Fim do faz de conta

Moura: embalagens de maior valor agregado mais afetados pela crise.

Para atravessar a zona de turbulência atual e acertar o passo com os novos tempos, a indústria de embalagens flexíveis precisa, no plano geral, aprender a fazer contas. “Em regra, o setor trabalha espremido entre o custo da matéria-prima e o preço de mercado, alheio ao peso dos fatores contidos no meio desses dois polos, a exemplo da viabilidade do frete de ida e volta, e a precisão nos cálculos relativos a essa zona cinzenta intermediária converge para mais realismo na delimitação do preço final e consequente melhora dos resultados”, sumariza Herman Brian Moura, diretor da transformadora Lord, eleito para presidir a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (Abief) de 2015 a 2017.
Qualquer sombra de obviedade no domínio da aritmética preconizado por Moura cai por terra na conjuntura atual das embalagens flexíveis. Universo situado pelo dirigente em algo acima de 800 indústrias de cunho relevante, ele tem passado por depuração forçada em geral pelo tripé da demanda a desejar, noções equivocadas de preços e piora da concorrência em clima de recessão e sem volta por cima à vista. “Várias empresas de nome já saíram de cena e a crise aguçada este ano deve dar continuidade a esse rearranjo no setor”, ele sustenta. O reduto das embalagens de maior valor agregado, julga Moura, deve sofrer mais baixas de integrantes que o de flexíveis convencionais. “Embalagens mais sofisticadas implicam maior número de componentes dos custos, a exemplo de impressão ou requintes de acabamento, dificultando o controle na ponta do lápis dos gastos e onerando a produção”, argumenta o presidente da Abief. “Já uma embalagem tradicional, como stretch, tem custo mais fácil de se monitorar, pois é definido por poucos fatores básicos, como gastos de mão de obra, matéria-prima e frete”. Por essas e outras, o dirigente já lista entre as marcas perseguidas para o seu mandato a oferta a filiados da Abief de conhecimentos a respeito de controles de custos e demonstrações de resultados.
Será uma lufada de informação bem-vinda para um setor egresso de um crescimento micrônico de 2% em sua produção (1.857 milhão de toneladas no ano passado) no governo Dilma I, de 2010 a 2014. “O quadro alia a a economia brasileira no acostamento desde a crise financeira mundial, a estagnação notada nos últimos anos em mercados como alimentos e a retração no exercício passado, quando nosso setor rodou em média sua capacidade cerca de 15% abaixo do nível aceitável de ocupação”. Em 2014, por sinal, o consumo aparente de embalagens flexíveis recuou 0,9% versus 2013, perfazendo 1.923 milhão de toneladas, das quais apenas 126.000 importadas. Moura admite que o volume desembarcado é ínfimo perante a magnitude da demanda e, em tese, não justificaria a habitual grita dos transformadores nacionais contra as embalagens trazidas do exterior. “Mas num cenário retraído e superconcorrido, mesmo uma parcela diminuta do produto internacional causa nervosismo e reclamações da cadeia do plástico local,  sempre receosa também de as importações de resinas serem seguidas pelas de transformados ”, avalia o presidente da Abief.
Recessão e desvalorização do real, acredita Moura, devem reduzir esses desembarques no período atual, em decorrência de dificuldades para cumprir o lead time, capital caro e a inviável estocagem das cargas internadas por prazos de 60 a 90 dias. Em contraponto, comenta, o dólar pulou de R$ 2,20 para R$ 3,20 de janeiro para fevereiro e o setor doméstico de embalagens flexíveis, uma vez  amoldado a essa nova realidade cambial, sem recuo previsto a curto prazo, reúne condições de sair da pequenez  de costume em suas exportações. “Com um aumento da ordem de 50% do dólar repicando na margem de contribuição em reais, o setor ganha chances de atenuar a retração interna através do comércio exterior, mesmo sob o peso dos salários subindo acima da inflação e custos a mais de energia e combustível”, argumenta o dirigente.
À sombra da crise e de cotações internacionais de poliolefinas atreladas ao barril de petróleo abaixo de US$50, grandes transformadores desses polímeros no Brasil, indústrias de flexíveis à frente, voltaram à antiga prática de importar tais resinas, inclusive para revenda, constata Laércio Gonçalves, presidente da Associação dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast). Do seu observatório na Abief, Moura contesta a percepção do varejista. “A venda do produto acabado é o que nosso negócio tem de melhor e não vejo grandes empresas de flexíveis atuantes na comercialização de matérias-primas”, ele rechaça. “Nos últimos 10 anos, a busca de definição de preços de resinas definida por mais de um fornecedor tem levado transformadores a se suprirem também de importações para uso cativo e daí o surto de revendas autônomas de material de fora”.
A crise hídrica no Sudeste e, em âmbito nacional, o aumento dos custos de energia e a ameaça de apagões eriçam os nervos do setor de flexíveis, deixa claro Moura. “A estiagem instituiu mais uma despesa regular para os transformadores no Sudeste: a compra de água potável”. Na esfera industrial, ele assinala, o uso de água não só não é significativo como líquido em geral é reaproveitado na operação,via recursos como torres de resfriamento e chillers. Desse modo,amarra, não tem cabimento a hipótese de, por força da falta de água, indústrias se sacrificarem transferindo ativos para locais a salvo dessa calamidade. Mas a questão da energia elétrica são outros quinhentos. “Quem depende de energia comprada no mercado cativo tem de arcar com repasse obrigatório de uma parcela do aumento de dois dígitos imposto no custo desse insumo, tal como o fará qualquer transformador diante do próximo reajuste no preço da resina – não há escapatória para salvar o negócio”, constata Moura. Num cálculo por alto, ele projeta que uma indústria de filmes básicos como stretch consuma de 500 a 600 w/kg. “Isso incide em torno de 2,5% a 3% dos custos totais de produção, um gasto pesado demais para absorção”. Na mesma trilha, Moura percebe que, sob temor de apagões, seu setor tem intensificado as encomendas de geradores, segmento cuja carteira de pedidos anda estufada e cujos prazos de entrega, por tabela, dilataram a olhos vistos.
Burilado a pedido da Abief, varredura da consultoria MaxiQuim  revela declínio da participação das embalagens flexíveis nos mercados internos de todos os polietilenos no governo Dilma 1.0, entre 2010 e 2014. Para Moura, a descida da ladeira compõe um sensor informal de uma economia em calmaria e, nas entrelinhas, toma vulto o enfraquecimento do poder aquisitivo respingando sobre produtos primários, o quintal por excelência de PE. No ano passado, por sinal,a produção de embalagens flexíveis à base do polímero de alta densidade desabou ao menor nível desde 2006, indicou a MaxiQuim. “ Não só as vendas dos supermercados caíram como o uso de sacolinhas diminuiu por isso e pelas ações de sustentabilidade”, interpreta o presidente da Abief. Em contrapartida, o levantamento captou parcela ascendente das embalagens flexíveis no mercado de PP nos últimos quatro anos. “Descontadas as peculiaridades de cada resina”, considera Moura, esse crescimento em PP pode ser atribuído ao aumento da procura por melhores atributos visuais em embalagens, a exemplo de brilho, transparência e qualidade de impressão em filmes de PP”.
Na bola de cristal da MaxiQuim endossada pela Abief, esse setor deve microevoluir em 0,6%  este ano, ressentindo-se de crescimento negativo nos mercados do agronegócio e industrial. “Eles estão interligados”, pondera Moura, exemplificando com a sacaria de fertilizantes. “À parte a proliferação de aplicações de flexíveis na plasticultura, o fato é que o agronegócio com a indústria a tiracolo têm sido afligidos pela estiagem agravada pela economia em crise, o que também inviabiliza qualquer previsão de crescimento mais denso para nossa indústria este ano”. •

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