No escuro do futuro

O que há por trás das costumeiras previsões de fim de ano

cartasTranscrição literal de anúncio on line da Taróloga Pérola: “Taróloga, Astróloga e Numeróloga há 22 anos, utiliza sua vidência e intuição para interpretar o Tarot de Marselha Online e aliados a Astrologia e Numerologia, revela assim todas as dúvidas em assuntos como Amor, Financeiro, Familiar, entre outros. Traça o perfil do consulente, mostra a situação atual, explica o passado e orienta sobre o futuro”.
Ela não faria má figura ao lado das confiantes previsões de crescimento no ano seguinte com que, em todo final de dezembro, governo e empresários costumam infestar o noticiário. OK que pensamento positivo faz parte do astral do empreendedor, mas as premissas para quem investe nada têm a ver com votos de boas festas.
Contrabandista de rum, jornalista e, bem depois, erudito da ciência política, Bertrand de Jouvenel é considerado o pai dos futurólogos pelo seu livro  “A Arte da Conjetura”. Em um dado momento, ele atestava, existe um conjunto de futuros possíveis e, dentro dele, subgrupos de futuros prováveis e preferíveis. A ficção científica, por exemplo, traça futuros possíveis. A certeza da imprensa dos EUA na derrota de Donald Trump diz muito sobre o grau de risco dos futuros preferíveis. Planejadores de empresas, como mostra a indústria petroquímica, em geral se identificam com os cenários de futuros prováveis, pois menos utópicos e mais pés no chão que os futuros possíveis. Em regra, eles recorrem a tendências flagradas em vários campos  – tecnologia, economia, energia, população etc – e tecem extrapolações a partir daí. Exemplo: a população mundial atingirá certo número em uma década por vir crescendo a uma dada taxa média anual. Beleza. Mas nos Estados Unidos, a explosão em curso de investimentos em polietilenos decorreu da crença no barril eternizado em US$ 100 perante os custos inferiores do gás extraído do xisto. Deu no que está dando. Aliás, as extrapolações em linha reta emplacam  melhor em ambientes estáveis. O falecido Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro que o diga, tal como quem previa, na crise do petróleo ao fim do século XX, que os países da Opep virariam nababos e o Japão penaria a pão e água.
Apesar do grau de acerto a desejar, os futurólogos merecem ouvidos. Ao jeito deles, afinal de contas, advertem a sociedade para crises capazes de pintar se determinados ajustes não forem efetuados. O Brasil de hoje é um exemplo. Da mesma que fusíveis e disjuntores evitam panes nos circuitos elétricos que poderiam gerar um incêndio, um poder público deve ser capaz de funcionar a contento sem depender de salvadores da pátria. Entre nós, espera-se que alguma lenda viva da economia acabe logo com a crise e, sob o calor das pressões, o ministro entra na segunda e já é frito na sexta feira. Ou seja, o problema não é ele, mas do sistema que clama por um Mandrake. De carona na imagem citada lá em cima, o Brasil está em curto-circuito por operar sem fusível e disjuntor, insistindo em confiar nos Messias que se sucedem em lugar de atacar as fraquezas que hoje o impedem de cumprir suas obrigações constitucionais.
Enquanto tudo fica como está, talvez seja melhor o setor plástico assuntar sobre o futuro chamando a Taróloga Pérola para uma reunião de conselho. Nos dois sentidos. •

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