No coração da realidade

Surpresas no mais novo mapeamento das recicladoras

reciclaO reciclador padrão de plástico toca uma microempresa com frequentes recaídas na informalidade e não dá pelota para tecnologia, certo? Errado, sustenta o recém-lançado mapeamento dos recicladores munidos de processos industriais, fruto de pesquisas de campo a cargo da Fundação Instituto de Administração (FIA), projeto encomendado pelo programa Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico (PicPlast). Empreendida em 2014, a varredura colheu 169 empresas em 17 Estados e no Distrito Federal, das quais 34% faturam ao ano de R$ 12 milhões em diante e 31% de R$ 1,2 milhão a R$ 12 milhões. Tem mais: desmentido a impressão de um setor de alta mortalidade de empresas, 74% de 164 respondentes operam há mais de 11 anos; 14% entre seis e 10 anos e 12% de cinco anos para baixo. Embora PET tenha virado o sinônimo de descartável plástico para a opinião pública, o pente fino do PicPlast registrou que apenas 8% das recicladoras dedicam-se com exclusividade a recuperar o poliéster pós-consumo. Em poliolefinas, 22% dos entrevistados focam apenas polietilenos e 5% somente polipropileno. Presságio da recessão atual, 71% das 169 recicladoras esquadrinhadas asseguraram dois anos atrás que não investiriam em 2015 e 2016. Coordenador do mapeamento, Leandro Fraga, professor da Fia, comenta nesta entrevista os achados do trabalho.

Fraga: recicladores predispostos a atualizar a tecnologia.
Fraga: recicladores predispostos a atualizar a tecnologia.

PR – Do universo de 169 recicladoras entrevistadas, apenas uma opera no Amazonas. Acontece que lá está o Polo Industrial de Manaus, forte consumidor de resinas e gerador de aparas industriais. Porque então existe apenas uma recicladora nesse mercado?
Fraga – O plástico a ser reciclado pode viajar bastante pelo Brasil. O acesso à matéria-prima reciclável nem sempre é direto ou local, até porque depende de acordos comerciais estabelecidos por empresas de regiões às vezes distantes da fonte geradora. Por sua vez, a indústria recicladora nem sempre tem vantagens em se estabelecer em determinados locais, por razões diversas. Além disso, a depender do tipo de plástico, aparas industriais perdem para o pós-consumo a condição e fonte mais importante de geração de material reciclável.

PR – Dois notórios entraves ao crescimento da reciclagem de plástico é a sua defasagem tecnológica e a carga tributária. Porque esses dois tópicos não constam do temário do levantamento?
Fraga – Não tivemos indício da defasagem tecnológica como um problema da indústria recicladora, muito menos uma limitação ou entrave ao processo de reciclagem. Ao contrário, tivemos a confirmação de uma disposição para o investimento – incluindo equipamentos de tecnologia avançada – superior ao aferido em regra na indústria brasileira, em particular nesse período de dificuldades econômicas. Já a questão tributária penaliza as atividades de forma generalizada, em particular nos tributos compensáveis que, no caso da reciclagem, não o são. Mas pesquisar o tema pareceu que apenas confirmaria as aflições conhecidas,sem novidades. Nas entrevistas, o principal gargalo apontado para o crescimento da reciclagem de plásticos foi o acesso à matéria-prima.

PR – O levantamento permitiu aos autores aferir se está crescendo ou não a quantidade de transformadores que reciclam internamente o refugo gerado em linha?
Fraga – Teremos uma noção melhor a partir de novas pesquisas; nesse caso foi tirado o primeiro instantâneo do setor. Mas há uma tendência geral de aumento de eficiência no processamento de plásticos e, com isso, de redução da geração de refugo industrial, bem como do seu eventual reaproveitamento interno.

PR – Na pesquisa, o Sul desponta como a região com maior número de recicladores entrevistados: 38 em Santa Catarina, 41 no Rio Grande do Sul e 7 no Paraná. Como este último é o estado sulista de maior crescimento industrial, além de peso pesado no agronegócio, como explicar o contraste entre seu número diminuto de recicladores com as quantidades maiores registradas no âmbito dos catarinenses e gaúchos?
Fraga – Há duas perguntas importantes aqui. Primeiro, onde ficam os recicladores que responderam ao questionário de forma completa – não há como controlar a sua distribuição, é uma decisão de cada um. Uma coisa é a distribuição dos recicladores existentes e outra é a dos respondentes. A outra questão é sobre a regionalização das informações – um levantamento como esse não deve ser tomado pelas suas partes, sob risco de induzir conclusões equivocadas. Ele é nacional. O material reciclável viaja, às vezes por milhares de quilômetros, para ser processado. Não há correlação entre a disponibilidade de aparas ou de material pós-consumo e o desenvolvimento de uma indústria de reciclagem local, até pela falta de incentivos para tanto.

PR – 4% das 169 empresas entrevistadas são indústrias de até 3 anos de ativa. O índice de novos entrantes e de mortalidade de empresas tem caído ou subido no setor nos últimos 5 anos?
Fraga – Reitero que essa pesquisa é um instantâneo do momento nas empresas entrevistadas. Não seria possível mais do que especular sobre o que ocorre com outras que não o foram, ou que existiram, mas fecharam as portas. Isso não era o objetivo do trabalho. O importante é verificar que, entre as pesquisadas, o número de empresas maduras é bastante alto. Novos estudos nos próximos anos permitirão conhecer melhor essa dinâmica, com bastante objetividade.

PR – 63% das 169 empresas pesquisadas afirmam trabalhar com todas as resinas, sem distinção. A reciclagem internacional de reciclagem pende para a especialização crescente. Com base nisso, a parcela dominante de recicladoras multimaterial no Brasil deve aumentar ou diminuir nos próximos anos?
Fraga – Como o trabalho é um retrato do momento, não é possível dizer em que ponto dessa dinâmica da evolução do mercado estamos: se concentrando em tipos específicos ou se mantendo a situação de diversidade de matérias-primas. O próprio investimento em tecnologia declarado por muitos dos entrevistados leva, provavelmente, a uma maior especialização, mas só saberemos isso com mais precisão com a evolução da pesquisa ao longo dos anos. •

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