Ideia contagiante

Infecção em ambulâncias pode ser evitada com plástico aditivado com agente antimicrobiano

“Nunca fomos pautados para tratar desse tema”, admitiu a Plásticos em Revista a assessoria de comunicação da Federação Brasileira de Hospitais (FBH). O assunto do qual a entidade se esquivou embute não só um atalho para o plástico agregar valor em sua aplicação, mas uma chance de polir sua espezinhada imagem com uma contribuição de mão cheia para a maltratada saúde pública do Brasil: a adição de agente antimicrobiano nos componentes de plástico que, desde as macas às paredes, piso e forro, reinam absolutos no interior das ambulâncias, reduto que constitui uma extensão do ambiente hospitalar e também exposto aos níveis emergenciais de contaminação bacteriana no país.

Apesar desses índices vexatórios de infecção microbial, até hoje os órgãos de saúde pública não atentaram para as condições de contaminação dentro de ambulâncias, constata Liliana Rubio, gerente sênior de desenvolvimento de negócios na América Latina para aditivos de polímeros da suíça Sanitized, turbo global em tratamentos antibacterianos. “O desinteresse tem muito a ver com a ausência de regulamentos e de intensa comunicação para incentivar práticas preventivas concretas na cadeia de fornecimento de materiais e de desenho na estrutura das ambulâncias”, atribui a executiva. “Seria relevante confrontar a quantificação dos altos impactos de infecções com o predomínio de um modelo que promove a produção desses veículos em massa e a baixo custo sem padrões determináveis de proteção e higiene em nível maior”. Liliana lembra ainda que os fabricantes de ambulâncias não recebem do mercado a exigência de incorporação de tratamento antibacteriano nem identificam valor de marketing na exibição de um selo comprobatório de aplicação de biocida no interior do veículo, restringindo seu foco primordial na redução de custos. “Em decorrência, a cadeia produtiva do plástico não provê de forma regular e padronizada o uso de componentes como agentes antimicrobianos e assim não se gera uma dinâmica de ações proativas dirigidas à saúde pública”, ela lamenta, escorada na penetração internacional das soluções da Sanitized em itens médico-hospitalares como nãotecidos, próteses e filtros.

No tocante ao plástico no interior da ambulância, Liliana destaca laminados flexíveis de PVC nos pisos, estofados das macas e até nos sapatos dos enfermeiros. Os exemplos prosseguem com a presença de copolímeros de acrílonitrila butadieno estireno (ABS) e polipropileno (PP) na estrutura de armários, móveis, caixas e na carcaça interna. “O crescimento de bactérias e fungos é permanente e aumenta num entorno com maior umidade relativa do ar, temperatura e pressão; ou seja, sempre estamos expostos à contaminação”, ela argumenta. “ Em mercados emergentes, como o Brasil, esse risco aumenta devido ao microclima tropical propício à proliferação microbial”. Nesse contexto, ela transpõe, os biocidas mostram serviço garantindo higiene e proteção ao longo da vida útil do artefato de plástico integrante desse pronto socorro em movimento chamado ambulância.
“Acredito que o Brasil começa a se preocupar com a infecção bacteriana no interior dos hospitais para estender depois este cuidado às ambulâncias”, julga Fernando Brandão, químico da Cipatex, nº1 nacional em laminados sintéticos. Ele reconhece que estudos de normatização a respeito ainda estão de chupeta no berçário, mas, por obra do amadurecimento do mercado, devem surgir em breve sinais de conscientização do setor médico hospitalar sobre a necessidade do uso de ferramentas tecnológicas para tornar o ambiente mais asséptico e seguro. “Temos realizado, através de clientes, incursões em alguns hospitais de alto padrão para difundir a proteção conferida por laminados acrescidos de agentes antimicrobianos”. A receptividade à ideia é boa, ele nota, mas o uso em ambulância ainda requer maturação do setor e, face ao custo/benefício, as perspectivas animam a Cipatex.

“Estabelecimentos de Goiás e Santa Catarina”, ilustra o técnico, “têm mostrado mais interesse por materiais auxiliares capazes de prevenir a contaminação por fungos e bactérias nos nossos revestimentos”. Entre os passos da Cipatex nessa direção, Brandão distingue a linha de revestimentos Facto®Med vitaminada com aditivo biocida e acenada para leitos, travesseiros e mobiliário estofado para a área da saúde. “O aditivo controla odores, inibe a formação de biofilmes e facilita tarefas de higienização”, ele sumariza.No embalo, ele vislumbra espaço no meio hospitalar para a proteção e facilidade de limpeza de outra linha de revestimentos munida de tratamento antimicrobial, Facto®Náutico. “Por ser de material bastante resistente, se adequa ao ambiente da ambulância, mais agressivo no plano mecânico”, justifica Brandão. Pela sua estimativa, a aplicação de um agente antibacteriano incide ao redor de 15% sobre o custo em média de material em laminados da Cipatex.
Formadora de opinião em veículos especiais, a Greencar já emprega laminado de ABS com agente biocida em diversos modelos do seu mostruário de ambulâncias. “O custo desse revestimento é cerca de 25% mais caro que o tradicional kit de plástico reforçado com fibra de vidro (termofixo), mas proporciona algumas facilidades na montagem que otimizam a produtividade”, avalia Lauro Antonio Porto de Oliveira, proprietário dessa empresa há 25 anos na ativa e com matriz em São Paulo e filial mineira.

Oliveira não concorda com a existência de desinteresse dós órgãos de saúde pública quanto ao risco de infecção no interior das ambulâncias e justifica sua visão com as normas especificadoras dos materiais empregados na construção do veículo. “Quando ele é liberado, orientamos o cliente sobre a utilização, limpeza e conservação dos materiais integrantes da construção da ambulância”, ele assinala.

Em regra, fabricantes de ambulâncias não se animam a oferecer, nem como diferencial de marketing, veículos com as dependências protegidas contra contaminações. Para o empresário da Greencar, esse descaso acontece “porque, muitas vezes, falta divulgação sobre os produtos (agentes biocidas) e do modo como podem ser agregados no processo”, opina. A propósito, Oliveira apóia a constituição de regulamentação para tratamento antimicrobiano das dependências internas de ambulâncias.

Saulo Sousa, gerente administrativo e de vendas da paranaense Eurolaf, outro ás nacional em veículos especiais, martela a tecla dos custos para explicar o banho-maria no combate ao risco de contaminação microbial no transporte de pacientes por ambulâncias. “Infelizmente, os órgãos responsáveis sobre o assunto não têm orçamento suficiente para atender com qualidade e atenção a estes detalhes extremamente importantes”, lastima o executivo dessa montadora há mais de 10 anos na estrada e em condições de transformar 1.200 veículos ao mês. “É conhecida a necessidade de exigências maiores quanto à segurança dos operadores e pacientes das ambulâncias, mas tudo esbarra no preço”. Conforme acentua o gerente, muitas vantagens e diferenciais incorporados pela Eurolaf em veículos para setores que não o hospitalar, melhorias não exigidas por regulamentação, “não são em regra vistos como atraentes pelos clientes, principalmente por significar custo maior”, coloca Sousa. “A situação é tão critica que, mesmo exigências regulamentadas não são, em vários casos, requeridas por alguns clientes, pois não há a devida fiscalização do seu cumprimento pelo governo”.

Varredura da Organização Mundial de Saúde (OMS) liberada em 2017 não faz ´por menos: infecções hospitalares atingem cerca de 14% dos pacientes internados no Brasil e são a causa de mais de 100 mil mortes anuais no país. Para bom entendedor, a saúde pública aguarda uma ambulância urgente sem saber se virá. •

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