Nada será como antes

O tradicional modelo de negócio das petroquímicas já era
Paul Hodges

Enquanto a evolução do carro elétrico tem sido veloz, as atuais tecnologias de geração e abastecimento de energia para ele carecem de consistência e escala confiáveis, assim como as vias de suprimento de matérias-primas para elas ainda não são propriamente sustentáveis. O quadro faz paralelo com os desafios encarados pela petroquímica. Enquanto seu passado é memorável, ela resiste a embarcar nas novas oportunidades que encerram seu futuro. E a sociedade precisa que a petroquímica resolva o impasse num cenário em que carros autônomos e a impressão 3D estão a caminho de desfrutar a pleno seu potencial. Afinal, são avanços que requerem polímeros lastreados em cadeias de carbono.

Ao mesmo tempo, a petroquímica depara com a crescente preocupação pública com descartáveis de plásticos. A questão imediata é a necessidade de assegurar à sociedade que os artefatos plásticos utilizáveis apenas uma vez não são mais jogados fora, resultando regularmente em poluição marinha. O descarte incorreto tem potencial para impactar mais da metade da demanda mundial de polietileno (PE) e perto de 1/3 da de polipropileno (PP).

A situação, portanto, cobra da petroquímica rapidez na resolução de pontos críticos. Entre eles, a expansão dramática das opções de redução/reuso/reciclagem/regeneração para resinas de consumo de massa e a melhoria da performance dos sistemas de reciclagem, da tecnologia e logística da combustão de sucata polimérica e, por fim, o aprimoramento da qualidade no design de produtos transformados, tendo em vista sua reciclagem. Outro fator-chave é o aumento no uso de processos de pirólise para regenerar estoques de refugo de polímeros. Todos esses desafios imediatos criam oportunidades para empresas petroquímicas vencedoras emergirem das chamadas companhias não integradas upstream (sem acesso a óleo e gás) que mudarem seu foco da matéria-prima para o mercado. Sua futura rentabilidade virá mais das necessidades captadas abaixo da cadeia que do acesso à matéria-prima, tal como já o faz o setor de especialidades químicas no âmbito dos eletreletrônicos e artigos de higiene pessoal. Ou seja, um modelo de negócios calcado em produtos vendidos com base no que fazem, na sua capacidade de viabilizar inovações, e não na sua composição de materiais.

Desse modo, o dilema para aquelas petroquímicas sem elo upstream envolve o imperativo de criar materiais poliméricos antes mesmo de o consumidor final articular a necessidade deles. As indústrias detentoras de grandes marcas globais agora querem que suas embalagens sejam todas reusáveis, recicláveis ou compostáveis até por volta de 2025. Mas são incapazes de articular como essa exigência será atendida. No caso dos descartáveis, parece óbvio que poliolefinas recicladas crescerão à sombra da substituição de resina virgem em produtos acabados. E as petroquímicas não integradas têm condições de se tornarem líderes nessa área, desde que façam os necessários ajustes em seus modelos de negócios. Trata-se do primeiro dos muitos passos rumo a prováveis espaços em materiais para novas embalagens e aplicações, tal como sinaliza o que chamo de descarbonização, um terreno fértil para petroquímicas não integradas atuarem de braço dado com indústrias de especialidades químicas em áreas como materiais para baterias, de carona no crescimento de eletroportáteis e de fontes renováveis de eletricidade; materiais para eletrólise e células de combustível; soluções para alargar a disseminação de painéis de energia solar e, por fim, para economizar eletricidade no transporte e na construção civil.

É fato que petroquímicas não integradas encaram hoje uma ameaça existencial ao seu modelo de negócios, advinda da combinação da capacidade excedente e pressões ambientalistas, fatores globais que vão gerar guerra de preços em PE com danos colaterais sobre os demais polímeros. Mas os investidores e empresas também precisam olhar para além dessa ameaça e atentar para a cenoura à frente da carroça embutida na oportunidade de passar o foco do negócio da matéria-prima para o mercado.•

Paul Hodges é blogueiro do portal Icis e presidente da consultoria International eChem. Este artigo consta de sumarizado excerto do estudo “Volatilidade crescente sugere que as tendências econômicas estão mudando”.(www.thephreport.com).

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