Foco na vocação

Dedicação às peças técnicas injeta há 35 anos a expansão da Sulbras

Até a metade do século passado, a região da serra gaúcha era lembrada apenas pela vinicultura e metalurgia. Mas já à entrada da década de 1950, a moldagem de plástico, em particular a injeção de itens para o polo metal mecânico, irrompia ali com tamanho ímpeto que, hoje em dia, o número de transformadores no nordeste riograndense só perde para o de São Paulo. Um dos turbopropulsores dessa arrancada, a Sulbras chega aos 35 anos não só nas vestes de suprasumo em injetados de alta complexidade, mas como uma aula de foco e descentralização geográfica da produção, hoje alojada em três regiões. “As razões para a empresa ir além dos limites do Rio Grande do Sul são o empreendedorismo dos acionistas e o atendimento aos clientes”, sumariza o sócio e diretor geral Leocádio Antônio Nonemacher. Falam por si as unidades erguidas no intervalo de apenas quatro anos em Santa Catarina, para suprir indústrias do calibre da Embraco, e em Pernambuco, para fornecer componentes automotivos ao complexo da Jeep Fiat Chrysler no município de Goiana.

O estado da arte no atendimento

“A Sulbras fornece peças injetadas de engenharia para a fabricação de nossos compressores”, explica Ramon Hey, gerente de categoria da Embraco, nº1 brasileiro neste equipamento industrial. “Entre os itens que ela nos supre figuram a câmara de sucção, responsável pela atenuação acústica, filtro de partículas e redução de troca térmica; o batente, para isolamento e sustentação das molas de suspensão, e a caixa elétrica que garante a segurança do compressor, protegendo-o de sobrecargas”. Para atestar a excelência do fornecimento , prossegue o executivo, a Embraco audita anualmente as entregas através de bateria de testes como os dimensionais, estruturais e de impacto e ruído. “A Sulbras está sempre alinhada às boas práticas da Embraco e pronta para atender nossas demandas de certificações”.
“Ela é um dos nossos melhores fornecedores”, reitera Hey, assinalando que a Sulbras investe com força na automação dos processos e o principal resultado é a entrega de peças com mais qualidade. “Um dos grandes diferenciais da empresa é sua unidade aqui em Joinville, exclusiva para nos atender”, nota Hey. “Há uma equipe da Sulbras dedicada ao nosso negócio, especializada em nossas peças, o que proporciona excelente nível de atendimento e agilidade nas entregas”.

Fundada em 1984 em Caxias do Sul, a Sulbras foi constituída por empresários atuantes em setores aparentados da cadeia do plástico, caso de ferramentarias e a manufatura de utilidades domésticas, outra indústria final de peso na serra gaúcha. “A empresa já estreou fornecendo peças de alto requisito técnico, como aquelas destinadas à micro-informática, hoje chamada de Tecnologia da Informação (TI), então embrionária no país”, rememora Nonemacher. Nesses 35 anos, por sinal, a Sulbras preferiu passar ao largo das oportunidades de ajudar a ocupar seu parque industrial injetando artefatos convencionais e de cunho básico. “Isso se deve à vocação técnica dos controladores e, assim, seus métodos e qualidades aproximaram nossas peças de setores como automotivo, TI e eletroeletrônicos como a linha branca”.

De 1984 em diante, o quadro societário passou por alterações, mas a selfie atual revela que os principais fundadores ou herdeiros permanecem na administração. Além de Nonemacher, são acionistas José Alceu Lorandi e três descendentes do falecido sócio Eloy Dannenhauer – Lali Colombo Dannenhauer, Rafael Dannenhauer e Liciane Dannenhauer.

Bastaram seis anos de ativa para a área ocupada pela matriz em Caxias do Sul triplicar para 1.200 m² e 10 anos depois, em 2000, atingia 2.000 m². Em paralelo, em 1997 partia a filial em Sapucaia do Sul, na Grande Porto Alegre e, a partir daí, pipocaram as bases fora do Estado: a filial em Salto (SP), em 2007; em Joinville, em 2011 e, por fim, quatro anos depois, em Cabo de Santo Agostinho, na Grande Recife. “Desde a planta em São Paulo, trabalhamos com a possibilidade de montar fábricas em mercados dos quais temos nos aproximado”, esclarece Nonemacher. A Sulbras, aliás, sempre preferiu focar em unidades da estaca zero em lugar de adquirir concorrentes em funcionamento. “Em média, o capital aplicado numa fábrica nova retorna em 10 anos”, situa o diretor geral.

Uma extensão do cliente

Ao longo dos últimos anos, a excelência do suprimento da Sulbras pode ser medida pela sua inclusão entre os fornecedores contemplados em 2018 com o prêmio ‘Magneto de Ouro’ pela Bosch da América Latina. “A Sulbras possui histórico de alta pontualidade nas entregas e melhoras anuais nos indicadores de qualidade”, reconhece Rafael Barreto, gerente de compras da área automotiva da Bosch. “Ela procura evoluir constantemente em processos de manufatura e tecnologias de ponta”.
Entre os principais componentes despachados da Sulbras para a Bosch, Barreto indica peças de motores elétricos e componentes de sistemas de injeção de combustível e de refrigeração e arrefecimento. “A qualidade desse fornecimento é, conforme praxe extensiva a todos os supridores, aferida em auditorias regulares de processo e avaliação de boas práticas em relação aos princípios Bosch de qualidade e segurança”.

No ano passado, abre Nonemacher, o faturamento líquido da Sulbras pairou em R$ 120 milhões e o setor automotivo respondeu por cerca de 65% dessa receita. Ela foi alcançada num período em que, no plano geral das cinco fábricas, a empresa rodou com ociosidade próxima de 30% em sua capacidade de injeção, dimensionada pelo porta-voz em 10.000 t/a. No momento, a Sulbras opera com 79 injetoras com forças de fechamento entre 50 e 1.300 toneladas, sendo cerca de 65% delas hidráulicas e o restante partilhado entre modelos elétricos e híbridos. Na sede em Caxias do Sul, distingue Nonemacher, a empresa mantém matrizaria apta a construir moldes de até sete toneladas para uso cativo e encomendas de terceiros. Como referência da capacitação atingida em 35 anos de estrada, Nonemacher aponta troféus na parede como a produção de peças rotativas, sujeitas a requisitos extremos de desempenho, além de componentes à base de compostos de fibra de vidro longa e a injeção, realizada em moldes complexos, de materiais sobre insertos metálicos estampados.

Em média, estima Nonemacher, a Sulbras reserva 5% do faturamento à compra de equipamentos. “Do final de 2018 ao início de 2019”, exemplifica o dirigente, “recebemos cinco injetoras e planejamos a compra de mais cinco até dezembro próximo, investimento aliado a periféricos e utilidades como centrais de refrigeração”. No embalo, ele encaixa no plano para 2019 o aporte de recursos no front da automação e digitalização como robôs de cinco eixos, sistemas de inspeção, de gestão de postos de trabalho, de produtividade (Andon) e monitoramento on line ciclo a ciclo.

Fornecedor classe A

“A maioria do suprimento recebido da Sulbras pela Marcopolo consta de peças utilizadas em poltronas plásticas injetadas de ônibus urbanos”, informa Nilo Borges, diretor de aquisição e logística da montadora gaúcha dedicada ao transporte coletivo. O desempenho da Sulbras é aferido por critérios de avaliação da cadeia de fornecedores, integrantes do Índice Geral de Fornecimento (IGDF) da Marcopolo. “Ele contempla quesitos como a qualidade dos produtos, pontualidade nas entregas (on time delivery) e aspectos comerciais”, ilustra o executivo. “Com base numa escala de A a C, a Sulbras está classificada como fornecedor classe A”.

Nonemacher confia que a Sulbras desfrute este ano 80% de ocupação de sua capacidade. “O acréscimo de 10% deverá provir da conquista de novos projetos e da expectativa de crescimento da economia”, ele justifica. No pano de fundo, prossegue o esquadrinhamento de locais para novas filiais. Entre os mercados sobre os quais a Sulbras anda debruçada estão a Zona Franca, Minas Gerais, Espírito Santo e o Rio de Janeiro, revela o diretor geral. “Somos um país continental com uma população ainda muito carente de bens de consumo”, ele pondra. “Por diversas razões, infelizmente, falta competitividade à indústria manufatureira, mas na medida em que o fechamento desta lacuna venha a acelerar, decerto a Sulbras terá novas plantas a anunciar nos próximos anos”. •

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