O bolso ensina

Seria muito educativo se o povo visse a parcela de impostos no preço mostrado na embalagem dos produtos

O sociólogo Alberto Carlos Almeida deu o que falar quando lançou, em 2007, o livro “A Cabeça do Brasileiro”. Fruto de pesquisa para traçar um perfil da população, a obra continha revelações dessas de se varrer para baixo do tapete para não chocar as visitas. Por exemplo, os entrevistados mostravam-se benevolentes com o nepotismo e corrupção no governo e viam no Estado uma espécie de pai de todos, com a missão de prover tudo, não importa como. “São muito atrasados”, comentou Almeida para Plásticos em Revista.

Oito anos depois, não há razão para se contar com mudanças nessa percepção popular. Ao contrário, fatores como a piora de uma educação já abaixo da crítica e o intervencionismo a 100º do governo em todas as instâncias pesaram para fortalecer, desde então, a pobreza intelectual desvendada no livro. Acontece que, após 13 anos de navegação sem atentar para as mudanças dos ventos e as reservas de combustível, o barco foi a pique. A máquina estatal balofa, perdulária e larápia quebrou o Brasil. A pergunta agora é, se dessa vez, a conta do rombo causada pelo governo e jogada ao povo terá o condão de abrir os seus olhos.

Nas entrelinhas da visão do Estado paternalista captada no estudo de Almeida, pulsa a certeza de que sua missão é levar os pobres a melhorar de vida, o que décadas de execrável distribuição de renda desmentem. Mas a cantilena não muda. Durante a seca de 1870, Dom Pedro II prometia até vender a coroa para nenhum nordestino morrer ao deus dará. A coroa está no Museu Imperial de Petrópolis e as vítimas da estiagem nas covas. O fato é que pobre sobe na vida desde que lhe possibilitem chegar à prosperidade e, para isso, é preciso criar riqueza. Dádivas não dão em igualdade social e só servem para manter no cabresto currais eleitorais, comprovam séculos de desenvolvimento econômico e democrático.

Vale torcer também para que a recessão e o desgoverno em andamento tenham força, a partir da educação pelo bolso, para tirar de vez mais duas aberrações que a pesquisa de Almeida flagrou na cabeça do brasileiro. Uma delas é a noção de que o Estado tem o poder divinal de criar recursos do nada, quando na realidade só pode tirar de alguém para outrem. A outra é o desconhecimento de que sempre sobra muito pouco do nosso Estado para atender os pobres, cortesia da máquina pública, inchada de cargos comissionados, cabides de emprego e mordomias impensáveis no mundo desenvolvido. Seria muito educativo, aliás, se fosse mostrada ao consumidor a parcela de impostos no preço de venda estampado na embalagem dos produtos. Na mesma linha de passe, uma população esclarecida converge para um governo adepto da transparência, que discrimina seus gastos e como e quem os custeia.

Ao final dos anos 80, o economista Mário Henrique Simonsen soltava os cachorros num artigo de revista. “Com o governo superendividado, com os políticos concentrados em distribuir empregos sem trabalho e com a ideia de que slogans enchem a barriga dos pobres, estamos caminhando para o retrocesso”. Simonsen via o povo metido num vagão para a Bangladânia, um lugar miserável feito Bangladesh e isolado como a Albânia. “Podemos desviar o trem-bala da Bangladânia?”, ele conjeturava no texto. “A resposta é positiva, mas depende de uma cirurgia capaz de extirpar os nossos cacoetes culturais”.

Tomara que o Dr. Bolso consiga desta vez.

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