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Dow prevê retorno da estabilidade este ano ao mercado mundial de PE
Dow: presença global com forte atuação local em PE.

Com dias de antecedência, boletins meteorológicos conseguem indicar as características de um furacão, como a intensidade do vendaval e o tamanho da tempestade. Mas a força do tornado só pode ser medida após sua passagem, pelos estragos causados pelo seu impacto. O mercado mundial de polietileno (PE), a resina mais consumida, tem estado no olho de um furacão desde o ingresso gradual em campo, iniciado há cerca de dois anos, do ciclo de expansões da capacidade da poliolefina na América do Norte, na garupa do gás natural, extraído do xisto (shale gas) e de reservas petrolíferas no Golfo dos EUA, a custos imbatíveis no planeta. A expectativa era de que o excedente norte-americano seria absorvido sem nervosismo no tempo previsto pelos investidores. Só que não. Trump se indispôs com a China, maior importador mundial de termoplásticos, deflagrou a guerra tarifária hoje em cena e elevou a categoria de risco do furacão à solta entre oferta e demanda de PE. Barrada na China, a super ofertada resina norte-americana tem buscado alternativas como economias ascendentes, a exemplo do Vietnã, Malásia e Indonésia, uma saída de curto prazo pois esses países acionam em breve novas plantas de PE. “A dependência da China é o maior estorvo para produtores da resina nos EUA”, atesta John Richardson, blogueiro do portal Icis. Além disso, nota, os chineses vão se lembrar de quem colabora com sua economia. “Se você opera uma planta de PE em país mal visto pela China, está em situação complicada”. Nº1 mundial em PE, a Dow escapa dessa sina, à sombra de fábricas na ativa em três continentes. Na entrevista a seguir, Diego Donoso presidente global da área de plásticos da corporação norte-americana, enxerga o cenário conturbado, mas não alarmante, e confia no restabelecimento a curto prazo de uma digestão mais linear e com menos sobressaltos da atual superoferta internacional de PE.

Donoso: cenário propício ao reposicionamento da oferta e demanda.

Como as exportações norte-americanas de PE podem contrabalançar o fechamento do mercado chinês, devido ao aumento das barreiras tarifárias provocadas pela guerra comercial EUA x China? Como compensar essa perda com a Europa e América Latina estagnadas e o sudeste asiático com demanda bem menos intensa e volumosa que a chinesa?
A nova produção americana de PE entrou no mercado a partir da metade de 2018, com distribuição para todo o mundo. No entanto, as empresas passaram a redistribuir as quantidades para evitar impactos tarifários impostos pela China, que comprometeriam suas margens a partir de setembro último. A Dow tem fornecimento mundial da resina a partir de bases como as do Estados Unidos, Canadá, Ásia, Europa e, na esfera da América Latina, na Argentina. Ou seja, uma presença global com forte atuação local. Isso nos permite um remanejamento para distribuição das quantidades produzidas, fator que trouxe equilíbrio à companhia ao longo do segundo semestre de 2018. Outros players norte-americanos de PE preferiram realocar a distribuição para mercados como sudeste asiático, Europa e América Latina, fator que desencadeou um desequilíbrio temporário entre oferta e demanda.

Quais as perspectivas para este ano?
Prevemos uma retomada do equilíbrio do mercado em 2019, com previsão de 4 a 4,5 milhões de toneladas em nova demanda mundial de PE, quantidade semelhante à de 2018, trazendo paridade à relação entre oferta e demanda. O impacto que várias regiões sentiram com o excesso de oferta da resina ocorreu porque alguns atores da cadeia foram pegos de surpresa. Esses atores, que não são globais nem têm presença local, usaram traders que tomaram posições oportunistas de curto prazo. Nossa avaliação é de que o cenário dos próximos meses não será de abundância – e sim de reequilíbrio, com novos destinos sendo colocados e um crescimento da demanda acima da oferta de PE.
Ao se olhar para a China, nota-se que diversos setores estão arrefecendo, como a indústria automobilística, mas há crescimento robusto e sustentável nos mercados em que PE é utilizado. Portanto, precisamos focar no contexto global, que indica para 2019 retorno da estabilidade e rearranjo da cadeia com menos novas capacidades lançadas em comparação com o ano passado. Qualquer ineficiência que o mercado criou para atender essa situação vai se reequilibrar.

Pela sua estimativa, qual deve ser a parcela da produção norte-americana de PE destinada a exportações este ano? Qual foi esta parcela em 2018 e como reparte estas exportações norte-americanas de PE entre os principais destinos? Quais as eventuais mudanças previstas no âmbito desses destinos em 2019? Explicar.
O pico de exportação norte-americana de PE em 2018 foi de 27 a 30% da produção total e 2019 deve manter o mesmo patamar. Afinal, todas as capacidades já estão instaladas. Além disso, há muitas paradas de fábrica (turn arounds) programadas ao longo deste ano. Esse volume de exportação não é novidade para os Estados Unidos, pioneiro mundial em vendas externas de PE, antes mesmo de países como a Arábia Saudita. Os principais destinos são o sudeste asiático, Europa, América Latina e China – este último, através do Canadá, que não sofre restrições dos chineses para negociar seus embarques. Além disso, vemos um crescimento significativo da demanda na África, cada vez mais consolidada como novo destino para PE. No plano geral, o mercado está se distribuindo de forma a encontrar eficiências entre preço e volume, pois PE é produto facilmente exportável.

Em quanto tempo acha que o balanço entre oferta e demanda mundial de PE pode chegar a um nível de equilíbrio considerado satisfatório?
Ao longo de 2019. Quanto mais rápido Estados Unidos e China liberarem a oferta, mais rápido veremos o reequilíbrio do mercado. Hoje em dia, a China consome perto de 30 milhões de toneladas de PE, tem um déficit de oferta de 30% ao ano e cresce 2 a 3 milhõess de toneladas ao ano. A China vai continuar a atrair fornecedores para saciar sua demanda.
Além da própria Dow, a consultoria Polyolefins Consulting cita petroquímicas como Nova, Bayport, ExxonMobil, Shell como possuidoras de plantas de PE que devem entrar em operação nos EUA e Canadá até 2022. Como avalia, no plano geral, a possibilidade de a desova desafiadora do atual excedente norte-americano de PE postergar a partida dessas novas capacidades?
Elas são necessárias. No âmbito de um contexto mundial, todos os anos devem ser produzidas mais 4 a 5 milhões de toneladas de PE para atender às novas demandas que surgem a cada exercício. Os atrasos na partida estão mais ligados a efeitos da ineficiência durante o processo de construção das novas capacidades do que a ajustes na demanda de mercado.

No século passado, indústrias petrolíferas consideravam termoplásticos um complemento do negócio de óleo e gás, razão pela qual investiam na petroquímica. Na atualidade, petrolíferas há muito tempo fora de PE voltaram à produção da resina atraídas pelos custos do eteno pela rota do shale gas. No plano geral, hoje faz sentido para o core value de uma petrolífera verticalizar-se na produção de PE?
Hoje em dia, os players querem criar valor com o downstream. vendo os riscos de redução na demanda de combustível, os players no upstream estão se voltando ao downstream para maximizar o valor da nafta e seus derivados.

PEBD recebeu bem menos investimentos que PEAD e PEBDL no último ciclo de expansão da capacidade norte-americana de PEs. Também são inexpressivos os investimentos em PEBD nos EUA até 2022. Diante desse cenário, a oferta norte-americana dessa poliolefina está tão acima da demanda interna como se nota em PEBDL e PEAD?
PEBD possui uma sintonia com a penetração do PEBDL no mercado, dada sua facilidade de processamento, já que pode ser utilizado como auxiliar de fluxo ou parte estrutural na aplicação. Mas o grande crescimento é sempre impulsionado por PEBDL.

Diante do viés de baixa nos preços de PE virgem, como fica o atrativo do negócio da resina reciclada? Afinal, com o preço da resina virgem bem próximo do preço de PE recuperado, qual a motivação econômica para se reciclar o polímero? No Brasil, por exemplo, o preço interno de PE virgem caiu cerca de 18% de novembro a fevereiro.
Independentemente da tendência dos preços do PE virgem, as resinas recicladas já são uma peça crucial do futuro da indústria. Presenciamos compromissos de brand owners em escala global no sentido de incorporar resinas recicladas em suas soluções de embalagem e, em nossa visão, essa é uma nova demanda que veio para ficar. O consumidor está mudando seu comportamento e demanda itens recicláveis nos bens que consome. É uma jornada a ser construída, na qual o reciclado terá um valor mais estável e atraente devido ao desejo do consumidor por ter porcentagens maiores de material recuperado em suas embalagens.

2019 abre com a economia norte-americana aquecida, guerra comercial USA x China, Europa estagnada e China diminuindo o pique do seu crescimento econômico. Diante disso, qual a sua projeção para o mercado global de PE este ano versus 2018?
Nós seguimos vendo uma sólida demanda global de PE, construindo sobre a urbanização sustentável no mundo em desenvolvimento, com as vantagens da aceleração do crescimento nas economias desenvolvidas. O ano de 2019 será estável e propício ao reposicionamento da oferta e demanda. Para se ter uma ideia, a produção inteira de PE nos EUA, de acordo com a consultoria IHS Markit, será de 22 milhões de toneladas este ano, das quais 15 milhões destinadas ao mercado interno e 7 milhões para exportações. Em 2016, esse número era de 18 milhões de toneladas, sendo 14 milhões para o consumo doméstico e 4 milhões para vendas externas.

Quais as condições para decidir investimentos que os produtores de PE, com base na experiência acumulada no último ciclo de expansão nos EUA, devem considerar com mais cuidado para evitar dissabores na próxima rodada de aumentos da capacidade? Afinal, o último ciclo tomou corpo com base na crença generalizada de que, por exemplo, o crescimento da China prosseguiria em intensidade imutável e o barril de petróleo se manteria em U$100. Nada disso aconteceu.
Ao longo do último ciclo, o desafio esteve na previsão de conseguir entregar os projetos em um prazo que não aconteceu, por problemas na execução ou budget (orçamento). Ou seja, o custo da matéria-prima é importante, mas tão importante quanto o custo total do projeto para garantir retorno. Na Dow, já tínhamos vários exemplos de que estávamos construindo em mercados antes de outras companhias. A disputa tarifária entre Estados Unidos e China nos fez readequar o destino do volume no mercado global de PE, o que torna ainda mais importante nossa presença e força regional. Construimos relações sólidas com os clientes, garantindo assim a continuidade do trabalho e das entregas a longo prazo, enquanto as relações oportunas e pontuais, visando apenas o curto prazo, não serão mantidas.

Como a busca do desenvolvimento sustentável se encaixa neste cenário?
2019 será marcado como o ano para a cadeia se dedicar a resolver os desafios do lixo plástico nos oceanos. Na Dow já empreendemos diversas iniciativas nessa direção. Por exemplo, criamos uma campanha interna #PullingOurWeightChallenge, que incentiva 5.000 funcionários em 50 localidades a trabalharem com ONGs para ajudar a limpar os mares. Somos membros da Aliança para Eliminar Resíduos Plásticos (Alliance to End Plastic Waste – AEPW), organização recém-formada que alia empresas, governos, ONGs e consumidores e conta com investimentos da ordem de mais de US$ 1 bilhão, com potencial de alcançar US$ 1,5 bilhão nos próximos cinco anos. Seu objetivo é desenvolver e fomentar soluções para o gerenciamento de resíduos plásticos e melhor uso pós-consumo do material. •

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