Ninguém nasce sozinho

Defasagem em moldes não cede sem representatividade forte do setor

Paulo Braga de Melo, executivo da VW do Brasil, soltou os cachorros em evento da Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais (Abinfer) realizado em julho último no ABC paulista. Na ocasião, ele martelou a necessidade de as matrizarias nacionais investirem na qualificação de pessoal e modernização de processos. Reiterou que as europeias e asiáticas acenam com custos e prazo de entrega inferiores aos daqui e afirmou que sua montadora importa moldes de injeção, a exemplo dos destinados a pára-choques, por não achar fornecedores locais à altura. Procurada por Plásticos em Revista, a VW proibiu Melo de falar. Do lado dos criticados, Christian Dihlmann, presidente da Abinfer, põe os pingos nos iis a seguir.

Dihlmann: falta uma política industrial estável.
Dihlmann: falta uma política industrial estável.

PR – A VW do Brasil justifica suas importações de determinados moldes de injeção com a falta de competitividade das ferramentarias do Brasil. Essa percepção não é novidade no setor automotivo. Por que ela permanece inalterada ?
Dihlmann – No Brasil, ferramentaria é uma indústria relativamente nova em termos de empresas individualmente organizadas. Desde os seus primórdios, nunca houve uma iniciativa de agrupar o setor, em prol de articulações e da construção de uma política empresarial focada na ferramentaria. Embora o setor seja fundamental para praticamente toda a indústria produtiva, as empresas operavam e ainda operam em “mares turbulentos”, com escassas situações de “oceano azul”. Por seu turno, o Brasil prima pelo cenário econômico senoidal, de frequentes altos e baixos. Nas últimas duas décadas, o modelo de globalização tem prejudicado com maior intensidade a nossa produção. Isso decorre de fatores macroeconômicos como a falta de política industrial nacional (de Estado) definida e de longo prazo; a alta carga tributária e o câmbio descasado da busca de competitividade na manufatura. Até pouco tempo atrás, ele favorecia a importação. A legislação do comércio exterior também viabilizava a entrada excessiva de moldes de fora, agravada com a possibilidade de obtenção de ex-tarifário. Esses entraves explicam o índice de mortalidade de ferramentarias na casa de 6% ao ano entre 2008 a 2014 e levaram as empresas a não produzir caixa suficiente para uma operação sadia, limitando-se a pagar apenas o essencial. O resultado foi a postergação de investimentos, prejudicando a renovação do parque fabril.

Com a valorização do dólar, o câmbio ficou menos prejudicial, pois foi reduzida a diferença de preços entre ferramentais importados e nacionais. Infelizmente adentramos, desde a segunda metade de 2015, num cenário econômico menos favorável. Ele neutralizou essa correção cambial e não obtivemos os resultados esperados em relação ao volume de pedidos. Por outro lado, a ação coletiva entre governo federal e entidades empresariais viabilizou, nos últimos cinco anos, a construção do Programa Inovar-Auto, lançado em 2013. Essa ação, quando em pleno vigor e dentro de uma conjuntura mais promissora, tornará a demanda de ferramentais superior à capacidade produtiva nacional, já em xeque.

PR – Mas mesmo assim o setor não continuará vulnerável?
Dihlmann – A saída passa por aplicar uma verdadeira política industrial, com metas e ações de médio e longo prazo. Não é aceitável que a cada novo governo tenhamos um redirecionamento das políticas, essa falta de orientação refreia a disposição de investir na modernização dos equipamentos. Em segundo lugar, urge revisar a tributação, hoje em nível exagerado, insuportável para a competitividade industrial. Existem propostas inteligentes de simplificação da carga tributária, caso da coordenada pelo Movimento Brasil Eficiente. Por fim, pesa nesse ajuste de rota o nível do mercado, pois limita ou libera o desenvolvimento das ferramentarias.

Da porta para dentro das empresas, vejo uma deficiência estrutural no pilar gerencial. Em regra, nossos empresários têm excelente domínio técnico, mas pouca desenvoltura no campo administrativo. É necessário grande investimento nessa qualificação para elevarmos a competitividade. Por fim, é imperativo revisar o preparo, estacionado nos últimos anos, de profissionais para ferramentarias. Em suma, a partir de uma política tributária nacional desalinhada com a realidade mundial, qualificação inadequada de mão de obra e equipamentos e processos defasados, nossas ferramentarias hoje penam, no plano geral, com prazos maiores de entrega e atendimento a desejar.

PR – Em meio à recessão e instabilidade, como a Abinfer pretende agir para elevar a competitividade das matrizarias nacionais?
Dihlmann – De início, estamos trabalhando para consolidar a Abinfer. Para isso, precisamos da participação maciça do empresariado, aderindo à entidade como forma de adensar a representatividade das ferramentarias junto a órgãos públicos e privados envolvidos na cadeia. Elevar a competitividade de um setor é trabalho longo, intenso e preciso. As ações necessárias englobam desde a adoção de novas práticas gerenciais até a inserção de tecnologias e processos inovadores e a construção de políticas junto ao poder público. Em todas essas frentes desenvolvemos ações. Em breve teremos um setor mais organizado e forte. É apenas uma questão de dedicação e tempo. •

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