Não se chega lá por acaso

Versatilidade e inquietação energizam há 30 anos a NTC
Produtos de marca própria: NTC aposta no aumento do portfólio.

Um portfólio que dispersa o foco entre pecuária, transporte pesado, setor náutico, eletrodomésticos e petróleo é olhado de soslaio por qualquer manual de gestão empresarial que se preze. Mas na contramão desse consenso, a transformadora gaúcha NTC chega aos 30 anos incólume aos altos e baixos do Brasil, por razões como ter achado um meio de desenrolar o fio da meada de tantos campos distintos entre si. “Todos os produtos de diferentes áreas que desenvolvemos encerram o desafio de buscar uma solução técnica em peças injetadas para atender o mercado de formas competitivas”, traduz o diretor Bernardo Shen. “Foi devido ao perfil variado de clientes, sem concentração num segmento específico, que a NTC cresceu 15% em 2017 perante 2016”, ele atribui.

Sem abrir cifras, Shen reparte o faturamento da empresa entre 60% em serviços para terceiros, a exemplo das peças encomendadas pelos setores automotivo e eletroeletrônico, e 40% para os produtos de marca própria. Em 2013, a prestação de serviços abocanhava 85% do movimento e o diretor encaixa que o objetivo é cindir a receita em duas partes iguais. “Trabalhamos por muito tempo com dedicação quase exclusiva às autopeças”, ele pondera. “Chegou a hora de nos reinventarmos, expandir as operações e testar ao máximo o nosso potencial. Apostamos em adicionar novos produtos ao portfólio de marcas próprias; inclusive estamos repensando o posicionamento da NTC para os próximos três anos”.

A NTC nunca foi de sossegar o facho. Surgiu em 1988, como pequena metalúrgica em Farroupilha e, do fornecimento de itens como ferragens, logo embarcou na construção de moldes e injeção de peças de reposição para ônibus. Nove anos depois, a matriz passou para Caxias do Sul e, em 2001, a composição societária foi reformulada com a saída dos fundadores e o negócio foi vitaminado pelo novo controlador, o Grupo Luiz Participações e Administrações de Bens. Sediada em Porto Alegre, esta holding também incorpora a transformadora gaúcha de flexíveis Plastrela e a incorporadora imobiliária Evergreen. Com as dosagens de esteroides no caixa, a NTC arrancou e, em 2008, veio a primeira filial, em Aparecida do Taboado, Mato Grosso do Sul. Sete anos depois, a demanda de um cliente do setor automotivo justificava a partida da segunda sucursal, em Atibaia, interior paulista.

Bernardo Shen retoma o fio dimensionando a atual capacidade total de peças injetadas em 125 t/mês, na garupa de um consumo de resinas da ordem de 90 a 100 t/mês que alimentam um contingente de 28 injetoras hidráulicas, de 100 a 1.600 toneladas, vida útil de seis anos em média e capazes de produzir peças de até oito quilos. “A empresa tem o objetivo de reinvestir 10% da receita anual no parque fabril”, ele completa. Na esfera dos moldes de injeção, a NTC constrói ferramentas de até 30 toneladas projetadas por sua equipe. “A empresa atende ao mercado de moldes de tamanho médio e média e alta complexidade”, delimita o diretor.

Além dos saltos na capacidade, Shen distingue como feitos marcantes no périplo desses 30 anos os pisos elevados para suinocultura, introduzidos em 1997, e o sistema modular PierPlas, lançado em 2008. “Consta de blocos de polietileno de alta densidade destinados a plataformas flutuantes tipo cais, atracadouros e substituindo madeira na construção de píeres”, esclarece o dirigente. Em 2008, por sinal, quando o banco norte-americano Lehman Brothers faliu sob a crise do subprime e desencadeou pandemônio financeiro global, Shen nota que, nos respingos sobre o Brasil, “a, já encerrada, parceria estratégica com matrizarias chinesas nos manteve vivos e continuamos atendendo a demanda por completo – da concepção do molde à injeção das peças encomendadas. Também estabelecemos parcerias locais, ao terceirizar toda a parte de serviços da ferramentaria”. À época, ele repassa, em determinados momentos a prioridade na NTC era dada às máquinas e moldes. “A seguir veio a ênfase em recursos humanos, até hoje em vigor e, por fim, ganhou vulto a busca de produtos próprios capazes de trazer estabilidade à produção”.

Além dos artefatos para ônibus, como batente de para-choque, apoio de cabeça, suporte de corrimão ou saída de ar, a selfie do mix de produtos próprios enfileira os módulos Pier Plas; pisos e vigas VitaSui para plasticultura; os climatizadores Bruma; as poltronas Urban para ônibus e embarcações; os estojos de armas Pulse e as caixas Geo, para alojar amostras de solo em processos de sondagem de petróleo. Para Shen, o impacto da retração vigente desde 2017 tem sido mais sentido em produtos vinculados aos bens duráveis, a exemplo dos itens para ônibus, enquanto os melhores resultados provêm dos itens para criação de porcos, à sombra do gigantismo do agronegócio. “Talvez porque os pisos sejam fundamentais para suinocultura, pois têm a ver com saúde animal, prestam-se à higienização e adequam-se à regulamentação”, pressupõe Shen.

No plano geral, ele sopesa, alguns processos de montagem e atividades como inspeção ainda dependem de operações manuais na NTC. “Damos um passo por vez rumo à automação”, ele explica. “Cada inovação tecnológica, em especial a robótica, requer uma adequação da cultura organizacional complexa de ser empreendida numa empresa longeva. Em paralelo, temos projetos em andamento de produção on line, totalmente integrada no computador nos próximos anos”. •

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