Filamento bom de boca

Impressão 3D prepara aposentadoria do gesso na modelagem de arcadas dentárias

Quem diria, o milenar gesso está na reta para acabar engessado num de seus mercados mais cativos e imemoriais: a modelagem artesanal de arcadas dentárias. Os protéticos já sentem este pisão no calo dado pela sondagem em curso da impressão de plástico em 3D, ofensiva desatada no Brasil pela Monster, fabricante de filamentos para a chamada manufatura aditiva e uma divisão da transformadora de injeção Companhia Brasileira de Embalagens (CBE). “A saída para quem produz modelos de gesso é migrar para a impressão 3D e prestar serviços às clínicas dentárias que não desejam ter o equipamento”, sustenta Klaus Gargitter, chefe de operações da Monster. “Nem todas elas estão dispostas a investir na impressora e em pessoal treinado para operá-las, pois o processo de utilização não é simples”. Na realidade, ele reitera, ainda são bem poucas as clínicas radiológicas dotadas de impressoras 3D, discrição justificada pelo fato de a tecnologia ainda engatinhar por aqui. “Estimo que apenas 1% delas já opere com fluxo digital e, motivados por entrar no ramo nesse estágio embrionário, estamos desenvolvendo materiais para o segmento. O futuro é promissor”.

A viga-mestra da prospeção iniciada sem alarde pela Monster, pondera o dirigente, é colocar a tecnologia digital a favor da evolução da odontologia. “Os métodos de avaliação e diagnóstico migram com rapidez para o fluxo digital, com uso de scanners intra-orais”, ele esclarece. A impressão 3D reluz nesta vanguarda mediante o emprego de filamentos (FDM) com o intuito exclusivo da produção de modelos ortodônticos para estudo, quintal histórico do gesso. Como trata-se de aplicação na qual os materiais não entram em contato com o paciente, frisa Gargitter, a tecnologia FDM prescinde de credenciamento de órgãos regulatórios como a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Boca livre, portanto, para os filamentos.

No fluxo tradicional, explica Gargitter, o dentista esculpe dentes em cerca de 22 minutos trabalhando com moldeira e massa (alginato). “Uma vez retirado da moldeira, o molde segue para a produção dos modelos de gesso, etapa que, se bem sucedida, demora em torno de dois dias. “Compreende desde a formulação do gesso à secagem”, diz. Para engrossar o caldo, entre o envio do molde e o retorno do modelo em gesso pode levar uma semana. “O custo desse processo ronda R$ 25,00 por boca, computando-se o tempo e os gastos com a moldeira, alginato e da versão em gesso”, estima o técnico. Em contraste, o tempo cai de forma drástica quando o scanner intra-oral é ligado. “O escaneamento de um paciente fica na faixa padrão de sete minutos e gera um arquivo STL adequado à impressão 3D”, situa Gargitter. “Para a produção do modelo ortodôntico, o arquivo passa pelo processo de colocação da base e nome do paciente, etapa realizada em 12 horas em média, inclusa a geração do gcode para impressão”.

Uma boca requer, em média, três horas para ser impressa, conforme o tamanho da arcada e qualidade da impressora e do filamento empregados. “Em dois dias, é possível ter o modelo impresso pronto, por R$ 22,00 cada boca no caso de a clínica dispor de impressora”, projeta Gargitter. “Quanto às clínicas que terceirizam a impressão 3D, o trabalho pelo fluxo digital resulta em economia logística, pois a arcada resultante dos filamentos é muito mais leve que a de gesso”. Em geral, ele nota, dentistas não possuem o scanner intra-oral por carecerem de volume de trabalho suficiente para justificar a compra e manutenção dessa ferramenta, razão pela qual as clínicas radiológicas centralizam, com sua estrutura adequada e investimentos em equipamentos de ponta, a oferta deste escaneamento. “O scanner intra-oral é muito mais preciso que a moldagem com massa e, no processo tradicional, o molde corre risco de deformar durante a retirada da boca do paciente”, compara Gargitter.

A Monster ainda não deparou com concorrência importada para seus filamentos em modelos ortodônticos, por tratar-se de aplicação ainda recente por aqui, entende Gargitter. E são complexas as entrelinhas do filamento adequado. “Ele deve ter baixa variação dimensional, para a arcada não apresentar variações ao longo da impressão, e exige-se para o material do filamento um bom contraste, para o dentista visualizar os detalhes dos dentes, e um comportamento reológico apto para altas velocidades de impressão. Ou seja, assegurar a manutenção do extrusado no diâmetro do bico, com baixo inchamento. Caso o material impresso não corresponda, surgirão problemas como rachaduras, por falta de adesão entre as camadas”. A Monster desenvolveu uma formulação cumpridora à risca de todos esses requisitos. “Nosso filamento é um composto de copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) e cerâmica, comercializado sob o nome ABS Premium Marfim, bem mais resistente à queda que o gesso”, garante o chefe de operações da empresa e guitarrista de heavy metal nas horas vagas. “Ainda estamos trabalhando na melhoria desse composto, mas ele já mostra excelente comportamento na impressão a 180 mm/s”. Um desempenho para deixar qualquer gesso com dor de dente. •

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1 Comentário

  • Prezados,
    Tendo estudado o assunto por um breve período, um dos problemas que persiste na moldagem em 3D é que quando é feito o modelo ortodôntico ou ortopédico funcional, estes são feitos em resina Acrílica partindo do PMMA (Poli-Metil-Metacrilato) que polimeriza em líquido acrílico auto-polimerizante para colocação dos filamentos de aço. Este modelo ortodôntico/ortopédico em contato com a moldeira feita impressa em 3D com cordão resina ABS (já foram testados também em PLA – Poliácido Lático, Poliamida e ABS+PC), acontece a adesão da moldeira com o aparelho ortodôntico e ainda não se encontrou um isolante adequado e funcional (custo/benefício). Quando a moldeira é feita em gesso, usa-se o Alginato de Sódio como isolante do Acrílico onde sua funcionabilidade é 100% aprovada e adequada. Na procura por um isolante adequado entre o ABS e o Acrílico, já se testaram diversos tipos de ceras, parafinas (micro e macro), seladoras, óleos, verniz, emulsão em PVA e nenhum deles isolou de forma adequada e permitiu a retirada do aparelho de forma intacta. Se esse problema não foi solucionado, ainda teremos que buscar uma solução adequada para isso.

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