Já ouviu falar no cliente concorrente?

A impressão 3D acende um alerta para o negócio de transformados básicos como UDs

“Você não vai acreditar no quer pode produzir em 3D para o lar”. Esse título comprido é a isca de chamariz de artigo postado no site norte americano Brit + Co (www.britco/3d-printed-housewares) no qual é dado um rolê sobre o manancial de ideias ilustrativas do poderio da impressão 3D para causar em traquitanas caseiras menores (por ora), de matrizaria simples e complexa. Entre as sacadas de designers em utilidades domésticas (UDS) de plástico, o leitor é apresentado a mini luminárias, porta escovas de dentes e até a talheres de resina biodegradável. Nada é para já, mas convém a quem produz artefatos como UDS por as barbas de molho, pois esse míssil já foi disparado, pondera na entrevista a seguir Paulo Bertussi, diretor geral da gaúcha Bertussi Design, turbo nacional na concepção de produtos e em gestão de inovação para manufatura em alta escala, a exemplo de premiadas criações em UDs injetadas pela cliente Martiplast.

Bertussi: a indústria
não pode se deixar surpreender.

PR – Como avalia os efeitos da impressão 3D sobre o futuro do mercado de UDs de plástico?
Bertussi – Uma das formas mais eficientes para vermos nossas opiniões ridicularizadas é tentar prever ou mesmo diagnosticar os efeitos dos avanços tecnológicos no nosso futuro, próximo ou não! A impressão 3D já é uma realidade. Na internet, diversos sites vendem impressoras 3D de diversas complexidades e finalidades, a preços a partir de R$ 360,00. Ou seja, é uma realidade que alguns anos atrás sequer cogitávamos. Com a visão global dos mercados, culturas de consumo, suas peculiaridades e dimensões é possível afirmar que o mercado menos sofisticado de UDs de plástico não sofrerá a médio prazo (10 anos) qualquer interferência causada por este modo individual de produzir, a impressão 3D. Há uma convergência enorme de fatores que nos permitem esta afirmação. É de todos sabido o quanto as UDs em plásticos têm preço acessível, qualidade técnica, estética e funcional. Atributos estes conseguidos com investimento pesado em tecnologia, matrizes e projetos com design primoroso. O que nos leva a concluir que este tipo de construção de produtos com impressoras 3Ds poderá e deverá influir em outras áreas, de maior complexidade, mas não para produzir o “meu prato ou o meu copo”.

PR – Os transformadores de UD estariam, portanto, a salvo da possibilidade de concorrer com artigos produzidos em casa?
Bertussi – Todos nós sabemos que as indústrias vencedoras nunca deixam baixar a guarda, mantendo seu olho aberto para todos os movimentos que ocorrem globalmente no seu campo de ação. Estas movimentações nas esferas 3D e 4D na área de automação já estão há algum tempo no cardápio do café da manhã de todos os gestores dessas empresas e poderão, sim, vir a influenciar em seus processos produtivos e mercadológicos, especialmente em mercados mais exigentes do ponto de vista técnico, estético e funcional.

PR – Desse ponto de vista, quais os caminhos para a indústria de UDS de plástico continuar a se diferenciar e afastar de uma possível disputa com seus clientes usuários da impressão 3D?
Bertussi – Uma reflexão que sempre cabe em nossa área de atuação – gestão da inovação com design- é entender que não podemos ser surpreendidos pelo novo. Temos obrigação profissional de oferecer o “último” novo. Claro, sabendo-se que o que apresentamos não é o “último” novo, talvez o penúltimo, pois o último decerto está sendo gerado neste instante. O momento, portanto, é de alerta máximo! Também não podemos ser surpreendidos pelo grau de busca infinita da comodidade que rege o dia a dia do ser humano. Há pouco mais de um século, andávamos de carreta puxada a cavalos. A roda da carreta era de construída em madeira com aro de ferro batido que aumentava sua durabilidade e rigidez. As estradas eram picadas esburacadas cheias de valos abertos pelas chuvas. Pneus macios, amortecedores nem pensar! Hoje, se pudermos, com os carros de última geração, evitamos as ruas calçadas com paralelepípedos e procuramos as vias asfaltadas para nos locomover. Portanto, não deve estar longe o dia em que o prato, de plástico ou não, mudará de cor com a temperatura ou terá um sensor para mostrar o grau de aquecimento da comida, ou então, que a garrafa de vinho já mostre a temperatura ideal do precioso líquido. Enquanto isso não acontece, as tradicionais indústrias injetoras de plástico continuarão a fabricar milhões de pratos e copos comuns, com ou sem design, necessários para abastecer um planeta onde grande parte da população ainda come com as mãos. Ou seja, temos muito prato pela frente! •

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