelas mais contras do que prós. Óbvio que mudar é sempre difícil porque gera ganhadores e perdedores. Daí também porque “negócios como de costume” são uma estratégia tão popular. Portanto, é crucial que as companhias já comecem o preparo para figurar entre os vencedores no mundo da economia circular. Como é sabido, “não existe uma indústria madura, mas empresas maduras. E indústrias desprovidas de companhias maduras em geral apresentam grandes oportunidades para a inovação”.

Economia Circular agita Seminário de Competitividade

As oportunidades de negócios, novos hábitos de consumo, os reflexos na economia e no perfil do setor plástico serão dissecados no VII Seminário de Competitividade, a ser realizado pela Abiplast e Plástico em Revista em 14 de setembro em São Paulo.
Maiores informações e inscrições:
www.plasticosemrevista.com.br/competitividade-2017
(11) 3666-8301

Posto isso, julgo que o crescimento da indústria plástica será determinado pelos seguintes serviços que orbitam os conceitos de sustentabilidade e acessibilidade: mobilidade urbana (economia compartilhada), abrigo (fontes renováveis e conservação ambiental); água (potável e saneamento), alimentos (embalagens inteligentes e reutilizáveis), saúde (medicina digital). Esse quadro demonstra que, no campo dos plásticos, serão vencedoras as empresas e nações que concentrem suas aptidões e conhecimentos em negócios calcados em serviços capazes de prover soluções sustentáveis nos segmentos citados. Os perdedores serão aqueles que enterrarão a cabeça na areia, convictos de que nada vai mudar. •

Paul Hodges preside a consultoria IntelChem e é blogueiro do portal Icis, de onde este artigo foi selecionado para reprodução. Link para o texto original:
http://www.icis.com/blogs/chemicals-and-the-economy/2017/07/plastics-demand-peaking-circular-economy-arrives/

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